"Como faço uma escultura? Simplesmente retiro do bloco de mármore tudo que não é necessário." Michelangelo.
Sempre que alguém acha uma lâmpada maravilhosa e “aciona” o gênio, ele sai em forma de fumaça do receptáculo para fazer a célebre pergunta: “qual o seu desejo, amo?”. O que me chama a atenção, é que o anseio do bem-aventurado sempre trata de algo grandioso, como bens, fortuna e sucesso. Nunca li em nenhuma destas fábulas, ou ouvi qualquer anedota do gênero, em que o “amo” dissesse, de forma resignada: “quero encontrar paz”; ou, “desejo ser generoso”; ou ainda “sinto a necessidade de ser simples”. Invariavelmente, todos os que são inquiridos pelo gênio apresentam uma lista fantástica de coisas estupendas!
E você? O que você faria se encontrasse o gênio da lâmpada? O que você pediria a ele: coisas ou virtudes? Como não creio em gênios, fiquei pensando se Deus me aparecesse e fizesse a dita pergunta, o que eu faria? Certamente, pediria algo grande! Aliás, eu primeiro indagaria, com respeito ao Todo Poderoso, quantos desejos poderiam ser atendidos, pois, em se tratando de sonhos, os meus são sempre enormes... Confesso: nunca tive vergonha de sonhar. Sou um sonhador convicto e, provavelmente, incurável.
Quando penso em realizar coisas para Deus, nunca projeto coisas pequenas, singelas, despercebidas. Sei que a oferta da viúva pobre foi a que mais impressionou a Jesus, mas creio não ter sido por conta do valor monetário, e sim pelo significado de que ela deu, de coração, o melhor do que possuía, ofertou a si mesma e a tudo o que tinha.
O fato é que eu sou mesmo incorrigível: sempre penso em algo grande! Já me questionei, por diversas vezes, se a suposta “megalomania” não teria a ver com meus desejos pessoais, coisas da “carne”, no nosso “crentês”. Quem sabe para ser projetado, ou para receber elogios, ou, talvez, para provar, para mim mesmo, que sou capaz.
Em todas estas coisas há uma dose de verdade... Por certo, estes sentimentos já foram mais intensos quando eu tinha 20 anos. Aos 30 eles diminuíram paulatinamente. Hoje, aos 42, quase que se diluíram totalmente. É que nesta etapa do campeonato, com barba branca e sinais de rugas nos olhos, já não tenho mais nada a provar para ninguém. Pela graça de Deus, conforme Paulo, sou o que sou, e não me envergonho de quem me tornei, pelo contrário, tenho uma história com Deus, um caminho construído muito mais com perdas e dores do que com conquistas e vitórias. Quem me conhece que o diga...
Por isso, é bem provável que você nunca me encontre sendo piegas ou me servindo de hipocrisia e falsa humildade quando se trata de realizar algo. Não! Se me perguntar o que sonho para Deus, digo-lhe sem pestanejar: sonho com coisas grandes! E mais: não sinto qualquer desconforto com isso. Aliás, não tenho culpa de pertencer a uma geração que não sonha! Não me sinto desafiado a reproduzir a mediocridade dos que se acomodam e se satisfazem com pouco e, para tal, apresentam como desculpa o fato de que Deus aceita, de bom grado, tudo o que fazem para Ele, mesmo que seja sem qualquer esmero. A verdade é que não desejo nunca usar minha agenda como desculpa, ou minhas limitações pessoais como álibi para não realizar aquilo que, creio, posso fazer!
Recentemente ouvi uma frase que me deixou encafifado: “prefiro segurar doido a empurrar acomodado”. Quem dera ter mais “doidos” na Igreja! Quem dera ter gente mais empolgada, apaixonada, sonhadora. Quem dera ter tantos poetas como temos “profetas”; a Igreja seria um lugar melhor de se viver. Quem dera ter gente desprendida, como temos avarentos, gente comprometida, como temos displicentes, gente com espírito sacrificial, como temos negligentes. Ah, quem dera...
Sonho com o dia em que nossas ambições sejam a de ganhar almas mais do que a de ganhar dinheiro. Acredito que ainda verei o dia em que aqueles que receberam “10 talentos” os ponham para render para o seu Senhor, e não para si mesmos. Almejo ainda estar vivo no momento em que nossos tesouros estejam apenas em “vasos de barro”, e não em ações da bolsa de valores. Sim, irmãos, não me custa nada sonhar...
Por isso digo: grande Michelangelo! Nunca via a pedra bruta, sem forma, sem beleza, sem propósito. Pelo contrário, onde ninguém observava coisa alguma, ele enxergava uma escultura magnífica! Tudo o que era necessária era retirar da alma e do coração toda a pequinês, mediocridade, apatia, conformismo e preguiça.
Que Deus levante entre nós homens e mulheres que sonhem! Gente que olhe para uma casa velha e veja nela um centro de recuperação de drogados. Gente que olhe para lugares abandonados e veja escolas de formação profissional. Gente que olhe para um bom ponto comercial e não veja apenas uma loja, mas uma livraria, ou cafeteria, um lugar para abrigar gente, com boa música, onde as conversas possam acontecer, onde os valores do Reino possam ser fomentados de forma criativa e inusitada no coração das pessoas.
Sonhar é preciso! Por isso sonho, e não me satisfarei com pouco, mas estarei sempre agradecido por tudo aquilo que o Pai me permitir realizar. Empreenda, almeje fazer coisas extraordinárias, pois, como disse o Pessoa, “tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Quero conquistar o bairro onde estamos plantados como Igreja! Desejo que nossa comunidade seja relevante na cidade onde estamos! Peço ao Senhor que nossa visão e missão se espalhe pelo nordeste! Trabalho duro para, um dia, poder influenciar os que habitam em meu país.
Lembro-me que, em 1991, fui a um congresso em Brasília para ouvir o Dr. Myles Monroe, o influente pregador das Bahamas. Naquele encontro, ele nos trouxe uma palavra que tratava de nosso potencial. A mensagem era um resumo de seu livro “Understanding your Potencial” – “Entendendo o seu Potencial” que, mais tarde, se tornou um livro com grande vendagem em todo o mundo.
Naquela manhã de verão, o Dr. Myles perguntou a platéia de mais de 3.000 pessoas: “qual o lugar mais rico da terra?”. As respostas foram surgindo: “o conglomerado de Wall Street”; “os poços de petróleo do Oriente Médio”; “os museus da Europa”. Para todas elas, entretanto, o pregador balançava a cabeça em sinal negativo. Por fim, ele afirmou: “o lugar mais rico da terra é o cemitério. Sim, lá estão enterrados negócios que nunca foram abertos, projetos que nunca foram realizados, livros que nunca foram escritos, músicas que nunca foram compostas, obras de arte que nunca se materializaram. O lugar mais rico da terra é o cemitério, pois lá estão enterrados os sonhos das pessoas”. Albert Schweitzer disse certa vez: “a tragédia do homem é o que morre dentro dele enquanto ele ainda está vivo”. Sim, a pior coisa do mundo é gente que morre “grávido” de seus sonhos!
Quando o Dr. Myles terminou sua preleção, eu estava ajoelhado com meus olhos encharcados de lágrimas, pensando quais eram os meus sonhos. Podia ouvir ao fundo o cantor Asaph Borba cantando a canção que dizia: “minh’alma engrandece ao Senhor, meu espírito se alegra em Deus, meu salvador. Pois com poder tem feito grandes coisas, e com misericórdia tem mostrado amor...”.
Meu corpo estava curvado, meu coração contrito e meu espírito quebrantado. A canção havia terminada e um silêncio gostoso imperava no auditório. Depois de alguns minutos, o Dr. Myles tomou o microfone e disse: “Não morra com Meus sonhos! Não morra com Meus sonhos!”. Todos sabiam que não era ele quem falava, era o Senhor.
Saí daquele lugar impactado. Voltei para Recife com desafios novos e com uma vontade incontida de ser útil aos propósitos de Deus. Disse a Ele em oração: “quero conhecer quais são os Teus desejos para mim, e quero me esforçar o tanto quanto possível para que eles se concretizem”.
De lá para cá, já se foram 18 anos... Caminhando no caminho que só pode ser feito enquanto se caminha, tenho visto muitos destes desejos se tornando realidade. Mais ainda é pouco! E digo isto porque creio que Deus ainda tem mais. Por isso continuo, como sempre, fazendo planos e sonhando, sonhando como nunca...
Sola Gratia !
Carlos Moreira
Adoração em tempo integral
Há 2 dias
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