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Jesus dizia a todos: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me. Lucas 9:23.

29 março 2011

"Odres" Novos, "Vinho" Velho.



Durante 20 anos ministrei louvor na Igreja. Sinto-me privilegiado por ter tido por referência toda uma geração de músicos e cantores que mudaram o sentido e o significado da utilização da música como meio de adoração a Deus.



Cresci ouvindo estes homens maravilhosos e suas músicas encantadoras! Guilherme Kerr, Jorge Camargo, João Alexandre, Sérgio Pimenta, Gerson Ortega, Asaph Borba, Adhemar de Campos, Benedito Carlos e Nelson Bomilcar. Com eles aprendi sobre o significado de rendição, quebrantamento, humildade, espírito sacrificial, paixão, coisas que se tornaram obsoletas quando tratamos da música em nossos dias...


Já faz oito anos que não ministro louvor. Mas no meu entendimento, há pelo menos quinze o ministério da adoração perdeu totalmente o seu propósito e significado. Música no meio cristão tornou-se artigo de entretenimento. Músicos viraram mercadores, cobram cachê para tocar, seja onde for, seja em qualquer lugar; cantores agora são “astros pop”, saem ovacionados dos estádios, tem produção profissional, vendem milhões de cd’s e dv’s no eletrizante mercado da música “gospel”.

Tenho apenas 44 anos, mas sou do tempo em que os jovens se reuniam para ir a um ginásio assistir a um culto com a presença dos Vencedores por Cristo. Ali ouvia-se boa música, com letras que exaltavam a Deus e glorificavam a Cristo. Havia conteúdo teológico nas canções, não as baboseiras que ouço hoje. Foi cantando estas canções que aprendi sobre o Sangue, a Cruz, a Justificação, a Santificação, o Nascer de Novo. Nas músicas recitadas agora você chama Jesus para dançar, exige restituição do que é seu, declara que receberá tesouros na terra. É tanta asneira e tanta falta de entendimento que eu não sei como essa moçada consegue fazer “sucesso”.

E levaram a arca de Deus, da casa de Abinadabe, sobre um carro novo; e Uzá e Aió guiavam o carro”. 1ª. Cr. 13:7. Não sei se você conhece esta passagem. Ela trata da tentativa de Davi de levar a Arca da Aliança de Quiriate-Jearim, que estava em Judá, para Jerusalém. A intenção de Davi era boa, mas seu entendimento sobre como realizar tal feito era nenhum.

A passagem completa pode ser lida no capítulo 13 do livro de 1ª Crônicas. Davi havia acabado de ser conclamado Rei e teve o entendimento de que deveria trazer a Arca “pois nos dias de Saul não nos valemos dela”. O Rei sabia que aquele artefato era muito mais do que uma obra de artífice, mas tinha o significado da presença de Deus no meio do Seu povo. E Davi não queria começar a governar sem que o Senhor estivesse entronizado na tenda da congregação, no meio do tabernáculo.

Mas como se diz por aí, “de idéia boa o inferno está cheio”. Ao invés de consultar os Rolos Sagrados para averiguar como Deus havia ordenado que a Arca fosse levada, Davi partiu para a “inovação”. Enfeitou um carro de boi novo, colocou um bocado de penduricalhos, e depositou a Arca em cima dele. E fez mais: para dar um tom ainda mais imponente ao cortejo, pôs dois sacerdotes paramentados para comboiarem a procissão. O resultado foi trágico! O carro de boi tropeçou numa pedra quando, a caminho de Jerusalém, passava por um riacho, e Uzá, sacerdote do Deus altíssimo, tentando dar uma mãozinha a Ele, colocou a mão na Arca para que ela não se despedaçasse no chão. Foi o suficiente para acender a ira do Todo-Poderoso, o que fez com que ele fosse fulminado e morresse ali mesmo imediatamente. 

Naquele episódio funesto, houve três problemas. O primeiro é que a arca não podia ser levada num carro de boi, mesmo sendo ele novo e emperiquitado. A Arca tinha de ser levada por pessoas, alçada sobre seus ombros. O segundo problema é que a Arca não podia ser conduzida por qualquer um, mesmo que estes fossem sacerdotes, mas apenas pelos levitas, que eram os únicos qualificados e separados para tal ofício. Finalmente, o terceiro problema é que, não havendo discernimento da parte de ninguém, perdeu-se totalmente a percepção do que a Arca simbolizava, ou seja, a presença do próprio Deus! Esse foi o motivo de Uzá ter morrido, pois ele tocou não apenas num artefato religioso, mas na santidade do próprio Deus!

Há muitas lições a serem aprendidas nesta passagem. Quisera eu que os cantores e músicos de nossos dias pudessem compreendê-las. Vejo o que fizeram com o louvor e a adoração com tristeza e até pavor. Transformaram o que deveria ser um culto em um show, com direito a fumaça, luzes, som de última geração, marketing, produção, e toda a pirotecnia utilizada pelas bandas seculares. É o “carro de boi novo”, a parafernália “gospel” tentando compensar a falta de graça e unção com som estridente e plasticidade performática.

Em lugar de “levitas”, gente consagrada e separada para a adoração, ainda que não nos moldes do velho testamento, é claro, temos agora astros e estrelas de grande popularidade. Eles precisam de figurinistas, maquiadores, cabeleireiros, personal trainer, todo um aparato periférico para que possam brilhar quando subirem ao palco. Brilham mais do que Jesus! A eles, então, seja dado todo louvor e toda a adoração!

Confesso que nunca fui a um show destes. Tenho pavor de que Deus derrame fogo do céu e consuma tudo o que estiver embaixo. Tenho medo de “tocar na Arca” sem morrer. Essa gente, devo admitir, ou tem muita coragem ou é totalmente cega de entendimento. Eles banalizam o sagrado, roubam para si aquilo que não lhes pertence – pois a glória é honra para Deus, mas veneno para o homem. Quem dela se alimentar morrerá em meio a seus próprios devaneios. Aliás, o simples fato destes falsários não perceberem o que fazem já é o atestado de que há muito estão mortos em seus próprios pecados e cobiça.

Talvez você me pergunte: “há exceções?”. E eu lhes digo: “há. Mas são pouquíssimas...". Eu gosto de alguns grupos, e acho que eles fazem um bom "trabalho". Mas são periféricos justamente porque não "jogam o jogo", não pagam "jabá", não compram canções de poetas ateus e agnósticos, não se deixam produzir por figurões da cena musical nacional. Sim, gosto de gente como Vineyard, mas sei que eles não vendem aos milhões nem enchem estádios. Sou músico, já gravei, já produzi, sei do que estou falando. Aqui não está um teórico que fez uma pesquisa na net para escrever um artigo bobo. Conheço este meio, já comi poeira nesta estrada...

Sinto saudade das “velhas” canções do MILAD e dos Vencedores por Cristo! Sinto saudade dos hinos cantados nos cultos dominicais, herança histórica da igreja. Nada contra novos ritmos, instrumentos diversos, letras contextualizadas e melodias modernas, muito pelo contrário, sempre amei o rock’n roll. Mas no fundo o que eu gostaria mesmo era de ver “vinho novo” em “odres novos”, e não “odres novos” com “vinho velho”. Aliás, para ser sincero, este “vinho” já virou vinagre faz tempo – arg! E os “odres”, Deus me livre, há muito que se tornaram vasilha vazias...

Carlos Moreira

25 março 2011

Deus Está na Próxima Esquina


Um dos temas com os quais os pastores mais se deparam em momentos de aconselhamento é sobre a vontade de Deus. Em tais situações, é muito comum ouvirmos expressões do tipo: “pastor, qual é então a vontade de Deus para a minha vida?”.

Independentemente do tema, a intrigante pergunta sempre surge para nos colocar em situação difícil. Nestas circunstâncias, sinto-me como se fosse um oráculo, um intermediário do sagrado, um profeta de ocasião, alguém que tem de dar uma resposta plausível, pois, do outro lado, há alguém angustiado e inquieto aguardando o meu “parecer”.

Sem querer teologizar muito, e botando logo os pontos nos “is”, a vontade de Deus é de Deus, não é nem minha, nem sua, nem de ninguém. Já li muita coisa a este respeito sem, contudo, jamais me sentir satisfeito. Filósofos e teólogos criam explicações mirabolantes e sistematizadas para tentar tratar de algo que, no meu entendimento, é “terreno de Deus”.

Os calvinistas vêem a vontade de Deus de uma forma, os arminianos de outra, os da teologia da prosperidade enxergam de um jeito, os da teologia relacional de outro. Há os que afirmam que Deus tem vontade descritiva – coisas pré-ordenadas, e vontade permissiva – coisas que ele tolera existir ou acontecer. Tem os que dizem que a vontade de Deus pode ser secreta ou revelada, dispositiva ou perceptiva, e por aí vai... É o homem tentando entrar nas profundezas do insondável.  

Em seu livro “A Soberania de Deus”, Arthur Pink nos dá uma pista de como o tema é denso e, talvez até, incompreensível: A vontade de Deus é Seu eterno, imutável propósito concernente a todas as coisas que Ele fez, para produzir certos meios para seus fins apontados: disto Deus declara explicitamente: "Meu conselho subsistirá, e farei toda Minha vontade" Is. 46:10.

Mas, afinal de contas, “qual a vontade de Deus para minha vida?”, pois esta é a pergunta que não quer calar. E eu respondo: “sei lá!”. Atrevo-me apenas a exprimir o que diz Paulo aos Romanos, que ela é “boa, perfeita e agradável”. “Pastor, devo casar com fulano?”; “Pastor, devo fazer tal curso”; “Pastor, devo mudar de cidade?”; “Pastor, devo aceitar tal emprego?”; “Pastor...”. Meu amigo, minha amiga, eu, simplesmente, não sei!

O que certamente sei é que esta forma de viver a vida cristã não me parece muito adequada. Mas a verdade é que a grande maioria quer respostas exatas para tudo, acha que na Bíblia há direcionamento sobre todas as questões da existência, espera que seus líderes os aconselhem precisamente em todas as suas indecisões. Ora, isso simplesmente não existe! E é por isso que tanta gente quebra a cara por aí e depois fica culpando Deus, o Pastor, as Escrituras, a mulher, o marido, o amigo, e nunca a sua incapacidade de fazer escolhas próprias.

Para mim, a vontade de Deus está na próxima esquina. O que quero dizer com isto? Que o caminho com Deus se faz caminhando, e que uma coisa é saber sobre o Caminho e outra é caminhar por ele. Nós cristãos nos tornamos cada dia mais teóricos, mais retóricos, esquecemos que o convite de Jesus é para que andemos no “Caminho”, em verdade, pois, só assim, poderemos experimentar a verdadeira vida.

Quem caminha com Deus está construindo com ele uma história aqui na Terra. Enquanto estou, na estrada da existência, “seguindo” a Deus, no encalço de seus passos, estou na realidade permitindo que em mim vá sendo desenvolvida sua soberana vontade, e isto em cada acontecimento do cotidiano, em cada circunstância que vai se “desenhando” no meu caminhar.

Mas, de repente, Deus vira a esquina! Eu olho para frente e não o vejo mais. A “cena” na qual Deus está continua acontecendo na “rua” por onde ele está seguindo agora, mas eu não consigo discerni-la, percebê-la, compreendê-la, pois sou incapaz de enxergá-lo neste momento. O que faço então? Sento e fico adorando a Deus até que ele se revele novamente? Jejuo até que seu caminho se desnude para mim? Oro para que ele me fale o que devo fazer? Consulto um profeta para saber o direcionamento correto? Sinceramente, isto não lhe parece absurdo? Mas é desta forma que muitos estão vivendo.

Ora, de fato, a uma única coisa a se fazer é ir até a esquina e, avistando o “caminhar de Deus”, retomar novamente o seguir os seus passos, ou seja, inserir-me outra vez como parte da “cena” que continuou se desenrolando independentemente da minha presença. Preciso querer estar com Deus, e não apenas saber de Deus.
   
De uma coisa estou certo: “Aquele que faz sempre o que quer, raramente faz o que deve”. Pierre Beauchêne. Ora, se você quer fazer a sua vontade, porque pergunta para mim qual a vontade de Deus? E mais: se você quer fazer a vontade de Deus, porque pergunta para mim o que deve fazer?

Deus está caminhando – “se alguém quer vir após mim...” – siga-o! Se ele virar a esquina, vire também. Se for reto, vá com ele. Se for rápido, corra. Se diminuir a marcha, vá mais devagar. Lembre-se apenas de algo: tente nunca o perder de vista, pois isso seria uma grande tragédia em sua vida. Agora, se isto acontecer, ainda há algo a ser feito: procure algum "representante do sagrado" pergunte para ele: "pastor, qual a vontade de Deus para a minha vida?”...

Carlos Moreira

24 março 2011

Sob Pressão


A semana passada estava em São Paulo a trabalho. Num dos compromissos que tive, visitei o diretor de uma grande multinacional da área de telecomunicações.

Depois de uma rápida espera, fui recebido. “Tenho pouco tempo”, disse-me logo na partida. Conversamos rapidamente. Falei sobre o que havia programado e, de súbito, minha abordagem foi interrompida – “esta semana demiti 14 pessoas. Disseram-me que não vai haver reposição, pois trata-se de redução de custos. Tenho de fazer mais com menos. Não estou dormindo bem nem me alimentando adequadamente...”. 

Após um silêncio desconfortável, voltamos à tratativa original... Terminei a abordagem. Ele agradeceu, disse que ia analisar e retornaria. Eu, contudo, saí daquele lugar com duas certezas: (1) aquele homem não vai comprar o que eu fui vender; (2) estive por alguns minutos diante de uma das pessoas mais angustiadas de toda a minha vida.

Sob pressão. As pessoas estão sob forte pressão. Lembrei da famosa música da banda inglesa Queen “Under Pressure”. Ela foi composta em 1981, no auge da guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética. Naquela década, o “conflito camuflado” ganhou contornos mais fortes por causa do aumento da corrida armamentista, motivada, sobretudo, pelo projeto “guerra nas estrelas” do Presidente Reagan.

A tensão daqueles dias era enorme. Numa das frases da canção podia-se ouvir: “É o terror de saber a que ponto chegou o mundo. Observo alguns bons amigos que estão gritando: "deixe-me sair!”. Pensei comigo mesmo: era este o sentimento daquele homem com quem estive a pouco. Ele estava tentando me dizer: “deixe-me sair”.

Também tenho vivido dias difíceis... Às vezes acho que não vou suportar. É pressão de todos os lados. Em qualquer direção para onde me viro, há algo me “comprimindo”. O apóstolo João dizia em seu tempo: “os dias são maus”. Talvez, se vivesse hoje, diria: “os dias são insuportáveis”.   

Questão: o que fazer para lidar com isto? Pressão de todos os lados. Pressão de ter de ser o melhor, o mais rápido, o que vende mais, o que chega primeiro, o que tem as melhores idéias, o que bate primeiro as metas, o que consegue mais clientes, o que gera mais resultados, o que tem a melhor formação, o que é mais competente... Me diga, com sinceridade, dá para suportar?

O que sei é que eu já vivi o suficiente para saber o que a pressão gera nas pessoas. Além de gastrite, insônia, ansiedade, desconforto torácico, dores abdominais, boca seca, dor de cabeça, dentre outros sintomas, a pressão gera dois problemas perigosíssimos para a fé: a auto-suficiência e a alienação. O primeiro trata da ilusão de acharmos que nós é que fazemos tudo acontecer, que os resultados são fruto apenas de nosso esforço. O segundo nos leva a crer que a existência é uma corrida de cem metros, que o importante é como você começa, e não como você termina, que as coisas são como são, que tudo se restringe ao aqui, ao agora, a este mundo, as realidades tangíveis, mensuráveis e concretas. Tudo engano... Tudo falácia...  

Em sua carta aos Filipenses, Paulo nos apresenta dois remédios para estes males. “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os seus corações e as suas mentes em Cristo Jesus”. Fp. 4:6-7.

Para destruir nossa auto-suficiência ele nos recomenda orar. Na verdade, fala de orar intensamente, suplicar. A oração é o reflexo de um coração que aprendeu a depender de Deus, que sabe que a vida não é ganha no “muck”, no braço, no talento ou na inteligência. Lembrei de Bill Hybel e o seu livro “Ocupado Demais para Deixar de Orar”. Sim, quem está no meio de uma grande luta, debaixo de intensa tribulação, como bem disse Rick Warren, não se dará ao luxo de ficar relaxado, despercebido, anestesiado. Não. Ele vai dobrar os joelhos e buscar a Deus com o mais íntimo de sua alma, ele vai derramar toda ansiedade e toda inquietação sobre aquele que pode apaziguar suas guerras e lhe dar quietude no ser.

A outra coisa que Paulo nos ensina é sobre viver em paz. Ele fala da paz que vence o entendimento. Trata-se, na verdade, do desafio de viver de forma diferente, baseado em princípios mais elevados. Veja o verso 8: “tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama...”. São estes valores que nos ajudam a suplantar as sistematizações e racionalizações as quais estamos expostos, pois eles nos alçam para além das circunstâncias, nos dão tranqüilidade mesmo em meio aos fatos mais negativos e perversos do cotidiano.

Quando saí daquela empresa e entrei no taxi para voltar ao escritório, fiquei pensando que certamente o que aquele homem precisava naquela tarde não era ouvir o discurso de um executivo de tecnologia, mas escutar uma palavra acalentadora de um discípulo de Jesus Cristo. E eu às vezes ainda penso que meu ministério não é de tempo integral...      

Carlos Moreira

18 março 2011

Bolas e Bolos


Eu sou do tipo que só lembra o próprio aniversário por intermédio dos outros. Nunca me preocupei demasiadamente em comemorá-lo.

Talvez isso aconteça porque eu considero a minha existência como um todo e não como uma seqüência de partes no melhor estilo cartesiano. Penso no relógio e não nos mecanismos que o compõem.

Olho sempre para o fim e nunca para o meio. Os meus olhos não se impressionam com o que eu sou e com o que vejo, mas fixam-se naquilo que eu ainda verei e virei à ser.

Contudo, este ano algo diferente aconteceu. Por um momento voltei-me para onde eu estou e não apenas para o lugar onde estou indo.

Costumo fitar as torres ao longe com os seus topos cortando o céu distante, hoje, entretanto, olhei-as de baixo, contemplei a dificuldade em escalá-las ao mesmo tempo em que constatava que agora eu já estou mais próximo do cume do que antes.

O nosso aniversário lembra-nos a nossa missão e o sentido da nossa existência. Sem sentido existencial não há aniversário, apenas festa vazia, bolas e bolos.

Eis aí a função das festas de aniversário: sinalizar em que ponto do caminho estamos. Os aniversários são como estações que nos lembram a proximidade ou distância que no encontramos do nosso destino final.

Cada comemoração de aniversário representa uma porta para um próximo estágio. Por isso mesmo as festas de aniversário são momentos de reflexão, porque representam uma intersecção entre dois mundos.

Eu nunca havia comido um bolo tão gostoso como aquele que os meus alunos me presentearam hoje, dia do meu aniversário. Sou professor, e como tal, existo para os meus alunos, aqueles a quem fui enviado para ensinar.

Penso, porém, que em breve ensinarei a um número bem maior de alunos. Certifiquei-me disso hoje mais uma vez, quando mordi aquele bolo. Ele tinha gosto de multidão.

André Pessoa

14 março 2011

Carnaval e Cristianismo


O carnaval é a antítese do cristianismo. O reinado de Momo inverte toda a lógica cristã e subverte a ordem das coisas proposta pela igreja.

Enquanto o cristianismo louva o comedimento, o carnaval brinda o excesso. A frugalidade é o ensino cristão, a extrapolação é a tônica do carnaval.

Durante o carnaval não existe pecado e nem pecador. No carnaval “o homem é Deus”, criador, onipotente e sem limites, brindando à vida enquanto tilintam as taças cheias de prazeres.

O cristianismo prega a vida eterna, o carnaval a eternidade da vida (ainda que ela só dure quatro dias). Aquele olha para o céu, este se volta para a terra.

O carnaval subverte toda a ordem, o cristianismo se esforça por mantê-la. O cristianismo é a norma, o carnaval a reviravolta, o mundo de ponta-cabeça!

O cristianismo, platônico que é, exalta o espírito e as idéias puras. O carnaval, por sua vez, nietzscheniano em sua essência, dá ênfase a carne, ao dionisíaco e não ao apolíneo.

O carnaval é a festa do mutável, da transformação, das múltiplas faces expressas nas inúmeras fantasias. O cristianismo cultua o dogma, o imutável, o estático, a permanência.

O cristianismo é recolhimento e solidão, é retiro espiritual, é quietude monástica. O carnaval é multidão, é contato, é fusão de corpos e almas.

O carnaval é a festa daquilo que é concreto e palpável, enquanto o cristianismo honra o abstrato. O cristianismo gosta do que não vê, o carnaval se entorpece com o que toca.

Confesso que nem me empolgo demasiadamente com o carnaval e nem reverencio o cristianismo. O que eu gostaria mesmo de ver era um carnaval mais cristão e um cristianismo menos carnavalesco. Seria isso possível?

André Pessoa

10 março 2011

Não Siga Mapas. Faça Mapas!


Desde cedo envolvido com a navegação, Cristóvão Colombo realizou suas primeiras viagens em Gênova, norte da Ítala. Durante 10 anos estudou na biblioteca do sogro sobre rotas marítimas e desenvolveu suas crenças na existência de novas terras. Convencido de que nosso planeta era esférico, propôs aos reis da Espanha uma viagem inusitada e, em 1485, eles resolveram acreditar no seu projeto.

Naquela época, não só Portugal, mas outras nações buscavam uma passagem marítima para o Oriente, com vistas a poderem comercializar diretamente com a Índia. E foi assim, guiado por este espírito empreendedor que Colombo, em 12 de outubro de 1492, descobriu a América, aportou no “Novo Mundo”.

O que esta ilustração do navegador genovês tem a nos dizer? Muito, sobretudo em tempos em que as pessoas deixaram completamente as Escrituras – mapas – e passaram a “navegar” em mares revoltos, levados por embarcações de “bandeira” duvidosa, sendo guiadas por “piratas” roubadores.

Lâmpada para os meus pés é a tua Palavra; luz para os meus caminhos”. Sempre acreditei que a Bíblia é uma bússola capaz de nos conduzir por todo tipo de rota, mesmo as mais perigosas. Ela pode livrar-nos das tempestades, dos rochedos, das correntes, bancos de areia e outras desventuras que levam muitas “embarcações” as ruínas.   

Francamente, só posso comparar o tempo atual com a era das trevas da idade média. Nesta fase negra do cristianismo, os livros, e com eles as Sagradas Escrituras, eram de acesso restrito ao clero, ficando guardados em conventos e monastérios. Isto obviamente tinha um propósito: manter a população ignorante, pois assim era mais fácil ela ser manipulada para crer em mitos, dogmas e outras superstições sem qualquer questionamento. Melhor para a “igreja”, que dominava não só a religião, mas também a política; mandava no “reino dos céus” e nos reinos da Terra!

A “farra”, todavia, terminaria em 1517, com a Reforma Protestante. Marinho Lutero, o pioneiro “contraventor” e proponente das principais mudanças, tinha como uma de suas principais preocupações colocar a Bíblia nas “mãos do povo”. Assim, traduzida para o vernáculo alemão e, impulsionada pela imprensa de Guttemberg, as Escrituras em pouco tempo já podia ser lida em inglês, francês e espanhol.  

Passados alguns séculos, com o que nos deparamos? Caos! O esforço de milhares de pessoas que deram suas vidas para que exemplares da Bíblia pudessem chegar até nós é tratado com desdém e desprezo pela grande maioria dos cristãos. Como pastor, já me acostumei a ver as famílias chegando à igreja sem que nenhum de seus membros traga nas mãos um único exemplar que seja das Escrituras.

Este afastamento, obviamente, trouxe conseqüências. E quais são elas? Uma legião de incautos, de ignorantes espirituais, bebês necessitados de leite, pessoas facilmente manipuladas e levadas por qualquer “vento de doutrina”. Ora, não há cenário mais favorável para florescer todo tipo de heresia e seitas as quais movem milhares de pessoas em torno de seus interesses econômicos, off course! Manipular o sagrado sempre foi um excelente negócio e os “piratas do caribe” sabem muito bem do que estou falando...

Quanto a vocês, a unção que receberam dele permanece em vocês, e não precisam que alguém os ensine; mas, como a unção dele recebida, que é verdadeira e não falsa, os ensina acerca de todas as coisas, permaneçam nele como ele os ensinou”. 1ª Jo. 2:27.

Este é um dos textos da Bíblia mais mal interpretados que eu conheço. Sobre ele já vi todo tipo de esquisitice: há os que afirmam que só pessoas batizadas no Espírito Santo conseguem entender a Bíblia; outros dizem que agora já não precisam mais de mestres nem de quem os ensine, pois são capazes de entender qualquer coisa. Eu, todavia, afirmo como diria Aristóteles, “a sabedoria está no centro”...   

Se você prestar atenção ao texto todo, verá que o problema é facilmente resolvido. Veja o verso 24: “Quanto a vocês, cuidem para que aquilo que ouviram desde o princípio permaneça em vocês...”. Ou seja, João está afirmando que ambas as coisas são importantes: o ensino que é transmitido pelos “mestres” da igreja, e também a unção do Espírito nos guiando a verdade através da revelação das Escrituras.

Mas o que temos hoje? Temos o show da fé! Temos o banho de sal grosso! A água do Jordão! A sessão do descarrego! As maldições hereditárias, “curas interiores”, rosa ungida, pseudo milagres, catarse como manifestação de adoração, fanatismo como prática institucionalizada, cegueira como meio de se perceber a “verdade”, consciências cauterizadas, ouvidos tapados, olhos vendados. Chega de tudo isto! Não siga mapas. Faça mapas!

Na minha opinião há três fatores que corroboram para o cenário atual: (1) a acomodação da grande maioria dos cristãos, que delega aos seus líderes a condução de suas vidas e a atribuição de toda a responsabilidade a eles por aquilo que devem ou não fazer; (2) o eterno jogo de empurra, ou seja, a falta de disciplina para uma leitura sistematizada e profunda das Escrituras, uma vez que isto leva tempo, exige local adequado, material de apoio, etc.; (3) o retorno ao clericalismo medieval, que nada mais é do que pastores e líderes acharem-se os únicos capazes de ler e interpretar a Bíblia, passando para o povo aquilo que eles acreditam ser a “verdade”.

Identificar as causas é fácil; corrigir o problema não. Aliás, a solução passa por um conjunto de ações que levam tempo e exigem esforço para ser implementadas. Deixar este tema para depois é investir no total desaparelhamento da liderança leiga das igrejas, no desmantelamento das EBD´s, no esvaziamento dos discipulados ou pequenos grupos, e na falta de interesse dos crentes a freqüentar cultos de doutrina ou atividades correlatas.

Não sei se você já notou, mas existem muitos “navios piratas” navegando nos mares por aí. Sua bandeira não é a cruz, mas a caveira, seus comandantes não são pastores, mas lobos vorazes, seu desejo não é o de desvelar “tesouros” para a alma, dádivas para o coração, bênçãos para o ser. Muito pelo contrário, eles estão atrás de ouro, prata e bronze! Por isso, cuidado com a carteira! Quanto a mim, já tomei minha decisão: vou ficar bem longe de tudo isto... Tenho medo de ser fotografado ao lado dessa gente, como se fosse “papagaio de pirata”. Credo!

Carlos Moreira

08 março 2011

Cinzas, Silêncio e Solidão



A nossa vida é um carnaval
A gente brinca escondendo a dor
E a fantasia do meu ideal
É você, meu amor

Sopraram cinzas no meu coração
Tocou silêncio em todos clarins
Caiu a máscara da ilusão
Dos Pierrots e Arlequins

Essa marchinha famosa – Turbilhão – talvez você não saiba, é de autoria de Moacyr Franco. Dela transcrevi apenas uma parte, a que melhor expressa o que penso em relação à festa de Momo.

Hoje é quarta feira de cinzas, e com ela o carnaval termina. Foram dias maravilhosos, de alegria, euforia, emoção, festa, encontros e felicidade. A grande maioria da população brasileira esperou o ano inteiro para poder “celebrá-la”. Aliás, dizem os especialistas, nosso país só começa mesmo a “funcionar” depois das festividades.

De fato, como na marchinha do Moacyr, a vida do brasileiro é um carnaval. Mas diferentemente das frases utópicas citadas acima, a festa se presta apenas a esconder a dor. Na verdade, não só ela, mas também o desespero, a angústia, o medo, a solidão, a falta de ideal, o esvaziamento do ser, o abandono da alma. Cinco dias de “folia” para extravasar tudo aquilo que se acumulou na consciência e tornou-se entulho no coração durante um ano inteiro. Convenhamos, é pouco...

Mas vamos celebrar! E celebraremos o que? Eu não sei... Talvez as adolescentes totalmente embriagadas, vomitadas de cerveja, jogadas num canto das ladeiras de Olinda ou abandonadas no fundo do salão de um clube qualquer. Garotas sem pais, sem família, sem amigos, sem perspectivas, sem sonhos, usadas como diversão nas mãos de gente matreira, pedaços de carne para se apalpar, beijar, lamber, saborear, transar... Depois vem a realidade crua e fria: descarta, joga no lixo, ninguém é de ninguém.

Quem sabe celebramos a vida dos garotos que consomem lança perfume, cocaína, maconha, crack e bebida alcoólica para ficar “ligados”, “espertos”, fazer “bonito” diante dos amigos. Aí vem aquela doideira, o estado propício para dar uma garrafada em alguém, para juntar um bando e começar uma briga, desferir golpes que destroem faces, roubam sonhos, ceifam vidas. 

Talvez estejamos a celebrar o beijo vulgarizado, a futilidade elevada à enésima potência, a vaidade alçada ao platô mais alto, a sensualidade derramada como perfume barato, à vulgaridade posta como alto estilo, o ser humano transformado em “besta”, animal não racional, ou como bem disse o Alceu Valença: “bicho maluco beleza”!  

Não seja tímido! Ainda há muito mais a se celebrar... Não esqueçamos o sexo descompromissado, as orgias, o "amor" feito nos motéis, com dois, com três, com vários. E ainda tem os bailes, sexo ao vivo, ali mesmo no salão, ou a “pegação” dentro do carro, no meio da rua, no canto do muro, detrás do matagal. Vale tudo! E vale mesmo! Ultrapassa até a letra do Tim Maia, que dizia que “só não vale dançar homem com homem e nem mulher com mulher”. No carnaval, pode homem com homem, mulher com mulher, travesti, transexual, bissexual, é sexo “livre, leve, solto”. O importante é ter prazer, não importa como, nem muito menos com quem.  

Celebremos também as mortes! Por que não? Morte por assalto, por estupro, por briga de bar, por briga de rua, por causa de mulher, por causa de homem, por causa de nada! Celebremos as mortes dos que sofreram overdose, dos que entraram em coma alcoólica e se foram, 
dos que pegaram seus carros, dirigiram velozmente, atropelaram transeuntes, mataram inocentes, chocaram-se com alguma árvore, ou com um poste qualquer. Ali deixaram esvair suas vidas: tenras, frívolas, fúteis... E o que vem em seguida? Apenas horror: o IML recolhendo corpos e os pais chorando na calçada e dizendo: “onde foi que eu errei”... Não esqueçamos ainda da legião de anônimos que se matou por causa da angústia, da solidão, da falta de paz, da falta de "chão".

Hoje é quarta feira, os clarins irão se calar, a máscara da ilusão vai cair, a vida vai nos chamar de volta a realidade, nossa consciência talvez acorde do sono profundo no qual mergulhou nestes dias. Sim, amanhã nos depararemos com o saldo na “conta”, a dor no peito, o vazio na alma, a ressaca moral, espiritual, emocional, a sensação de que nos coisificamos, perdemos nossa essência, nossa solução interior, nossa inteireza, nosso ser.

Aí talvez alguém diga: socorro! Fomos assaltados! Roubaram nossa alegria, nossa felicidade! Fomos arrastados pela multidão – não só dos blocos – mas pelo “sistema”, nos tornamos massa de manobra, sujeitamo-nos ao que não somos, experimentamos o que abominamos, curtimos o que nos dá náusea, achamos bonito o que é feio, chamamos de alegria o que produz morte e dor.

Mas saiba, alguém lucrou muito com isto! Você tem alguma idéia quem foi? Além do mais,  não se engane, na festa de Momo, há uma enorme indústria lucrando por trás de cada manisfestação, seja a que acontece nos palcos, nos trios, nos blocos, nos salões ou nos desfiles. Eles sempre ganham, você sempre perde...        
Finalizo com outra marchinha de carnaval. Esta é do Luis Bandeira, tão famosa quanto à primeira, também não menos real. Lamento informar, mas restaram apenas cinzas, silêncio e solidão. Os confetes ficaram no salão, vão para o lixo mais tarde...

É de fazer chorar
quando o dia amanhece
e obriga o frevo acabar
ó quarta-feira ingrata
chega tão depressa
só pra contrariar


Com respeito a quem gosta do carnaval, sinceramente, espero que tenha valido a pena... Mas posso lhe afirmar, com absoluta certeza, não valeu não...

Carlos Moreira

03 março 2011

Deus


Um aluno me perguntou se eu já havia ouvido falar do físico indiano que “prova” matematicamente a não existência de Deus. Confesso que não, desconheço tal figura folclórica nascida no mundo de Brahma.

Para falar a verdade, eu não conheço e nem gostaria de conhecer ou ler qualquer coisa produzida por tal indivíduo. Essa história me cheira a sensacionalismo e propaganda enganosa com o fim de ganhar dinheiro!

Embora eu não costume fazer juízos de valor precipitadamente, neste caso abrirei uma exceção. Eu não preciso ler um único artigo ou assistir a qualquer palestra do tal “físico de turbante” para saber que ele não passa de um espertalhão querendo ganhar dinheiro com a sua falsa ciência.

Talvez você esteja pensando: “como pode ele que criticou tanto a igreja e a religião agora se constituir advogado de Deus”? Não é este o caso, afinal de contas um Deus que precisa ser defendido por um ser humano não pode ser chamado de Deus. A história é outra. Explico.

Depois de estudar teologia durante oito anos e passar por várias experiências pouco convencionais, conclui que é impossível provar a existência ou a não existência de Deus. Qualquer tentativa nessa direção é perda de tempo (Tomás de Aquino que o diga!).

Deus não é um conceito passível de ser examinado através de método experimental. Algo que se costuma definir como eterno não pode ser delimitado e estudado criteriosamente como são os objetos típicos da investigação científica.
A eternidade não cabe em um tubo de ensaio. Nenhuma tentativa, por mais piedosa que seja provará a existência de Deus, mas os esforços iníquos para negá-lo também são empreendimentos fadados ao fracasso!

Deus é um daqueles conceitos cuja natureza incomensurável espalha uma névoa misteriosa ao seu redor. Só os fundamentalistas religiosos e os igualmente fundamentalistas ateus ainda não entenderam isso.

Quanto ao tal físico indiano que tenta provar que Deus não existe, acho que ele ora todos os dias agradecendo ao altíssimo por ele não existir. Só assim o nosso amigo ateu pode ganhar um dinheirinho.

André Pessoa via Século XXI

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É importante esclarecer que este BLOG, em plena vigência do Estado Democrático de Direito, exercita-se das prerrogativas constantes dos incisos IV e IX, do artigo 5º, da Constituição Federal. Relembrando os referidos textos constitucionais, verifica-se: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato" (inciso IV) e "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença" (inciso IX). Além disso, cabe salientar que a proteção legal de nosso trabalho também se constata na análise mais acurada do inciso VI, do mesmo artigo em comento, quando sentencia que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença". Tendo sido explicitada, faz-se necessário, ainda, esclarecer que as menções, aferições, ou até mesmo as aparentes críticas que, porventura, se façam a respeito de doutrinas das mais diversas crenças, situam-se e estão adstritas tão somente ao campo da "argumentação", ou seja, são abordagens que se limitam puramente às questões teológicas e doutrinárias. Assim sendo, não há que se falar em difamação, crime contra a honra de quem quer que seja, ressaltando-se, inclusive, que tais discussões não estão voltadas para a pessoa, mas para idéias e doutrinas.

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