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Jesus dizia a todos: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me. Lucas 9:23.

31 dezembro 2010

Fechado para Balanço!


Hoje é o último dia do ano, 31 de dezembro. Como de costume, estou na empresa, trabalhando. Às 12:00h., os funcionários serão liberados, pois precisam de tempo para chegar em suas casas e se preparar para as festividades da passagem do ano. Mas eu virei à tarde... Cumprirei um antigo ritual...

No último dia do ano tenho o costume de fazer um balanço de tudo. Sento-me no sofá que há no meu gabinete e fico meditando sobre as coisas boas e ruins que aconteceram. Enquanto isso, no player do computador, uma seqüência especial de músicas embala os meus devaneios...

Sozinho na sala começo a me sentir entorpecido, lentamente. Fico absorto, vou me desconectando do mundo. Para um executivo de tecnologia, trata-se de coisa difícil, pois minha rotina é outra. Acostumado às demandas do mercado, tenho sempre de tomar decisões, estar conectado o tempo inteiro. Mas, neste dito momento, pode tocar o telefone, pode bater a porta, pode soar o skype ou apitar o e-mail, pois nada, absolutamente nada vai me remover daquele sofá. Parei! Estou fechado para balanço.

 No meio empresarial, como se sabe, esta prática é muito comum. As empresas fecham,  mesmo que internamente ainda haja trabalho, pessoas contando estoques, outras liberando produtos para queima de saldo, uns lendo relatórios da contabilidade, outros do patrimônio, acionistas analisando gráficos, distribuição de lucros, ou de prejuízos – quem sabe – fato é que, para tudo, tudo mesmo, e fecha.

Quero lhe afirmar algo: você também precisa parar! Entorpecido pela festa, absolvido por comemorações, abraços, canapés e champagne, você perderá a grande oportunidade de fazer uma reflexão. Nela poderá observar seus equívocos, a forma grosseira como, por vezes agiu, algumas injustiças que cometeu, mentiras, falsidades. Creia-me, um pouco de tempo será suficiente para trazer a tona sua insensatez, dissimulações, sua falta de prioridade com situações graves, sua frieza com pessoas queridas, seu descaso com a dor alheia, sua distância, até mesmo de Deus. Sim, meu amigo, preciso lhe dizer, nem que seja por um pouco de tempo, no último dia do ano, você precisa parar!

Examinemos e submetamos à prova os nossos caminhos, e depois voltemos ao Senhor”. Lm. 3:40. A frase solta não tem grandes significações... Não fosse a referência bíblica, poderia passar como conselho de auto-ajuda. Mais está envolta num contexto complexo, e foi proferida por um profeta, homem de dores, em meio a um canto fúnebre, uma lamentação, diante do desaguar das mágoas de sua alma que foi alcançada pela tragédia.

O livro de Lamentações, de onde a frase foi retirada, é atribuído ao profeta Jeremias. Ele tem como pano de fundo a destruição da cidade de Jerusalém pelo rei babilônico Nabucodonosor, cerca de 589 a.C. Seu texto, quase que exclusivamente, é um texto reflexivo, não obstante poético, que expressa uma dor visceral, o sofrimento de um homem que vê “sua” profecia se cumprir cabalmente.  

O escritor do livro de Lamentações descreve, em detalhes, os acontecimentos que se sucederam a catástrofe da queda da Cidade Santa: a fome, a sede, as matanças indiscriminadas, os incêndios, saques, além do exílio forçado do remanescente vivo para uma terra estrangeira. É o retrato da humilhação, do desespero e da angústia. Mas também do arrependimento, da súplica por perdão, de um sincero sentimento, ante a perda de todas as coisas, de fé e restauração.   

É diante deste cenário que o profeta adverte: “examinemos e submetamos à prova os nossos caminhos...”. Sim, façamos o que nos diz o profeta: examinemos os nossos caminhos! O que você fez este ano? O que deixou de fazer? Como ocupou o seu tempo? Em que envolveu o seu coração? São perguntas pertinentes, ainda que inquietantes, “pois onde estiver o teu tesouro, ali também estará o teu coração”.

Comparado a 2009, você saiu-se melhor? Tornou-se alguém melhor? Seu caráter foi aperfeiçoado? Seu coração dilatado? Sua consciência expandida? Sua alma está pacificada? Ou você deixou que as trevas invadissem teu interior, que crostas de ódio e rancor se alojassem nos recônditos do teu ser, que raízes de amargura crescessem para dentro de ti e, entrelaçadas a tua alma, produzissem dor e medo, ansiedade e solidão?

É tempo de examinarmos essas coisas e “voltarmos ao Senhor”. Nada está perdido. Mesmo o mais grave erro ainda pode ser concertado. Sim, talvez leve tempo, quem sabe anos, mas há esperança! É provável que você precise pedir perdão a algumas pessoas... Faça isso! Talvez, pensando numa nova perspectiva, tenha de tomar decisões difíceis... Tome-as! Não sei se será preciso rever alguns planos, ou construir novos caminhos... Mas ouse, tente, faça diferente! 

A existencialista Simone de Beauvoir afirmou “Se vivermos durante muito tempo, descobriremos que todas as vitórias, um dia, se transformam em derrotas”. Quero lhes confessar algo: não gostaria de viver o bastante para ver toda a minha vida como um grande equívoco! Seria insuportável, para mim, perceber, ao fim da caminhada, que meus dias foram gastos inutilmente, que tive uma vida fútil e frívola, seca e oca, desprovida de propósitos e significações.

Pelo contrário, minha esperança está em viver o que diz o salmista: “ensina-me a contar os meus dias de tal maneira que alcance um coração sábio”. Você sabe por que ele não pede para aprender a contar os anos? Porque o tempo, conforme Ovídeo, é o devorador de todas as coisas. Contar anos pode nos levar a perder de vista a possibilidade de, a qualquer tempo, mudar as velas do barco em direção a novos ventos.

Por isso, é melhor aprender a contar os dias, pois, assim sendo, será mais fácil e mais simples fazer as devidas correções nas rotas, nos mapas, mudar o rumo da nau, buscar outros oceanos, velejar por outros mares. Termino, pois, com Ivan Lins e sua belíssima poesia: “cortaram as amarras e os nós, deixando pra trás o porto e o cais, berrando até perder a voz, em busca do imenso, do silêncio, mais intenso, que está, depois dos temporais”. Feliz Ano Novo!

Carlos Moreira

30 dezembro 2010

Em 2011 Conquiste Você!

Embora eu goste das festas de fim de ano e aprecie as luzes coloridas iluminando as ruas, estou também convencido de que elas são muito propícias à hipocrisia e a futilidade. As festas de final de ano são como máscaras que usamos para dissimular o que de fato somos.

Pessoas que nos fizeram mal o ano inteiro abraçam-nos cinicamente com cara de Maria Madalena arrependida aos pés da cruz como se nada tivessem feito. Esquecem que o ano vai, mas as lembranças ficam!


Não que nós sejamos incapazes de perdoar uma ofensa sofrida ou alguém que nos feriu; o problema é que essa reconciliação momentânea, tão comum nas festas de final de ano, não passa de um gesto mecânico e irrefletido que em pouco tempo se mostrará como tal. É uma mera formalidade.


Além disso, há ainda a superficialidade dos votos de “muito dinheiro no bolso e saúde para dar e vender”. Essa frase é egoísta e mesquinha e leva-nos a crer que apenas essas duas dimensões da existência (a financeira e a física) são capazes de levar o ser humano à plena realização o que é um engano grosseiro.


Quantos mortos-vivos estão agora mesmo com os bolsos cheios de dinheiro e “saudavelmente” vazios por dentro. Enquanto o homem entender a existência em termos meramente materiais jamais se encontrará como ser vivente, responsável e com uma missão a cumprir aqui na terra.


Por isso neste final de ano eu desejo a você o que também quero para mim: QUE VOCÊ SE CONQUISTE EM 2011. Dentro de nós há um mundo muito maior do que tudo lá fora esperando para ser desbravado e conquistado; em nosso interior está em curso uma luta feroz da qual precisamos sair vencedores!


Para falar a verdade, conquistar-se é trabalho de uma vida e não de um ano; não quero lhe iludir. Entretanto, é preciso começar a nossa reconquista agora mesmo. Comece já.


Por onde começar? Comece olhando para você mesmo, comece se estudando, se analisando, prescutando o seu íntimo, perguntando se faz sentido fazer o que você faz, correr atrás das coisas que você corre. Impossível começar olhando para fora, é preciso olhar para dentro, para a alma.


Aliás, antes mesmo de nos auto-analisar é preciso deixar de lado as ilusões que nutrimos acerca de nós mesmos. Quem se acha muito bom, muito piedoso ou muito inteligente não vê necessidade de se conquistar.


A conquista de si mesmo é um processo lento e doloroso que começa com uma crise de segurança e leva-nos a um profundo sentimento de solidão que vai esmagando-nos lentamente. É preciso sentir-se só e desamparado para mudar; contudo como disse o sábio: “um grande sofrimento provoca uma grande reação”.


Que 2011 nos traga consciência, ou seja, um conhecimento profundo de nós mesmos e do mundo. Só a vida iluminada por uma consciência desperta nos salva a tempo de não naufragarmos no mar opressor e voraz dos hábitos mesquinhos do cotidiano e dos valores estéreis fomentados por quem não tem valor algum!


Em 2011 comece a conquistar você mesmo, diga não ao automatismo de uma existência desprovida de sentido, mas que insiste em brindar com o melhor champagne a passagem do ano quando na verdade não há nada a comemorar.


André Pessoa via Século XXI

29 dezembro 2010

Seria Lula um Novo Messias?


Ao ser homenageado na noite desta terça-feira em Pernambuco, estado onde nasceu, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou de mais uma despedida do cargo e afirmou que continuará ajudando a "resolver os problemas do Brasil". Fonte: O Globo.

Lula é um fenômeno, e eu o respeito por isso. Aliás, respeito-o como meu presidente, pois, ao menos uma vez, votei nele. Reconheço seus feitos, suas realizações, coisas concretas, mensuráveis, admiro o seu carisma incontestável, testifico como positivo o rumo que ele deu ao Brasil nestes últimos 8 anos.

De fato, tivemos um bom governo. Muito foi realizado, nem tudo o que era necessário, é claro, mas, sem utopias ou partidarismos, o que dava para ser feito. A pobreza diminuiu, o emprego aumentou, a visibilidade do país cresceu, os setores da economia melhoraram, alguns serviços básicos também.

Mas não vamos nos perder em ufanismos, deslumbres ou politicagem. Não vivemos no Haiti, é verdade, mas ainda estamos longe de ser o Havaí... Nossos juros são os mais altos do mundo, saneamento ainda é o sonho de consumo da maioria da população e tanto o Senado quanto o Congresso, nossas instituições democráticas mais expressivas, são “casas de horrores”. A violência urbana impera e, para tentar controlá-la, precisamos de uma overdose bélica que reuniu Exército, Marinha, as Polícias e o BOPE! A saúde anda mal das pernas, a educação é sofrível, a infra-estrutura ainda está bastante sucateada, e isto para não aprofundarmos muito...   

Mas, com tudo isto, ainda impressiona-me o Lula. Dizer que não teve competência e não dar-lhe crédito é idiotice de uma oposição burra. Por outro lado, não afirmar que colheu onde não plantou é negar o óbvio e o irrefutável. Se Fernando Henrique Cardoso tivesse “navegado” aos “ventos” e “marés” que teve o Lula, tanto internamente, quanto no campo internacional, talvez tivesse feito o mesmo ou, quem sabe, até mais.

Sei que esta é uma análise simplista, mas aqui está um empresário que conhece um pouco como a “máquina” funciona. Faço-a com isenção, pois apesar de me constituir ser político, não sou politiqueiro nem militante. Não sou filiado a nenhum partido, não defendo nenhuma bandeira, a não ser a bandeira do Reino de Deus, não carrego no peito nenhuma estrela a não ser a Estrela da Manhã, aquela que simboliza a Jesus, o meu Senhor.

Ontem saí tarde do escritório, como de costume. As ruas do Recife Antigo estavam apinhadas de gente. Todos queriam ouvir o presidente. Ao fundo, escutei gritos e ovações, mas o cansaço e mesmo o descaso me fizeram rumar passos largos até o estacionamento para pegar o carro e ir para casa. Mas hoje, depois de ler as matérias publicadas nos jornais, analisando o último discurso de Lula, cheguei a uma importante conclusão: Lula é um novo Messias! Você não acredita? Então, vejamos...

Lula “encarnou” como presidente após sucessivas derrotas em campanhas políticas. Todavia, sua persistência e a de seu partido o levaram, enfim, aos píncaros da glória, ao Palácio da Alvorada. Saiu do interior de Pernambuco, da fome, da miséria, da seca, da boléia do caminhão, do pau-de-arara, para ser operário na cidade de São Paulo, líder sindicalista, e, por fim, presidente da República. Invejável...

Depois de “encarnado” passou, então, a ser considerado a salvação do país. Em seus discursos e em todos os pronunciamentos, dentro e fora do Brasil, exibia-se a si mesmo como o único capaz de trazer a solução para os problemas da nação. Asseverava ter encontrado um Brasil espoliado, destruído, incapacitado e debilitado. Ao seu antecessor restaram apenas críticas, chacotas e desdém. Contudo, no “tempo oportuno”, "Deus", tendo misericórdia de tão sofrido povo, revelou Lula, o “salvador da pátria”.   

Em seguida, acompanhado por um competente gabinete de ministros – poderíamos até parafrasear como seus “apóstolos” – começou a por ordem na casa. Cuidou dos pobres, quebrou protocolos, investiu em favor dos menos favorecidos, manteve programas assistenciais importantes, criou outros, fez de um tudo para ajudar os excluídos e os despossuídos. Fato.

Num determinado momento, quando acusado de ser o diabo em pessoa, quando lhe atiraram pedras, quando pensaram em crucificá-lo e o responsabilizaram pelo maior escândalo da República – “O Mensalão” – calou-se. Numa atitude de “humildade”, preferiu retroceder. “Nunca soube de nada”, foi seu parecer. E mais, mesmo sendo acusado de todos os lados, perdoou os seus agressores e "deu salvo conduto" àqueles que lhe ofenderam e destrataram.

Finalmente, já na reta final, no último lampejo de seu governo, Lula consegue o feito inédito de eleger presidente a primeira mulher na história da nossa nação, Dilma Rousseff. Sai então de cena o homem; entra na história o mito. Lula “morre” para Dilma poder nascer! Enfim, “tudo está consumado”.

Mas no discurso de ontem, diante de uma platéia ensandecida, gritos emocionados, o nosso “messias” não resistiu e veio as lágrimas. E assim, de forma quase que profética, anunciou em alta voz: “eu voltarei”!

Foi aí que eu pensei: pronto, agora está tudo completo: a encarnação, a vida, a “morte”, a promessa de “ressurreição” e, em seguida, a volta. Fica, desta forma, uma pergunta que não vai querer calar, pelo menos durante os próximos 8 anos: não seria mesmo o Lula um novo messias? Menino, sei não viu....

Carlos Moreira

28 dezembro 2010

Feliz Ano Velho!


Não sei se você já leu “Feliz Ano Velho” de Marcelo Rubens Paiva, publicado em 1982. O livro é um relato verídico do acidente que o deixou tetraplégico a poucos dias do Natal de 1979.

Garotão Paulista, 26 anos, estudante de engenharia, bon vivant, Marcelo decide, após uma farra, dar um mergulho num lago com meio metro de profundidade. Fatal. A quebra de uma vértebra da coluna o levou a ficar em recuperação na UTI por 12 meses; uma luta lenta e dolorosa. Em seguida veio o colete de ferro, a cadeira de rodas, os momentos de desespero e os pensamentos em suicídio.

Mas Marcelo, a partir de sua nova realidade, dá a volta por cima, aprende a lidar com suas limitações, “degusta” cada dia como se fosse o último, recebe o carinho dos amigos, da família, e narra com um humor próprio às venturas da velha e da nova vida.

Mais um ano está terminando. Para muitos, 2010 não foi um ano bom e isso inclui a mim. É difícil chegar ao fim, principalmente quando não foi o que esperávamos. Acostumado a lidar com números, projeções, resultados, quero estender a prática de usar a métrica e os méritos para avaliar a vida. Impossível... A vida de um homem, conforme Jesus, não consiste nos bens que ele possui, mas em quem ele se tornou. Utopia? Resignação? Filosofia? Não. Nada disso. Propósito.

Não sei como foi o seu ano... Talvez você tenha falido, ou perdido um grande amor, talvez tenha descoberto um câncer, ou sepultado seu pai, sua mãe, um irmão, um amigo... Olhando pelo “retrovisor”, o que você vê de 2010? Perdas, danos, medos, desencontros, decepções? Qual é o saldo do seu ano? Negativo?

Saiba, você não é o único, eu também estou me sentindo assim. Aos 43 anos, contudo, já aprendi a não basear minha vida em sentimentos e, o mais importante, que todos os acontecimentos que me sobrevieram acabaram por forjar em mim um ser melhor, me ensinaram que a vida não é feita só de alegria e felicidade.

Usando o livro de Eclesiastes, capítulo 7, quero compartilhar com você 7 coisas que podem lhe ajudar a mudar sua análise de 2010. Sim, o filósofo que escreve o texto, aparentemente pessimista e desencantado da vida, nos dá uma enorme lição de que coisas maravilhosas se escondem, não raro, por detrás de fatos e situações difíceis, dores e dramas.  

Melhor é um bom nome do que um perfume finíssimo”. De fato, não há nada melhor do que ser honrado, entrar nos lugares de cabeça erguida, saber que agi de boa fé, que não defraudei, não soneguei, não corrompi e que, mesmo com dificuldades, honrei os compromissos. Sim, isso é melhor do que o “perfume fino”, aquele que serve para suavizar a podridão da vida, a falsidade do ser, o disfarce da alma, o embuste existencial, o estelionato da consciência, a dureza do coração.  

Melhor é o dia da morte do que o dia do nascimento”. Ao nascermos estamos cheios de “deformidades”, de inconsistências e contradições, a vida toda está pela frente e não sabemos como ela será. Na morte é diferente, pois a existência inteira está atrás de nós. Com ela saberemos, exatamente, quem nos tornamos, o que realizamos, o que tatuou-se em nossa alma, o que alojou-se em nosso coração, pois nossos pés já pisaram o chão da vida e nosso sangue e suor, quais sementes de esperança, foram plantados em solo sagrado e aguardam a revelação da eternidade para desabrochar flores e frutos.

Melhor é ir a uma casa onde há luto do que a uma casa em festa”. Se você sepultou alguém este ano este versículo lhe fará todo sentido... Sim, porque na casa do luto há dimensões da vida que não se encontram em nenhum outro lugar. Só na casa onde há morte é que as mais belas manifestações da vida desabrocham; solidariedade, amor, a dor partilhada, misericórdia, amizade, contrição, carinho, afago e afeto. 

Melhor é a tristeza do que o riso, porque o rosto triste melhora o coração”. É na perda que as pessoas tornam-se grandes, crescem, sobrepujam-se. Um rosto abatido é sinal de uma alma que experimentou dias cinzentos, mares revoltos, ventos tempestuosos. Mas é certo que depois de todo aguaceiro vem à bonança e o sol sempre volta a brilhar. O choro dura uma noite, diz o salmista, mas a alegria vem pela manhã.

Melhor é ouvir a repreensão de um sábio do que a canção dos tolos”. Somos movidos a elogios, pois eles alimentam nossas vaidades; na sociedade da imagem, é melhor parecer do que ser. Detestamos a correção, o amigo que nos diz a verdade na face, a mensagem que nos sacode a consciência, a voz que nos questiona no íntimo. Aprendi a amar o confronto e a ter cuidado com os aplausos...  

Melhor é o fim das coisas do que o seu início”. Há uma frase que diz: “numa maratona, o importante não é como você começa, mas como você termina”. Sim, no final tudo está exposto, tudo está claro, tudo está consumado. Será no final da sua vida que você estará mais próximo de ser aquilo para o qual foi predestinado, pois seu caráter, tendo sido disciplinado por toda uma a vida, revelará um ser parecido com Jesus.

Melhor é o paciente do que o orgulhoso”. O orgulho leva-nos a impetuosidade, e esta, por sua vez, a fazermos escolhas desastrosas, tomarmos decisões duvidosas, andarmos por caminhos de morte. Já o paciente é aquele que, com coração humilde e quebrantado, aprendeu a discernir que o silêncio leva um tolo a passar por sábio, que a arrogância é um veneno para a alma e a pressa inimiga da perfeição.

Por tudo isso que lhe relatei, pelo que está dito no Eclesiastes, quero lhe desejar um Feliz Ano Velho! Que tudo que você viveu possa transformar-se em paz e bem para sua vida. Que o fracasso, a perda, a dor, e até a morte possam produzir em você coisas boas, um coração pacificado e uma consciência elevada.

No mais, a despeito de todas as coisas, Deus continua sendo Deus, Sua autoridade e justiça dominam sobre todas as coisas e o melhor: Seu amor por mim e por você não mudou. Sim, tenho total consciência que não há nada que possamos fazer que O leve a amar-nos mais, ou a amar-nos menos.

Por isso, só tenho a lhe desejar um Feliz 2010! Salve, salve! Ah, sobre 2011? Não sei... Não sei mesmo... Espero que seja um ano bom, mesmo sendo ruim...

Carlos Moreira

27 dezembro 2010

Natal e Contracultura


Qual o verdadeiro sentido do natal? O que significa de fato o nascimento de Jesus? A essas perguntas muitas, ternas, sublimes, bobinhas e infundadas respostas foram dadas.

A quem diga, por exemplo, que o natal é época de amor, paz e outros estados de espírito que não passam de meros artifícios retóricos e monótonos romanticamente construídos para fins religiosos 
igualmente românticos.

Mas absurdo ainda é dizer que o natal representa o nascimento do salvador. Pelo contrário, o natal deveria nos perturbar, pois o filho de Deus trouxe consigo a espada, veio para executar, condenar, questionar, contradizer um conjunto de coisas a muito estabelecidas.

Jesus nasceu, não sem motivo, numa manjedoura, numa estribaria desconfortável, fedorenta e insalubre. Caso viesse hoje, haveria nascido numa favela violenta, à margem da sociedade, em um barraco com chão de terra batida.

A caminha confortável de palha retratada nos presépios não passa de uma fantasia que tem como objetivo exaltar a pobreza limpinha e franciscana a qual o proletariado deve se submeter no inferno do mundo capitalista. Não me entendam mal, eu não sou marxista; é que fui possuído pelo espírito do natal!

Estranho isso: em Roma, um homem, Otávio, imperador romano, deseja ser Deus (augusto). Em Belém, Deus torna-se homem e habita entre nós; Jesus o Emanuel (Deus conosco).

O nascimento de Jesus, acreditem, tem um aspecto jurídico, é uma denúncia contra o nosso materialismo insano e desenfreado que nos transforma, em alguns casos, em idiotas ricos, mas ainda assim idiotas. A manjedoura não é um lugar, é um veredicto!

Depois desse nascimento impróprio para um messias, Jesus foi crescendo e tornou-se contracultura (é isso mesmo, ficou meio hippie). O desenvolvimento rápido do carpinteiro filho de José tornou as suas antigas roupas coronhas!

Daí em diante ele rompeu com a religião, começou a achar graça das atitudes caricaturais dos sacerdotes “espirituais” dos seus dias e ficou mais a vontade com prostitutas, publicanos e pecadores. Teria o mestre apostatado?

O centro religioso de sua época tratou de matá-lo é claro. Mas não sem que antes o nazareno pronunciasse em alto e bom som que “os últimos seriam os primeiros”. O mundo a partir de então virou de ponta cabeça.

Eis aí o verdadeiro sentido do natal: a inversão do status quo, a quebra da lógica ideológica, religiosa e dominante do mundo no qual nasceu. Nascesse Jesus mil vezes, mil vezes o mataríamos!

André Pessoa via Século XXI

O “Espírito do Natal” não é o Espírito de Jesus


Uma das canções natalinas mais bonitas que eu já ouvi é “So this is Christmas”, de John Lennon. A letra inteligente, cheia de humanismo e poesia, politicamente correta, soma-se a uma melodia que faz a alma alçar vôos. 


Não sei se você já prestou atenção, contudo, que nesta composição não há nenhuma referência a Deus, a Jesus, ao advento, ou a qualquer coisa que lembre o verdadeiro significado do Natal. A impressão que me dá quando a ouço é que ela está celebrando algo, mas isto não tem qualquer ligação com o título que a canção trás. 


Você conhece o significado da expressão “zeitgeist”. Trata-se de um termo alemão que quer dizer “espírito do tempo” ou “espírito da época”. Na prática, “zeitgeist” é a síntese do pensamento intelectual e cultural do mundo num determinado momento, as características de um período da história da humanidade. Sua conceituação filosófica está construída, essencialmente, sobre a obra “Filosofia da História” de Friedrich Hegel.  


Estou usando este conceito apenas para sedimentar o meu pensamento sobre um fenômeno que percebo acontecer em nossos dias: a paganização do Natal. Ouso afirmar que, para a grande maioria das pessoas, comemorar o Natal é festejar a paz, a felicidade, a harmonia, o perdão e a generosidade, assim como está dito na canção de Lennon. Tudo isto tem extraordinário valor e significado, mas não tem qualquer relação com o que, de fato, é intrínseco, imanente a esta celebração.


Natal tornou-se a época das confraternizações, de irmanarmo-nos com nossos semelhantes, de tornarmo-nos mais sensíveis, abertos a “percepções” espirituais. Natal é a festa do Papai Noel, da árvore enfeitada, da ceia com cardápio refinado, guloseimas das mais diversas, vinhos e espumantes. Natal é o momento de trocar presentes, de iluminar as casas, a cidade, de mandar cartões e enviar mensagens de otimismo, de amor e esperança. 


Observando o processo, tenho a impressão de que, no mês de dezembro de cada ano, todos nós ficamos como que “possuídos” pelo “Espírito do Natal”. Na prática, é como se algo invadisse o inconsciente coletivo das pessoas, um fenômeno quase “materializável”, como um “ente” metafísico que ganha vida própria. A partir daí, esse “ente” passa, então, a influenciar e conduzir nossos sentimentos, pensamentos e ações. Em suma, esse tipo de “natal” transformou-se em algo como “zeitgeist”.


Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus... esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens... Humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!". Fp. 2:5-8


Eis, de forma clara, o que significa Natal! Natal é a celebração da encarnação de Deus entre os homens na figura histórica de Jesus de Nazaré! Natal é a manifestação concreta de um amor indescritível, imensurável e incompreensível, da ação unilateral de um Deus apaixonado que, num ato de sacrifício extremo, resolve tornar-se um de nós, e isto com vistas a pacificar a nossa existência através da nossa reconciliação com o Criador. 


Tristemente, tanto o Natal quanto a Páscoa, as duas mais importantes celebrações cristãs, esvaziam-se a cada ano em propósitos e significados, perdem sucessivamente, mesmo entre o povo dito de Deus, seus desdobramentos mais profundos. Fomos entorpecidos pelo “zeitgeist”; deixamo-nos “encantar” com presentes, comes e bebes, pirotecnia, luzes e festas, e esquecemo-nos de que, um dia, sob o céu estrelado da Palestina, na cidade de Belém, dentro de uma estrebaria, Deus tornava-se homem e constituía-se na única alternativa de reconduzir o homem até Deus.     

Por fim, quero lhe dizer que não tenho nada contra a festa, os cartões, as confraternizações ou o Papai Noel. Não sou daqueles que ficam cassando “bruxas”, fazendo exegeses bizarras, inventando modismos, que proíbem comemorações e vêem o diabo em tudo. Mas também não quero estar entre os que, por falta de discernimento e consciência, por falta de entendimento e reverência, perderam a percepção de que o “Espírito do Natal” e o Espírito de Jesus são, em nosso tempo, coisas totalmente diferentes.

Carlos Moreira

23 dezembro 2010

O Deus que Queria ser Homem


Há homens que querem ser Rei; sobrepujar-se, engrandecer-se, ter poder e riquezas. Eles possuem esse desejo incontido de chegar ao topo, de ir além das fronteiras, acima do último limite. Desejam ser servidos, reconhecidos, ser, inclusive, reverenciados. Um Rei pode fazer qualquer coisa! Ele não precisa perguntar nada a ninguém. É ele quem manda e, no final das contas, quem decide. Um Rei senta-se no trono, coloca sobre a cabeça sua coroa, na mão um cetro de ouro e no dedo o anel de majestade.

Há homens que querem ser Deus. Para estes, ser Rei não é o bastante, é preciso ir além, na direção do inalcançável, quem sabe, transcender! Isto foi muito comum na história dos povos, onde a deificação de homens comuns os transformou em deuses. Assim foi entre os egípcios, com seus Faraós, entre os gregos, com seus deuses do Olimpo e também entre os romanos, com seus Césars. Entre os Hebreus, conforme o relato da Torre de Babel, vemos homens comuns que alimentaram o desejo de chegar aos céus, ultrapassar a última fronteira, ser como Deus.

A verdade é que há no espírito humano este desejo de tornar-se divindade, de não ser contido por qualquer limite, de inventar, moldar coisas novas. Criamos a imprensa, o telefone, a energia, máquinas das mais diversas, carros, navios e, por fim, quisemos voar. Em pouco tempo, o globo tornou-se pequeno, com aviões indo e vindo de um lado para o outro. Aí pensamos: “por que não sair dele?”. Então, fomos à Lua! Hoje, nossos foguetes vão ainda mais longe. Um dia, quem sabe, poderemos viajar por todo o universo.

Mas não ficamos por aí. Manipulando a natureza criamos combustíveis, aproveitamos o ar, o sol e o curso dos rios para produzir energia, extraímos das plantas medicamentos e desenvolvemos a tal nível a medicina que já podemos curar doenças e transplantar órgãos. Desenvolvemos os computadores, inventamos o celular, criamos satélites, estamos desvendando os segredos do DNA e avançamos no mapeamento do Genoma. Fosse tudo isto pouco, agora queremos clonar a nós mesmos! O homem criando o homem e dando-lhe vida. Chegamos a ser como Deus?

"Todo homem quer ser rei; todo rei quer ser deus; mas só Deus quis ser homem”. Galilleu Gallilei. Frase intrigante... Mas Deus não quis só ser homem, quis ser homem comum, sem beleza, sem realeza, homem de carne e osso, com sangue e suor. Questiono-me: por que Ele fez isto? Para que? Se já era Deus, por que tornar-se homem? Já não tinha tudo! Faltava-lhe algo? Onipotente, onipresente, onisciente! Por que Deus quis ser homem?

Eu lhes digo, utilizando Isaías capítulo 9 que, em primeiro lugar, Deus quis ser homem para poder identificar-se comigo e com você. “povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte resplandeceu-lhes a luz”. v.2.

O Deus que encarna é o Filho. Ele veio para mostrar-nos como é o Pai. Havia entre nós profunda separação, enorme abismo, mas Ele, por Sua morte e ressurreição, pacificou nossos corações e nos abriu um caminho para nos reconciliar com o Criador.

Deus quis ser homem para experimentar nossas dores, limitações, medos, contradições, angústias e dilemas. Esvaziou-se a Si mesmo, perdeu Sua divindade, sofreu como homem, morreu como Deus! Era desprezado e dEle fizeram caso. Foi ultrajado, amaldiçoado, caluniado, incompreendido. Sua existência foi dedicada a compadecer-se dos caídos, salvar os oprimidos, libertar os cativos, “apregoar o ano aceitável do Senhor”. Não sei você, mas eu jamais poderia acreditar num Deus que não sangra... O meu, sangrou até a morte, e morte de cruz.  

Em segundo lugar, Deus quis ser homem para que fosse possível realizar-se o Plano da Salvação. “porque um menino nos nasceu, um filho se nos deus; o governo está sob os seus ombros e o seu nome será: maravilhoso, conselheiro, Deus forte, pai da eternidade, príncipe da paz”. v.6.

Há algo extraordinário no Plano da Salvação: “o Cordeiro foi sacrificado antes da criação do mundo”. A salvação não é um remendo que Deus fez para recuperar as rédeas do jogo, para colocar o homem de volta no trilho original. Não! O Plano de Salvação não foi uma estratégia corretiva traçada por um ser absorto que, despercebido de sua criação, foi surpreendido pela sua queda. Nunca! O Filho sacrificou-se na “eternidade anterior’, antes de haver mundo e homens sobre a Terra e, só depois disto, Deus o criou, homem livre, leve, solto. Deu-Lhe ainda o poder de fazer suas próprias escolhas, mesmo que elas fossem às piores possíveis.    

Mas, no “tempo oportuno”, no momento em que houve a convergência do propósito eterno, Deus encarnou e materializou-se historicamente na figura de Jesus de Nazaré para cumprir o que, antes de todas as coisas já havia sido feito, o sacrifício pelo pecado. A cruz não foi apenas fincada em Jerusalém, na Palestina, mas continua fincada na eternidade, no cosmos, e, por meio dela, reconcilia-se com Deus toda criatura vivente em todos os universos possíveis. “O castigo que nos trás a paz estava sobre Ele e por suas pisaduras fomos sarados”. O grito que ecoou na crucificação, ainda ecoa hoje, em todo o coração que se rende a graça de Deus: “Tetelestai” – Está pago! Está consumado! 

Em terceiro e último lugar, Deus quis ser homem para que o homem acreditasse que ele é Deus. “... o zêlo do Senhor dos exércitos fará isto”. v.7. Disse Jesus: “ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos”. Tudo começou com amor, e tudo terminará com o amor. Deus é amor! Aquele que ama discerne a Deus, é nascido de Deus, Deus está nele e ele está em Deus.

Reconheço que na humanidade tivemos muitos homens sábios, que se sobrepujaram em sua espiritualidade, que se doaram em prol da humanidade, que fizeram sacrifícios extremos e foram exemplo de vida e de perseverança. Mas, tenho também de admitir, ainda que devotando-lhes respeito e admiração, que nenhum deles é o Filho unigênito de Deus! Nenhum deles veio dos Céus a Terra! Nenhum deles encarnou, sendo antes de todas as coisas, Deus! Nenhum disse que era um com o Pai, nem afirmou ser o caminho, a verdade e a vida! Nenhum deles ressuscitou dentre os mortos, e sentou-se a destra de Deus, donde há de vir a julgar vivos e mortos! Nenhum tem poder para perdoar pecados e salvar o pecador. Estou convencido, só mesmo Deus para querer ser homem...

Eu quero lhe desejar um Feliz Natal! Um Natal que te projete para além do Papai Noel, da árvore enfeitada, dos presentes e do peru. Um Natal com consciência, com entendimento e que, sobretudo, produza desdobramentos em sua vida e na vida de todos que te cercam. Eu quero lhe desejar Feliz Natal porque Jesus quis estar entre nós, identificar-se conosco. Quero lhe desejar Feliz Natal porque o nosso Senhor nasceu em Belém, não como Rei, mas como servo, não no palácio, mas na manjedoura. Ele não tinha anel no dedo, mas tinha autoridade nas mãos, não tinha um cetro de ouro, mas um cajado para nos trazer paz, saúde e bem. 

Eu quero lhe desejar Feliz Natal porque tenho a convicção de que você, mais do que nunca, compreende que toda festa só faz sentido porque houve cruz, que toda alegria só tem significado porque houve morte, que a vida de todos nós está compreendida entre a manjedoura e o Gólgota, pois todo presente recebido é nada junto do que o Pai nos enviou, e, porque Ele vive, podemos crer no amanhã... Feliz Natal!

Carlos Moreira


22 dezembro 2010

10 Anos a Mil, do que 1000 anos a Dez


Este tem sido um ano difícil. Para alguém acostumado ao sucesso, a conquistas e vitórias, tive de “degustar” outras sensações como o fracasso, a “derrota” e a perda. Isso escrito em artigo fica filosófico, até intelectual, mas experimentado na vida dói, e dói pra valer...


Um ano para esquecer... Ou, quem sabe, para lembrar pelo resto da vida. Sim, seria melhor guardá-lo para que suas lições não se percam. E foram muitas. Depois de despencar de alguns barrancos, como diria o Lulu Santos, de ver alguns sonhos partidos, de experimentar a incompreensão, a traição, o descaso, a crítica mordaz, a mentira contada com requintes, vieram a reboque à queda dos paradigmas, a quebra dos modelos.

Mas eu sou assim... 100% explícito. Se você não gosta, fazer o que? Sou assim! Não consigo dissimular, fazer caras e bocas, dar beijos e abraços, tapinhas nas costas. Sou ser por fazer-se, cheio de incompletudes, de fragmentações, de desencontros, de medos, mas que não tem receio de botar a cara para bater, de dizer e escrever o que pensa, de ir na contra-mão, no contra-fluxo, o famoso pino quadrado tentando entrar no buraco redondo (Jack Kerouac).

Crítico profissional, fui alvo da crítica de todos. Bem feito, quem manda criticar! Falar é fácil, fazer é que é... Cometi erros, não há como escondê-los. Confessei-os de todas as formas, publicamente e em segredos... Se desse, eu os enterraria... Mas eles estão aí, todos às claras. Errei com Deus, com minha família, com gente que achava que era amigo, com amigos mesmo, com gente da comunidade, gente de dentro, de fora, do lado, de cima e de baixo. Errei. E daí, quem não erra? Errei tentando acertar! Melhor assim do que ficar assistindo da “geral” e apontando o dedo.  

Não sei como será 2011. Não sei se “sobreviverei” a este tsunami. Estou de pé nocauteado; você sabe como é? Sabe nada... Não caí porque sou de uma persistência obtusa, consigo ir contra mim mesmo. E Deus? Ora, está mudo! Calou-se! Recolheu-se! Deixou-me só! Disse-me: "você não é o cara? Não sabe fazer tudo? Não tem os modelos, os métodos, tudo pronto, os planos perfeitos? Então vá lá, faça funcionar sem Mim!". E eu fui... Mas não funcionou! Fiz de tudo, mas não deu certo. Deus insiste em fazer com que os métodos não funcionem. Parece pura implicância, mas, de fato, não funcionam mesmo. E quer saber: dou graças a Ele que não tenham funcionado, pois se desse certo a glória seria minha e não dEle, seria veneno para minha alma, ácido para minha consciência, ópio para o meu coração.

A frase que trás o título deste artigo não é minha, é do Lobão – cantor, compositor e apresentador de TV – em sua música Decadence Avec Elegance  – Decadência como Elegância. De fato, prefiro viver assim, 10 anos a mil a 1000 anos a 10. Prefiro viver intensamente, tentando fazer as coisas, errando, acertando, errando mais do que acertando, é claro! Mas vou tentando, pois tenho pavor da mediocridade, tenho pavor dos que assistem e dão desculpas esfarrapadas para não se envolver com nada, tremo diante da unanimidade, temo a vulgaridade, a commoditização, os simplistas, os que seguem mapas, os que nunca ousam sonhar... Como disse Oscar Wilde, “viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”.

Enfim, o ano acabou. Tinha a impressão de que ou ele acabava ou eu acabava com ele. Ele venceu... Com ele acabou-se muita coisa. O sábio diz que “melhor é o fim das coisas do que o seu princípio”. Estou constatando na prática. Este ano assisti ao fim de planos, de sonhos, de “amizades”, de projetos, e outras coisas sem relevância. Foi pau, pedra, e o fim do caminho... Deus salvou-me de mim mesmo, pois, em meio a tudo isso, consigo ver seu cuidado comigo.  Ele livrou-me de ter sido bem sucedido em planos nos quais Ele nunca esteve, não porque eu não quisesse, mas por que Ele não quis... É complicado mesmo, não tente entender, apenas leia...


Aprendi com Millôr Fernandes que “há duas coisas que ninguém perdoa: nossas vitórias e nossos fracassos”. Eis aí estão as minhas derrotas. Quem quiser que as saboreie. Se eu tivesse chegado ao “pináculo do templo”, estaria rodeado de “amigos” querendo comer na minha mesa, mas os poucos que tinha me deixaram sós, sequer tiveram a coragem de se despedir. Vão em paz! Vão com Deus! Acha que guardarei mágoas? Não há espaços em meu coração para isso, pois sei que a amargura é como o câncer, corrói por dentro e esvazia o ser deixando o ambiente convidativo aos “fantasmas”. Não, não vou odiá-los, espero que achem boas paragens e paz e bem na vida.

Assim, de boa vontade, por amor de vocês, gastarei tudo o que tenho e também me desgastarei pessoalmente...” 2a. Co 12:15. É o que creio. É o que faço há 27 anos. Ninguém pode dizer que não me gastei por amor das pessoas e do Evangelho. Se errei, foi tentando acertar. Trabalhei muito nestes anos. Vigílias, cultos de oração, encontro de jovens, de casais, cursilhos, seminários, escola dominical, pequenos grupos, aconselhamentos, cultos de louvor, cultos de ação de graças, casamentos, funerais, batizados, formaturas, cultos em empresas, acampamentos, louvorzão, foi tanta coisa que já perdi a conta. Faria tudo de novo. Me gastei e ainda me deixarei gastar, pois sei que “Deus não é injusto para ficar esquecido do meu trabalho para com os santos”.

Não peço sua aprovação, nem seu favor, apenas suas orações. Ore por mim, pois ainda que a intenção tenha sido boa, o resultado parece não ter sido dos melhores. Perdoe-me se lhe feri, se lhe ignorei, se lhe destratei, se lhe faltei com o devido cuidado. Ser empresário, pai, esposo, pastor, estudante, não foi coisa fácil este ano. Além de tudo isto, tem tudo o que sou e que não se desgruda de mim...

Não sei o que será daqui para frente. A coisa que acho que melhor sei fazer na vida é pregar o Evangelho. Vou continuar fazendo isto; não sei onde, não sei com quem, mas é certo que continuarei a fazê-lo.

Desejo-lhe de todo o meu coração um feliz natal e um próspero ano novo! O meu, este ano foi horrível, mas Deus me consolou de todas as minhas lamentações e me curou de minhas enfermidades, fez sobressair sobre mim a Sua luz e raiar sobre a minha face a Sua justiça. O que poderia eu desejar mais?  

Por fim, não me responda nada. Seu silêncio me fará mais bem do que suas palavras. Se gostou, ótimo! Se não, CRTL + ALT + DEL. Ninguém me moleste mais por coisa alguma, pois eu já estou nisto há muito tempo e, penso, ganhei, ao menos, o direito de ser ouvido e respeitado, ainda que você não concorde com absolutamente nada do que disse.  

Em Cristo,

Carlos Moreira







21 dezembro 2010

Transformando Sucata em Tesouro


Hoje, é um novo dia de um novo tempo que começou. Nesses novos dias, as alegrias, serão de todos, é só querer. Todos nossos sonhos, serão verdade, o futuro, já começou. Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é de quem quiser, quem vier”. Quem não conhece esse jingle da Rede Globo, criado em 1971, por Nelson Mota e Marcos Valle, que acabou tornando-se a canção de final de ano dos brasileiros?


2010 está se encerrando. Para muitos, foi um ano dificílimo. Perdas irreparáveis, separações, morte de familiares... Alguns foram vitimados por enfermidade, outros tiveram seus quadros agravados. Hospitais, médicos, remédios... A idade avança e com ela suas dores. Há os que tiveram problemas profissionais, demissão, mudança de função, de emprego, até mesmo falência. Alguns enfrentaram revezes financeiros, dívidas acumuladas, cartões de crédito em atraso, cheque especial, escola das crianças, contas de luz, de telefone, de água...  


Um ano difícil esse de 2010. Filhos sentiram a ausência dos pais; pais desencontrados, perplexos, perderam-se de seus filhos. Um ano em que muitos viram sonhos desmoronar. Aliás, em alguns casos, eles viraram pesadelos. Projetos não deram certo: a compra da casa, a troca do carro, a viagem de férias, a montagem de um novo negócio. Houve quem naufragasse nos estudos, repetindo o ano. Outros sucumbiram no vestibular. Perda de tempo e de dinheiro.


Em 2010 alguns amores terminaram. A solidão bateu na porta de muita gente. Fomos as lágrimas, experimentamos a depressão, tivemos medos, sentimos dores das mais diversas. Para alguns o chão sumiu, para outros, o telhado caiu. Muitas pessoas foram atingidas por tragédias, enchentes, vendavais, e terão de se reerguer a partir dos escombros. Lembrei de Miguel Falabela, ator, diretor e roteirista, que disse certa vez: “sou feliz porque aprendi a transformar as minhas sucatas”. Neste ano que se finda, pensando em você que teve um ano difícil, lancei-me a escrever este texto. Ele é um desafio para olharmos para o ano que se inicia com sonhos na mente e paixão no coração. 


Para tal, quero convidá-lo a analisar um texto da carta de 2ª Coríntios. Escrita pelo apóstolo Paulo, ela é considerada “a carta das lágrimas”, pois nos expõe o sentimento de um homem que está vivendo um tempo difícil. Quem sabe, talvez, tenha tido um ano difícil, ou mesmo, vários, consecutivos... E assim, chegando ao capítulo 6, nos deparamos com o seu desabafo livre, despudorado, são as “vísceras” da alma expostas a “céu aberto”, para que todos saibam, para que todos vejam, para que todos ouçam. 


E é justamente aí, em meio a este cenário de dor, de perdas, de decepções, frustrações, de desânimo, incompreensões, dificuldades de todas as formas, por todos os lados, que Paulo se supera, e acaba nos ensinando a como transformar “sucata” em “tesouro”.


E nós, na qualidade de cooperadores com ele, também vos exortamos a que não recebais em vão a graça de Deus (porque ele diz: Eu te ouvi no tempo da oportunidade e te socorri no dia da salvação; eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação)” 6:1-2. Em primeiro lugar, Paulo nos ensina que a melhor experimentação da graça se dá quando nós decidimos viver esse dia chamado hoje.


O que você acha que significa “não receber a graça em vão?”. Eu acredito que é não se deixar vencer pelos dramas da existência, pelas lutas, pelas dificuldades pelas perdas e dores. Mas, ao mesmo tempo, Deus afirma: “eu te ouvi e te socorri”... Deus tem construído conosco uma história. Não reconhecer isto é desprezar a graça, e isto facilmente acontece conosco, pois nos esquecemos daquilo que Ele já realizou em nós e por nós. É por isso que o salmista pede para que o Senhor o ensine a contar os seus dias. É uma maneira de não deixar de reconhecer a generosidade de Deus nas coisas mais simples e singelas da vida.  


Os grandes dramas da existência humana estão “travados” entre o ontem e o amanhã. Sofremos por aquilo que já se foi e pelo qual já não podemos fazer mais absolutamente nada. Ansiamos por aquilo que ainda virá, e sobre o qual  ainda não temos qualquer poder. Mas esquecemos de viver o hoje. Carpe Diem! Aproveite o dia, o hoje, o agora! Tudo o que Deus tem para você é para hoje, pois o ontem já se foi e o amanhã ainda virá. Por isso Paulo diz que hoje é o dia oportuno! Seja feliz hoje, ame hoje, doe-se hoje, perdoe hoje, seja verdadeiro hoje, seja generoso hoje, renove suas esperanças, hoje, Carpe Diem! 


Pelo contrário, em tudo recomendando-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns,”. 6:4-5. Em segundo lugar, saiba que os desafios da existência nos sobrevêm para fazer-nos pessoas melhores.


Fico impressionado que o escritor da carta aos Hebreus tenha afirmado que Jesus foi aperfeiçoado por causa das coisas que sofreu. Ora, como o perfeito pode ser ainda aperfeiçoado? Inevitável não pensar ser um pleonasmo do autor. Contudo, usando uma hermenêutica mais ajustada ao texto, vemos que o escritor apenas usa uma figura de linguagem para dizer que tanto o sofrimento quanto a obediência são ingredientes poderosos para moldar o caráter do ser humano. 


Veja que na lista dos valores que Paulo apresenta como fomentadores de densidade existencial não existem regalias, supérfluos ou vaidades. Pelo contrário, nela encontramos a aflição, a privação e a angústia, por exemplo, sentimos que experimentamos em certas “estações” da vida e que, a todo custo, tentamos evitar. Ora, nem tudo que aparentemente nos faz bem é bom. Não raro, aquilo que dói, que causa sofrimento, que gera sentimentos de frustração e perda tem um poder avassalador para desenvolver em nós uma potente “musculatura espiritual” – consciência aguçada, coração generoso e alma pacificada.     


Na pureza, no saber, na longanimidade, na bondade, no Espírito Santo, no amor não fingido, na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas armas da justiça, quer ofensivas, quer defensivas;” 6:6-7. Finalmente, em último lugar, reescreva em fé um caminho novo, mas com valores e princípios eternos.


É incrível como tudo que fazemos gira em torno de sermos pessoas felizes, e não pessoas melhores. Isto vai totalmente de encontro ao que Jesus nos ensina, pois o bem aventurado é “aquele que é”, aquele que se deixa reconstruir de dentro para fora, com novos valores e princípios, o que experimenta uma ressignificação da consciência capaz de remodelar o ser, de forjar a nova matriz existencial pela qual os dias passam a ter significado e a vida encontra o seu propósito. 


Quando eu era pequeno, passava pela minha rua um velhinho que carregava uma carroça. Nela estavam penduradas todo tipo de bugigangas. Lembro que ele soava um apito e dizia: “compro sucata!”. Sempre que passava, era muito comum as pessoas o procurarem com algo que já não lhe servia mais, ou mesmo que estava quebrado. Ele avaliava, fazia a proposta, e adquiria o objeto. 


Anos mais tarde, quando estava voltando de uma festa, parei numa lanchonete para comer com alguns amigos. Enquanto aguardava a pizza, vi do outro lado da rua uma pequena casa com uma luzinha bem fraca que estava acesa. Mesmo quase na penumbra, percebi que a silhueta que se projetava era a do velhinho da carroça. Saí da lanchonete, atravessei a rua, e fui ao seu encontro. 


Ao chegar à janela da casa, já debruçado sobre ela, vi uma enorme sala, que na verdade era uma oficina, onde aquele senhor transformava sucata em coisas novinhas em folha. Fiquei impressionado! Quando ele me viu na janela, olhou-me com um olhar doce e com voz carinhosa disse: “o que para vocês é sucata, para mim é tesouro”. Creia-me, das muitas lições que aprendi na vida, esta, sem dúvida, foi uma das mais significativas...  


Carlos Moreira 


16 dezembro 2010

Só pra vomitar a solidão mais um pouco!

Hoje eu acordei sem entender porque. Acordei por acordar. Assim sem uma razão aparente. Eu só acordei, pronto. Foi o suficiente para perceber que eu não sei o porquê desse relógio ao lado da cama, desses papéis pra assinar, dessa louça pra lavar. Hoje eu chorei sem entender o porque. Chorei só por chorar. Assim sem um motivo plausível. Eu só chorei, ponto. Quando eu choro, o meu estomago chora junto comigo. Quando eu acordo, o meu medo abre os olhos e lamenta o dia seguinte. Só me resta ir ao banheiro e vomitar a solidão embrulhada aqui dentro. O espelho sorri do meu desespero e o telefone me lembra o quanto sou necessária ao mundo lá fora. Ele toca como se dissesse: """"se toca"""". Sim, as pessoas precisam de mim. Até às 18h00. Depois disso, meu mundo silencia e só me resta fazer uma prece para que meu sono chegue logo e dure o tempo da eternidade. Ou, pelo menos, que dure até às 8h00 da manhã do dia seguinte. É quando acordo sem entender o porque. Acordo assim só por acordar. Sem razão aparente ou motivo plausível. Só pra vomitar a solidão mais um pouco, em pausas, entre um alô e outro. Mas, calma: """"é só até às 18 horas"""", penso comigo.

Maíra Viana através do blog Maíra Viana 

Maíra Viana é escritora, jornalista, poetisa e faz parte de cena cultural e artística de São Paulo. Além disto, é minha prima e eu a amo muito. Depois de vê-la menina, só a descobri mulher! Vez ou outra sua poesia urbana vai pintar por aqui...

14 dezembro 2010

Você Está Disposto a Dizer Sim ao Não de Deus?


Na vida, a gente acaba colecionando mais o erro do que o acerto, mais a tristeza do que a alegria, mais a queda do que a conquista, mais o não do que o sim. Saudosista que sou, acabei lembrando que, antes de compreender estas verdades, tinha dificuldades com o texto de Eclesiastes que diz “melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.

Creia-me, não há nenhum masoquismo sádico na frase do filósofo. Trata-se apenas da constatação de que o sofrimento e a dor podem, em certas circunstâncias, produzir algo de bom para a vida. De fato, nunca vi nenhum empresário sentar-se introspectivo para analisar o porquê do sucesso de um grande negócio. Mas tenho visto alguns que assim o fazem quando suas empresas vão a banca rota. Não tenho encontrado pessoas quebrantadas em lugares festivos, mas percebo-as cabisbaixas em funerais ou em visitas a doentes terminais.  

É muito difícil encontrar o riso fácil na vida de uma mulher solitária ou mesmo o entusiasmo num quarentão desempregado. No fundo, a vida é feita mais de não do que sim, e isto, tenha certeza, pode produzir valor e significado a existência. Mas esta não é uma mensagem para os nossos dias, sobretudo nos círculos religiosos. A teologia da prosperidade está aí para contradizer tudo isto que eu estou pregando. Ninguém está disposto a dizer que a dor, a dificuldade, o fracasso e até a solidão podem produzir frutos extraordinários para a consciência das pessoas de tal forma a materializar no caminho um proceder diferente.

As Igrejas do nosso país estão cada vez mais amontoadas de gente em busca de um “deus” que só diga sim. Ligo a televisão e fico estupefato com as loucuras que estão sendo pregadas nos canais ditos “evangélicos”. Em termos de literatura a desgraça não é menor. Livros com aberrações doutrinárias estão aí sendo vendidos aos milhares com promessas calcadas no trinômio: vitória, sucesso e felicidade.

Mas a nossa realidade existencial é outra. Temos vivido num país onde tudo é muito precário e difícil. As pessoas pobres desta nação há muito não vivem mais, apenas empurram os dias para frente desafiando a sorte e a morte. Elas não moram com dignidade, não possuem assistência médica, não se sentem seguras, não tem acesso à educação, o crédito é concedido a taxas de juros escandalosas... Onde está então a prosperidade? Eu lhes digo: nas contas bancárias dos “bispos”, “pastores”, “apóstolos” e outros feiticeiros do sagrado!

Diante de tantos problemas, de tantos “nãos”, fica fácil entender porque as pessoas estão correndo para estas “fábricas de ilusões”, para estes lugares de engano e estelionato. Por isso, encham-se os salões, os galpões e os palácios eclesiásticos. Digam ao povo o que o povo quer ouvir! A verdadeira mensagem caducou, foi superada, caiu no desuso pela falta de “resultados”. O “evangelho” de hoje, que desgraça, não é o da graça, pois tem preço, não é “de graça”. Quem paga mais leva, e todo mundo fica feliz. A lógica  perversa do “capitalismo eclesiástico” é a seguinte: o povo quer “consumir” e os “sacerdotes” querem “vender”. E Deus? Ora, Deus parece estar disposto a fazer qualquer coisa para manter o “mercado da fé” aquecido e, desta forma, nem se importa de distribuir um milagre aqui e outro acolá.

Diante de tudo isso, quero apenas lhe fazer uma pergunta: você está disposto a dizer sim ao não de Deus? Você está disposto a mudar planos já concebidos, adiar projetos pré-aprovados, desviar por rotas inusitadas, cancelar o negócio, desfazer a compra, terminar o relacionamento, suspender a viagem, dar ouvido a consciência, desprezar as emoções, submeter-se às Escrituras? Deus é Deus de sim, e Paulo diz que “em todas as suas promessas existe o sim”. Mas, saiba: Deus também é Deus de não!

Eu creio que há, pelo menos, 3 situações na vida em que Deus diz não. Vou utilizar o texto de Hebreus 12 para me ajudar na construção hermenêutica do meu raciocínio. Assim, fica a pergunta: Quando é que Deus diz não?

Em primeiro lugar, Deus diz não quando eu estou disposto a obedecer a qualquer custo. Hb. 12:5 “...filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado;”. Ora, isso faz todo o sentido, pois, se eu não estou disposto a obedecer, pouco importa aquilo que Deus está dizendo! Jean Paul Sartre afirma: “é sempre fácil obedecer quando se sonha comandar”. Se eu é que comando a minha própria vida, que importa o que Deus diz, pensa, sente, ou sonha a meu respeito?

A verdade é que nossa geração é atrelada a resultados, pois somos “medidos” por aquilo que realizamos; temos metas, métricas, objetivos, números a alcançar, custos a reduzir, lucros a aumentar. Forjados sob esta mentalidade capitalista, imaginamos que Deus também está em busca de produtividade. “Quantas pessoas você ganhou este mês para Jesus? De quantos cultos participou? Quanto deu de oferta? Em quais ministérios este envolvido?”. E por aí vai... É uma lógica atrelada à produção, não a adoração! Disse o profeta Samuel ao Rei Saul: “acaso tem o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifício quanto a que se obedeça a Sua palavra?” E concluiu: “o obedecer é melhor do que o sacrificar”.

Sabe o que quer dizer isto? Que Deus não está medindo o quanto você faz, mas o porquê você faz. Ele não está contabilizando as suas ações, mas as suas intenções. Ele não está somando o seu esforço, a sua produtividade, mas a sua capacidade de se ajustar a Sua vontade a partir de uma ressignificação de sua consciência, de uma mudança de mentalidade – da “igreja-fábrica”, com vários “executivos dando ordens e exigindo metas, para a igreja-Corpo de Cristo, onde apenas o Senhor dá as ordens, pois Ele é o cabeça da Igreja.       

Em segundo lugar, Deus diz não quando as circunstâncias não vão produzir bem e paz para a minha alma. Hb. 12:10 “pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade”. Lembrei de Balzac: “os acontecimentos são assuntos que nossas almas convertem em tragédia ou em comédia”. Se aprendermos a confiar, saberemos que mesmo a tragédia pode se converter em festa, pois “o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã”.

É fato que desde nossa infância nossos pais nos corrigem e nos ensinam aquilo que julgam ser o melhor para nós. Mas nem sempre aquilo que eles avaliam ser o melhor é, de fato, o melhor. Já com Deus, é diferente. Deus não se dobra aos nossos caprichos; Deus não se comove com nossos choramingos; Deus não se deixa influenciar por nossas chantagens. Ele sabe o que é melhor, pois está vendo o “quadro” por completo, enquanto nós temos apenas parte da visão. É por isso que o profeta Isaías diz: “os meus pensamentos são mais altos que os vossos pensamentos”.

É muito bom para mim saber que Deus conspira o tempo todo para me fazer o bem. Lembro de Habacuque: “mesmo não florescendo a figueira, não havendo uvas nas videiras; mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação”, ou seja, mesmo que tudo dê errado, e que a lógica se transforme em loucura, que a razão se dessignifique e que a esperança sucumba, ainda assim, tenho convicção que há Deus no céu, e que Ele me ama e fará o melhor a meu respeito!

Finalmente, Deus diz não quando os meus caminhos estão em desacordo com os dEle. Hb. 12:13 “e fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco; antes, seja curado”. Tenho visto como as pessoas buscam andar por seus próprios caminhos. Elas fazem seus planos, traçam suas metas, fazem suas escolhas, investem recursos, e, ao final de tudo, raramente, perguntam a Deus: “o que você acha disso?”. Por isso tanto desencontro, tanta separação, tantos negócios falidos, tanta dor, tanto desespero, tanta aflição de alma, tanta angústia, pois, conforme Isaías, “os meus caminhos não são os vossos caminhos...”.   

Mas quem quer mesmo ouvir o que Deus tem a dizer? Quem está disposto a fazer a Sua vontade? Jesus afirma: “aquele que tem os meus mandamentos e os guarda este é o que me ama...”. As pessoas me perguntam: “pastor, como faço para saber a vontade de Deus?”. E eu lhes pergunto: “você está mesmo disposta a fazer o que Ele mandar?”.

Deus fala de formas diferentes com cada um de nós. Usa a Sua Palavra, fala em nosso coração pelo Seu Espírito, usa pessoas próximas as nós, circunstâncias, Sua própria criação, mas quando não queremos obedecer, temos de nos render a citação do grande Heráclito “o caminho para cima e o caminho para baixo são sempre os mesmos”. É que não raro, nem mesmo a combinação de todas estas coisas elencadas é suficiente para nos demover de algo que queremos realizar. Nestas situações, tenho visto, o resultado final é sempre trágico. E o pior é que nós ainda temos a petulância de dizer: “mas Senhor, eu orei tanto por isso”. Aí, digo eu: durmam os pastores com um “barulho” desse...

Carlos Moreira

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É importante esclarecer que este BLOG, em plena vigência do Estado Democrático de Direito, exercita-se das prerrogativas constantes dos incisos IV e IX, do artigo 5º, da Constituição Federal. Relembrando os referidos textos constitucionais, verifica-se: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato" (inciso IV) e "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença" (inciso IX). Além disso, cabe salientar que a proteção legal de nosso trabalho também se constata na análise mais acurada do inciso VI, do mesmo artigo em comento, quando sentencia que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença". Tendo sido explicitada, faz-se necessário, ainda, esclarecer que as menções, aferições, ou até mesmo as aparentes críticas que, porventura, se façam a respeito de doutrinas das mais diversas crenças, situam-se e estão adstritas tão somente ao campo da "argumentação", ou seja, são abordagens que se limitam puramente às questões teológicas e doutrinárias. Assim sendo, não há que se falar em difamação, crime contra a honra de quem quer que seja, ressaltando-se, inclusive, que tais discussões não estão voltadas para a pessoa, mas para idéias e doutrinas.

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