Desde que coloquei os meus pés pela primeira vez numa igreja evangélica que escuto os pastores e pregadores cristãos se referirem à sociedade ao nosso redor como o “mundo”. Nas pregações é comum ouvir algum empolgado orador referindo-se a sociedade laica como “o mundo lá fora”.
Enfim, para a maioria dos pregadores, a igreja é algo totalmente separado do universo das coisas e das pessoas, profanos por natureza. Tem-se a impressão, ao ouvir-se esses arautos do dualismo cartesiano, que o cristianismo se desenvolveu num vácuo, alheio a tudo e a todos.
Quero propor nesta curta reflexão a seguinte tese: para saber o que está acontecendo na igreja devemos observar e analisar o que está ocorrendo no mundo e para saber o que pensa o mundo é preciso observar o que acontece na igreja.
Por exemplo, não é preciso ser um grande especialista em problemas eclesiásticos ou em homilética para perceber que o tipo de sermão que a igreja tem ouvido nos últimos cem anos já não comove as pessoas que compõem a congregação.
Os dirigentes da igreja e pregadores precisam entender que as pessoas que freqüentam os templos nos nossos dias são indivíduos à beira da apostasia a quem as minúcias físicas e emocionais da morte violenta de Jesus Cristo na cruz não mais comovem.
No último final de semana estive numa grande igreja de nossa cidade e vi um bom pregador (espécie em extinção em nosso meio) fazer das tripas coração e se debater em visível esforço para levar à comoção um público apático e sem vida, muito parecido com os ossos secos da visão de Ezequiel.
As pessoas para quem ele se dirigiu só davam aleluia e amém mecanicamente, faziam isso mais pela obrigação de compensar o esforço do homem de Deus do que porque verdadeiramente estivessem sentindo algo que de longe pudesse ser comparado a ação do Espírito Santo.
As igrejas viraram cemitérios, os crentes são defuntos que ainda não abandonaram o hábito de ir ao culto, mas que mais cedo ou mais tarde o farão. Os nomes nas fachadas dos templos se transformaram em epitáfios denominacionais.
Os pregadores evangélicos, boa parte deles despreparados, insistem num modelo de pregação falido e que não surte mais efeito quando dirigido a um ouvinte de cultura mediana atordoado pelo ceticismo do mundo contemporâneo.
O máximo que o homem de Deus, de quem falei linhas atrás, conseguiu com seu sermão ensaiado durante toda a semana pra levar os ouvintes à contrição com Cristo foi uma perplexidade sem comoção, sentimento estranho e patético muito comum entre as pessoas que vão aos cultos.
Perplexidade sem comoção, eis a atitude que se observa nos evangélicos que freqüentam as igrejas históricas de hoje e que ingeriram um veneno para o qual os pregadores ainda não possuem o antídoto. Nem o Instituto Butantan impedirá as agonias que sobrevirão à igreja no Brasil.
De cada trinta pessoas que vão aos cultos em nossos dias, quinze deixarão de comparecer a eles nos próximos três anos e as outras quinze se dispersarão paulatinamente enquanto os pregadores se debaterão com sua luta titânica contra os moinhos de vento.
Posso perceber no semblante das pessoas que elas não encontraram o que foram buscar nos cultos dos quais participam. A mensagem pregada tem cheiro de antiguidade e teia de aranha. As pessoas estão frustradas, mas ficam em silêncio, porque na igreja, assim como nas penitenciárias, o silêncio é a lei (quem a transgride paga com a exclusão).
Se os pregadores quiserem ser bem sucedidos nas próximas décadas, e isso não significa pregar para auditórios lotados, terão que abordar os antigos textos sobre uma nova perspectiva. Não se coloca vinho novo em odres velhos!
Precisarão expor textos não expostos, falar o que não foi falado, ousar enunciar uma nova teologia perpassada pela cultura e descer até as profundezas a fim de resgatar as vidas que estão à beira do abismo no qual os seres humanos afundam todos os dias.
Chega de sermões apologéticos de quinta categoria! Até Deus já está tapando os ouvidos com as mãos cada vez que o dirigente de um culto anuncia: “vamos ouvir agora a palavra de Deus”. Penso que, lá do céu, Deus pergunta retoricamente: “Minha Palavra?”.
A palavra de Deus cessou nos púlpitos. O que existe hoje, com raras exceções, é uma decadente caricatura daquilo que um dia chamou-se sermão. Tudo isso me faz lembrar as palavras do profeta Isaías: “O que sacrifica um boi é igual ao que comete um homicídio” (Isaías 66:3).
Cultos vazios de significado são considerados atos criminosos por Deus! Ressuscitai pregadores, consultai as Escrituras, observai o mundo, ouvi o povo e buscai a Deus a quem dizeis que servis. Caso contrário, as pregações serão apenas “palavras, pequenas, palavras apenas, palavras.”...
André Pessoa
Adoração em tempo integral
Há 2 dias
0 comentários:
Postar um comentário