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25 agosto 2015

A Igreja e sua Responsabilidade Social e Política



Jesus não era um homem do templo, mas das ruas. Ele não vivia de conchavos na coxia da religião, nem frequentava os bastidores do sinédrio, não estava entre os teólogos de Israel, ortodoxos calcificados de coração e gangrenados de consciência.

Na verdade, o Galileu era um homem de atitudes e muitas de suas ações foram, por assim dizer, ações sociopolíticas. Não há Evangelho nem salvação que seja o bastante para alguém com fome e com medo. As marcas do Reino de Deus ainda são amor e justiça!

Por isso o Senhor deu pão aos famintos de Betsaida, nos desafiando, assim, a assumirmos a responsabilidade com as questões ligadas a miséria e a fome. Ele entrou na aldeia dos leprosos, excluídos do convívio social, demonstrando que seus seguidores deveriam invadir os guetos e os antros das cidades e passou pela terra dos samaritanos, gente expurgada da vida pelo preconceito religioso, sinalizando que o caminho do Evangelho deve nos levar a busca do respeito e da tolerância.

Sim, o meu Jesus conversou com o “sindicato” dos coletores de impostos, na casa de Mateus, denunciou o comércio da religião, que era a mola da economia de Jerusalém e condenou as ações políticas do Rei Herodes, um fantoche nas mãos do Império Romano.

A igreja, equivocadamente, se excluiu do debate social e político porque só tem interesses no Reino dos Céus, esquece que o Reino proposto por Jesus é um Reino de consciência! Há anos ouço líderes evangélicos afirmarem que Jesus nunca misturou política e religião, pois vaticinou: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Nunca vi uma exegese tão fajuta e fraudulenta!

Desta perspectiva, Jesus era um indivíduo dicotômico, que departamentalizava as dinâmicas da existência, separava o natural do espiritual. Absurdo! Ele nunca fez isso! Viveu com intensidade cada instante, não se privou de nada nem fugiu daquilo que entendia ser a dádiva do Pai no banquete da vida.

O fato é que Jesus vivia numa teocracia, o imperador de Roma era um deus, adorado e cultuado como tal, um déspota legislando o que bem entendia. O imposto, naquela circunstância, foi só o pano de fundo da armadilha dos fariseus. Eles, contudo, não puderam entender a resposta do Senhor e a maioria dos religiosos, até hoje, ainda não pode.

Eu creio que Jesus afirmou: “Dai a César o que é de César”, referindo-se ao fato de que um deus terreno só pode receber o que provém da terra, no caso, o pagamento do imposto. Era com isso que César se importava e se satisfazia. Mas ele complementou: “Dai a Deus o que é de Deus”, ou seja, dê ao todo-poderoso aquilo que lhe é devido – glória, honra, louvor e devoção verdadeira – pois o Pai procura a estes que assim o façam. Ele não fez separação de coisa alguma, mas pôs tudo em seu devido lugar.

Acredite, a igreja sempre foi chamada a se envolver com as questões políticas e sociais e continuar a negligenciar isto é abdicar de influenciar os destinos deste mundo. Do jeito que está hoje, a igreja é uma organização com pouquíssima finalidade, existe de si para si mesma, enclausura-se em seus programas e exclui-se de tudo o que não for concernente à doutrina e a fé. Eu penso que a igreja só poderá ser relevante neste tempo se estiver envolvida com todos os processos e dinâmicas da vida e isso inclui as demandas políticas e sociais.

É mister, então, compreender, que não há como contribuir de forma propositiva com a sociedade apenas com louvor e pregação. Uma igreja que tenha algum significado para a história de sua geração precisará, a todo custo, sair do átrio do templo para as ruas, precisará aprender a lotar as galerias do Congresso, onde as leis estão sendo feitas, ao invés de lotar as galerias dos teatros, em busca de ouvir artistas gospel.

É tempo de agirmos! O mundo carece de líderes e de pessoas com boa consciência, gente do bem, para influenciar sindicatos, partidos, organizações e políticos! E acredite: você pode ser um destes...

© 2015 Carlos Moreira

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