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29 março 2011

"Odres" Novos, "Vinho" Velho.



Durante 20 anos ministrei louvor na Igreja. Sinto-me privilegiado por ter tido por referência toda uma geração de músicos e cantores que mudaram o sentido e o significado da utilização da música como meio de adoração a Deus.



Cresci ouvindo estes homens maravilhosos e suas músicas encantadoras! Guilherme Kerr, Jorge Camargo, João Alexandre, Sérgio Pimenta, Gerson Ortega, Asaph Borba, Adhemar de Campos, Benedito Carlos e Nelson Bomilcar. Com eles aprendi sobre o significado de rendição, quebrantamento, humildade, espírito sacrificial, paixão, coisas que se tornaram obsoletas quando tratamos da música em nossos dias...


Já faz oito anos que não ministro louvor. Mas no meu entendimento, há pelo menos quinze o ministério da adoração perdeu totalmente o seu propósito e significado. Música no meio cristão tornou-se artigo de entretenimento. Músicos viraram mercadores, cobram cachê para tocar, seja onde for, seja em qualquer lugar; cantores agora são “astros pop”, saem ovacionados dos estádios, tem produção profissional, vendem milhões de cd’s e dv’s no eletrizante mercado da música “gospel”.

Tenho apenas 44 anos, mas sou do tempo em que os jovens se reuniam para ir a um ginásio assistir a um culto com a presença dos Vencedores por Cristo. Ali ouvia-se boa música, com letras que exaltavam a Deus e glorificavam a Cristo. Havia conteúdo teológico nas canções, não as baboseiras que ouço hoje. Foi cantando estas canções que aprendi sobre o Sangue, a Cruz, a Justificação, a Santificação, o Nascer de Novo. Nas músicas recitadas agora você chama Jesus para dançar, exige restituição do que é seu, declara que receberá tesouros na terra. É tanta asneira e tanta falta de entendimento que eu não sei como essa moçada consegue fazer “sucesso”.

E levaram a arca de Deus, da casa de Abinadabe, sobre um carro novo; e Uzá e Aió guiavam o carro”. 1ª. Cr. 13:7. Não sei se você conhece esta passagem. Ela trata da tentativa de Davi de levar a Arca da Aliança de Quiriate-Jearim, que estava em Judá, para Jerusalém. A intenção de Davi era boa, mas seu entendimento sobre como realizar tal feito era nenhum.

A passagem completa pode ser lida no capítulo 13 do livro de 1ª Crônicas. Davi havia acabado de ser conclamado Rei e teve o entendimento de que deveria trazer a Arca “pois nos dias de Saul não nos valemos dela”. O Rei sabia que aquele artefato era muito mais do que uma obra de artífice, mas tinha o significado da presença de Deus no meio do Seu povo. E Davi não queria começar a governar sem que o Senhor estivesse entronizado na tenda da congregação, no meio do tabernáculo.

Mas como se diz por aí, “de idéia boa o inferno está cheio”. Ao invés de consultar os Rolos Sagrados para averiguar como Deus havia ordenado que a Arca fosse levada, Davi partiu para a “inovação”. Enfeitou um carro de boi novo, colocou um bocado de penduricalhos, e depositou a Arca em cima dele. E fez mais: para dar um tom ainda mais imponente ao cortejo, pôs dois sacerdotes paramentados para comboiarem a procissão. O resultado foi trágico! O carro de boi tropeçou numa pedra quando, a caminho de Jerusalém, passava por um riacho, e Uzá, sacerdote do Deus altíssimo, tentando dar uma mãozinha a Ele, colocou a mão na Arca para que ela não se despedaçasse no chão. Foi o suficiente para acender a ira do Todo-Poderoso, o que fez com que ele fosse fulminado e morresse ali mesmo imediatamente. 

Naquele episódio funesto, houve três problemas. O primeiro é que a arca não podia ser levada num carro de boi, mesmo sendo ele novo e emperiquitado. A Arca tinha de ser levada por pessoas, alçada sobre seus ombros. O segundo problema é que a Arca não podia ser conduzida por qualquer um, mesmo que estes fossem sacerdotes, mas apenas pelos levitas, que eram os únicos qualificados e separados para tal ofício. Finalmente, o terceiro problema é que, não havendo discernimento da parte de ninguém, perdeu-se totalmente a percepção do que a Arca simbolizava, ou seja, a presença do próprio Deus! Esse foi o motivo de Uzá ter morrido, pois ele tocou não apenas num artefato religioso, mas na santidade do próprio Deus!

Há muitas lições a serem aprendidas nesta passagem. Quisera eu que os cantores e músicos de nossos dias pudessem compreendê-las. Vejo o que fizeram com o louvor e a adoração com tristeza e até pavor. Transformaram o que deveria ser um culto em um show, com direito a fumaça, luzes, som de última geração, marketing, produção, e toda a pirotecnia utilizada pelas bandas seculares. É o “carro de boi novo”, a parafernália “gospel” tentando compensar a falta de graça e unção com som estridente e plasticidade performática.

Em lugar de “levitas”, gente consagrada e separada para a adoração, ainda que não nos moldes do velho testamento, é claro, temos agora astros e estrelas de grande popularidade. Eles precisam de figurinistas, maquiadores, cabeleireiros, personal trainer, todo um aparato periférico para que possam brilhar quando subirem ao palco. Brilham mais do que Jesus! A eles, então, seja dado todo louvor e toda a adoração!

Confesso que nunca fui a um show destes. Tenho pavor de que Deus derrame fogo do céu e consuma tudo o que estiver embaixo. Tenho medo de “tocar na Arca” sem morrer. Essa gente, devo admitir, ou tem muita coragem ou é totalmente cega de entendimento. Eles banalizam o sagrado, roubam para si aquilo que não lhes pertence – pois a glória é honra para Deus, mas veneno para o homem. Quem dela se alimentar morrerá em meio a seus próprios devaneios. Aliás, o simples fato destes falsários não perceberem o que fazem já é o atestado de que há muito estão mortos em seus próprios pecados e cobiça.

Talvez você me pergunte: “há exceções?”. E eu lhes digo: “há. Mas são pouquíssimas...". Eu gosto de alguns grupos, e acho que eles fazem um bom "trabalho". Mas são periféricos justamente porque não "jogam o jogo", não pagam "jabá", não compram canções de poetas ateus e agnósticos, não se deixam produzir por figurões da cena musical nacional. Sim, gosto de gente como Vineyard, mas sei que eles não vendem aos milhões nem enchem estádios. Sou músico, já gravei, já produzi, sei do que estou falando. Aqui não está um teórico que fez uma pesquisa na net para escrever um artigo bobo. Conheço este meio, já comi poeira nesta estrada...

Sinto saudade das “velhas” canções do MILAD e dos Vencedores por Cristo! Sinto saudade dos hinos cantados nos cultos dominicais, herança histórica da igreja. Nada contra novos ritmos, instrumentos diversos, letras contextualizadas e melodias modernas, muito pelo contrário, sempre amei o rock’n roll. Mas no fundo o que eu gostaria mesmo era de ver “vinho novo” em “odres novos”, e não “odres novos” com “vinho velho”. Aliás, para ser sincero, este “vinho” já virou vinagre faz tempo – arg! E os “odres”, Deus me livre, há muito que se tornaram vasilha vazias...

Carlos Moreira

6 comentários:

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Abraço!

Thiago N. Fonseca

ANA DEBORA
disse

mais uma coisa que o povo de DEUS esta perdendo
é o dicernimento de espirito, estaum perdendo muito isso..pois as pessoas que fazem parte do
louvor estaum mais preocupada em reunir pessoas
do que salvar pessoas..a palavra de Deus so e
conveniente quando eles querem não ha unção
em louvor gospel atualmente so louvam para si
proprios ninguem quer fazer trabalho evangelico
subir morro..no sol quente e ganhar almas e mais facil cantar, concordo com o pastor carlos
e olha que ele por educação naum deve ter falado
tudo para naum escandalizar, esse meio de louvor
gospel ja caiu em apostasia e quem defende e pq naum sabe da historia a metade, e como carlos falou pergunta se querem louvar a Deus em igreja do interior e receber apenas abraços dos irmãos e carregar instrumentos nas costa
duvido.. evangelico de verdade ta muito restrito
evangelico ao gosto do fregues e que ta valendo

Louvor e adoração não podem ser mercantilizados. Os dons foram dados de graça, para ser partilhados com graça e de graça também. Tenho saudades daqueles hinos que eram autênticos catequismos.
O que hoje se ouve, soa bem ao ouvido, acaricia a alma, mas não promove quebrantamento e mudança de vida.
Haja alguém com coragem para o dizer.

Nós fazemos tudo como idealizamos e esquecemos o que Deus tem preparado para nós.Já vi este cenário no velho testamento.....e infelizmente é o mesmo nos nossas igrejas e que trará consequências trágicas......que Deus nos dê olhos de ver e ouvidos de ouvir.....e palavras de sabedoria para admoestar.......

Êpa, pera lá!

Tudo bem q devemos sim criticar exageros - q existem mesmo. Agora, exigir q tudo seja "de graça" já é pedir demais da conta!

Se algum dia alguém aqui vier a trabalhar profissionalmente com música(e todos os custos de produção, gravação, transporte, alimentação, cachê dos demais músicos envolvidos e dos produtores - pq SIM, isso é UM TRABALHO, não um "hobbezinho" ou um trabalhinho vagabundo qualquer, e demais coisas não citadas aqui) saberá do q estou falando.

A mensagem é de Deus, mas aqui neste planeta, as coisas custam dinheiro(q, por motivos óbvios, "não cai do céu", antes, muito pelo contrário) e o suor de pessoas envolvidas. Portanto, é preciso saber o q tem por trás antes de se fazer tal "exigência de gratuidade".

Morena Flor,
Quem falou em gratuidade? O MILAD e os Vencedores, que citei, não fazia nada de graça, mas encaravam como ministério, ou seja, não viam a coisa como business.

Cara amiga, você não está tratando com um leigo. Trabalhei com isto durante 20 anos! Sei como o "jogo" é jogado, sei qual é a motivação da grande maioria de músicos e cantores em nossos dias, conheço o "intestino" desse "negócio", sei dos meandros e tudo mais. Quem quiser fazer do Evangelho negócio que vá ser músico profissional secular. Quem quiser ganhar dinheiro com música que vá ser profissional da música, mas não faça da mensagem do Reino negócio, pois isso é o que tenho visto, com raríssimas exceções. Acho que quem prega o Evangelho, seja de que forma for, deve viver dele, mas daí a transformar fé em show há um grande abismo.

Com reverência,

Carlos Moreira

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É importante esclarecer que este BLOG, em plena vigência do Estado Democrático de Direito, exercita-se das prerrogativas constantes dos incisos IV e IX, do artigo 5º, da Constituição Federal. Relembrando os referidos textos constitucionais, verifica-se: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato" (inciso IV) e "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença" (inciso IX). Além disso, cabe salientar que a proteção legal de nosso trabalho também se constata na análise mais acurada do inciso VI, do mesmo artigo em comento, quando sentencia que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença". Tendo sido explicitada, faz-se necessário, ainda, esclarecer que as menções, aferições, ou até mesmo as aparentes críticas que, porventura, se façam a respeito de doutrinas das mais diversas crenças, situam-se e estão adstritas tão somente ao campo da "argumentação", ou seja, são abordagens que se limitam puramente às questões teológicas e doutrinárias. Assim sendo, não há que se falar em difamação, crime contra a honra de quem quer que seja, ressaltando-se, inclusive, que tais discussões não estão voltadas para a pessoa, mas para idéias e doutrinas.

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