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28 setembro 2011

Feliz por Nada


"Por isso, tendo o que comer e com que nos vestir, estejamos satisfeitos". 1 Tm. 6:8.

O título deste texto não é meu. Peguei emprestado da escritora Martha Medeiros em seu livro de crônicas que carrega esse nome. A passagem citada acima também não é minha; é do apóstolo Paulo em sua carta pastoral ao seu discípulo Timóteo. O que vem abaixo, todavia, em parte é meu. Digo em parte porque em mim há vários “eus” que não são meus, eles estão em mim e, ainda que não sejam “eu”, entraram em mim e acabaram ficando...

Pois bem, minha questão aqui é saber onde Paulo estava com a cabeça quando escreveu esta frase. E digo isto por uma razão muito simples: é impossível ser feliz com o que ele oferece. Para ser mais exato, não posso nem dizer que ele está oferecendo alguma coisa, uma vez que o que explicita é o mínimo para existir!

A única explicação que encontro para esse descabimento é o fato de que Paulo vivia num mundo desprovido de tudo. Imagine se ele vivesse hoje! Será que teria a coragem de escrever a mesma coisa? Pense bem: seria possível, por exemplo, viver sem um i-Phone? Será que as mulheres poderiam sobreviver sem, pelo menos, uma ida ao salão de beleza por semana? E os homens? Seriam felizes sem ter um carro possante?

Ora, você pode estar pensando que eu exagerei, pois só estou citando futilidades. Tudo bem. Então imagine viver sem chuveiro elétrico? Que tal não ter um ar-condicionado? Você conseguiria conceber a sua cozinha sem um microondas ou sua sala de TV sem um home theater? Deixei, todavia, o pior de tudo para o final: imagine sua casa sem conexão de alta velocidade a internet? Agora eu te peguei! Você poderia viver sem estas coisas? Diga a verdade? Poderia? Sim. O pior, é que poderia...

George Carlin, escritor norte americano, escreveu que nós “aprendemos a sobreviver, mas não a viver; adicionamos anos à nossa vida e não vida aos nossos anos”. De fato, que existência medíocre tem sido esta experimentada pela sociedade contemporânea.  Desgraçadamente, dentre outras coisas terríveis, tornamo-nos escravos da imagem. Imagem é o que interessa! Ela está em todos os lugares, somos movidos por ela, ela é o parâmetro para tudo. Até nossos sonhos são compostos a partir de “imagens armazenadas”.

Bem citou José Geraldo Couto: "a sociedade contemporânea é uma permanente guerra pela conquista do olhar". E haja marketing para chamar nossa atenção, nos fascinar diante das vitrines, dos letreiros, dos anúncios das revistas. É a imagem movendo o mundo, fazendo as pessoas existirem para fora, apenas baseadas na aparência. Cria-se o desejo de ter em detrimento da necessidade de ser.

De fato, a frase de Paulo é absurda, como absurdo é, tanto a Mensagem da Cruz, quanto o Crucificado. O Evangelho é puro absurdo, pois a proposta de Jesus tem a ver com a desconstrução do “eu” com vistas a se tornar possível a construção do “ser”. É o “ser” que é, não o “eu”. Enquanto houver “eu”, nunca poderá existir “ser”, e nós só podemos “ser” em Deus, pois, fora dEle, nada é, tudo torna-se "não-ser".

Sei que o que digo parece loucura e, de fato, é. A insanidade está associada ao fato de que há um grande equívoco em nossa percepção sobre o propósito de Deus quando nos criou. Ele não nos fez para sermos felizes por causa daquilo que possuímos, mas como conseqüência de quem acabamos por nos tornar. Jesus nos incentivou a vencer o mundo, não a vencer no mundo!

Em suma, a intrigante frase de Paulo nos remete a uma inexorável constatação: quem tem Jesus pode ser “feliz por nada”, e isto pelo fato de que Ele é todo suficiente para aquele que, conscientemente, abraçar sua insuficiência em tudo.  Tristemente, todavia, tenho que concordar com Marcelo Soriano quando ele afirma que: "depois do ócio criativo, agora a onda é a futilidade fértil".

Termino com poesia... ou seria profecia? "Essa felicidade que supomos, árvore milagrosa, que sonhamos, toda arreada de dourados pomos, existe, sim, mas nós não a alcançamos, porque está sempre apenas onde a pomos, e nunca a pomos onde nós estamos". Vicente de Carvalho. 

Carlos Moreira

 

3 comentários:

Li no Genizah e amei!

Estou seguindo seu blog agora..rs

se quiser, visite o meu www.firmesnapalavra.blogspot.com

Grande postagem, Carlos! "Feliz por nada" pra mim tem sido um desafio, assim como "Além de estar feliz por nada, descansar em Deus"...

Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?
Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?
E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura?
E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam;
E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.
Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?
Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos?
(Porque todas estas coisas os gentios procuram). De certo vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas;
Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.
Mateus 6:25-34

Engraçado que dias desses eu estava comentando com meu irmão como era mais "emocinante" quando tirávamos fotos, mandávamos revelar e ficava aquela expectativa para ficarem prontas, aquela ansiedade na hora de ver. Bem mais emocionante do que hoje, que já vemos na hora a foto como ficou...rs Claro que tinha suas desvantagens. Na paisagem mais bonita que posamos depois ver que saímos de olhos fechados...rsrrs

Mas na época de Paulo não ter tecnologia era normal, da mesma forma que daqui há 50/100 anos as pessoas vão se perguntar como nós conseguíamos sobreviver sem a tecnologia avançadíssima...

Eu sou da geração que passou pela fase da datilografia e da informática. Nem se compara que para digitar um texto é bem melhor o computador, mas confesso que o excesso de tecnologia não me agrada. Talvez para as pessoas nascidas agora na "geração computador" seja mais normal.

Quanto a estar satisfeito com tudo, não é tarefa fácil. É dia a dia buscar a paz de Deus. Só com ela.

Patrícia.

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É importante esclarecer que este BLOG, em plena vigência do Estado Democrático de Direito, exercita-se das prerrogativas constantes dos incisos IV e IX, do artigo 5º, da Constituição Federal. Relembrando os referidos textos constitucionais, verifica-se: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato" (inciso IV) e "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença" (inciso IX). Além disso, cabe salientar que a proteção legal de nosso trabalho também se constata na análise mais acurada do inciso VI, do mesmo artigo em comento, quando sentencia que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença". Tendo sido explicitada, faz-se necessário, ainda, esclarecer que as menções, aferições, ou até mesmo as aparentes críticas que, porventura, se façam a respeito de doutrinas das mais diversas crenças, situam-se e estão adstritas tão somente ao campo da "argumentação", ou seja, são abordagens que se limitam puramente às questões teológicas e doutrinárias. Assim sendo, não há que se falar em difamação, crime contra a honra de quem quer que seja, ressaltando-se, inclusive, que tais discussões não estão voltadas para a pessoa, mas para idéias e doutrinas.

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