Essa foi uma conversa com alguém que me chamou pelo "in box" do Facebook.
- Pastor, boa noite.
- Oi mana!
- Essa agora eu quero ver... O que o sr. acha de um crente sair fantasiado de DIABO no carnaval?
- kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk! Acho interessante!! É aquele diabo com chifre, tridente, rabo em forma de seta e roupa vermelha?
- Esse mesmo, um que a bíblia chama de SATANÁS!!!!
- Vai ser uma zueira... kkkk. Se ele for esperto, manda um amigo sair de pastor pentecostal – paletó preto, gravata e cabelo engomado... Aí fica um tirando onda com o outro...
- Eu não acredito que estou ouvindo isso!!
- Eu também não!! Kkkkkkkkkkkkkkk
- O sr. concorda com isso?
- Mana, não sou eu que vou sair de diabo, é esse mano que você citou...
- E o sr. não acha nada demais?
- Não. Esse diabo que os crentes criaram, essa caricatura que citei, com rabo, chifre e tridente, é uma projeção do diabo medieval de Dante Alighieri, nada tem a ver com o ser ardiloso, inteligente e sofisticado revelado nas Escrituras. Esse “diabo de igreja”, que produz endemoninhados rosnando e rodopiando, não põe medo nem em criança de dois anos de idade.
- E como é esse seu DIABO???
- Ah... Jesus falou dele como “inimigo das nossas almas”, ou seja, ele age nas subjetividades, estimulando vaidades estilosas, ciúmes doentios, maldades calculadas, mentiras disfarçadas de bondade, desfaçatez ingênua, cobiças perniciosas. Paulo, por sua vez, nos diz que ele se disfarça de “anjo de luz”, travestido de boas obras, promovendo no coração das pessoas aquela piedade perversa, um tipo de ascetismo judaizante, ou uma espiritualidade meritória, ou ainda as barganhas tradicionais com o sagrado. Sim, o diabo se esconde onde crente nem imagina, pois o diabo dos crentes está no barzinho, na boate e no carnaval. O diabo mesmo está sentado no banco da igreja e não raras vezes ajuda o pastor com a “inspiração” para o sermão do domingo...
- Eu fico imaginando o que há na cabeça de um servo de Jesus para sair de diabo no carnaval!
- Eu sei... Ele está fazendo uma crítica bem humorada a safadeza que aí está, uma crítica sofisticada, admito, mas que não poderá ser percebida pela esmagadora maioria das pessoas. Ele tenta fazer o que Nietzsche fez, no século XIX, dizendo que Deus estava morto, pois o cristianismo que ele via praticado pelo clero da igreja protestante e pelos que se diziam cristãos só podia levar a essa conclusão.
- Quem é Nietzsche?
- Um filósofo.
- E o sr. lê essas coisas?
- Claro, eu sou filósofo por formação, mas eu sei que você vai dizer que isso é coisa do diabo! kkkkkkkk
- O mundo está mesmo perdido...
- Olha, mana, se fantasiar de diabo no carnaval é a menor de todas as questões... O problema é se vestir de diabo na igreja, todo domingo, oprimindo a mentezinha de gente sofrida, enganando com sofismas evangelicais os fracos de consciência, proibindo a bebida e bebendo a alma dos angustiados, cerceado o fumo e tragando o desespero dos famintos de esperança, proibindo o sexo e se amancebando com o dinheiro e a cobiça. Sim, tem mais diabo dentro da igreja que no carnaval, pois no carnaval ninguém está enganado de sua condição, quem está perdido sabe de si mesmo, mas na igreja o diabo ajuda a manter mentes entorpecidas, gente anestesiada de coração, que se esconde atrás de regrinhas bobas e de uma agenda pirotécnica, são seres de performance, mas sem conteúdo de vida, nada sabem do amor, da justiça ou da misericórdia.
- O sr. deixaria um crente de sua igreja sair de diabo?
- Não faço blitz na comunidade, não sei quem vai brincar ou não, todo mundo é maduro para fazer suas escolhas, eu não trato a alma das pessoas como latifúndio da religião, nem exerço sobre elas um magnetismo hipnótico em nome de Deus, quem vai lá é livre para entrar, sair e voltar, essa é a única regra, que todo homem seja livre para viver conforme a sua consciência em Jesus e no Evangelho.
- Pois eu nunca irei em sua igreja!
- Eu sei, mana, você prefere ir aonde o diabo fala com voz impostada, paletó engomado, bíblia na mão e cheiro de enxofre...
Carlos Moreira
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