Ficamos porque acreditamos...
Não consigo fazer nada se não estiver apaixonado. Mesmo que possa parecer pieguismo, confesso: só tenho êxito quando realizo coisas que me dão prazer, algo que faça meu coração acelerar.
Por isso a mesmice me apavora, a rotina me enfada, o conforto me desencanta. Tenho medo do fracasso. Sempre tive... É daí que vem essa ânsia de realizar, de construir, mesmo quando o melhor seria ficar parado. No fundo, é o desespero, lembrando de Nietzsche, de não me tornar nunca aquilo que sou, ser apenas um rosto na multidão, ou, como diz a frase da música do Pink Floyd, “apenas um tijolo a mais na parede”.
Quando eu fico, é porque acredito. Minha obstinação consegue ser obtusa. Sou capaz de perseverar até mesmo no erro. Por vezes, vou de encontro à razão, ao óbvio. Para mim, abandonar algo é uma das coisas mais difíceis da existência, seja um amor, um trabalho, um sonho ou uma amizade.
Fugimos porque nos desiludimos...
Alegoricamente falando, eu sou Hebreu. Sim, sou um ser desalojado, um andarilho da existência, homem de “tendas”... Já dei muitas voltas ao mundo sem sair do meu “cantinho”... Detesto a fixidez, o dogma, a norma, a lei. Fujo daquilo que é hermético, tenho horror à censura, não curto regras nem dominação. Bem disse a Rita Lee: “será que tudo que eu gosto é ilegal, é imoral, ou engorda?”. Desculpe... Não se escandalize...
Mas creia-me, há situações em que é preciso largar, deixar ir, deixar-se levar... Parece covardia, mas não é! Trata-se de virar a página, renovar “aromas”, saber que “é claro que o sol vai voltar amanhã, mas uma vez, eu sei...”. Só a desilusão é capaz de me remover, arrancar as estacas que finquei no chão da vida, me tirar de algo ou de alguém. Sim, quando me desiludo eu fujo, “peço a conta” e vou embora, não meço, sequer, as conseqüências.
Voltamos porque estamos perdidos...
“Caindo em si, disse: vou voltar...”. Foi à decisão do “filho pródigo”. Caiu em si... Caiu para cima e para dentro, teve a ousadia de perceber-se incompleto, a petulância de reconhecer-se como, de fato, era. Sim, nós voltamos quando nos perdemos, sobretudo, quando nos desencontramos de nós mesmos...
Mas isso só os "grandes" podem realizar, porque o caminho de volta é sempre doloroso e solitário. Quem volta sempre tenciona “chegar por cima”, com “ares de festas e luas de prata”. Mas, não raras vezes, ao retornarmos, a única coisa que trazemos na “bagagem” é apenas um punhado de desilusões...
Morremos porque nos comprometemos...
Fico pensando até onde vai a minha fé, se eu seria capaz de morrer pela causa do Evangelho? Viver por Jesus é fácil. Morrer por Ele...? Nietzsche afirmou certa vez que no ocidente cristão já houve um tempo em que as pessoas estavam dispostas a morrer por Deus, pela pátria e pela família. Contudo, para ele, esse tempo já havia terminado.
Parece mesmo verdade... Ninguém está disposto a morrer por mais nada. Somos uma geração sem referências, sem destino e sem consciência. Já dizia o Raul Seixas em sua canção: “eu não sou besta pra tirar onda de herói...”. Talvez eu seja um dos últimos “tolos”, alguém que ainda se angustia com estas questões... É, talvez eu morresse por Jesus; talvez...
“Ficamos porque acreditamos. Fugimos porque nos desiludimos. Voltamos porque estamos perdidos. Morremos porque nos comprometemos”.
Este texto não é “religioso”. Nele não tem doutrina, nem apologética, nem tão pouco sistematizações. Não fiz citações bíblicas, não me utilizei da hermenêutica, nem mesmo fiz alusão a algum dos personagens das Escrituras. Por isso, é provável que não lhe sirva para absolutamente nada. Ele é apenas um desabafo. É que eu estou fazendo uma faxina na alma, revirando “entulhos”.
Carlos Moreira