Eram duas horas da manhã e fazia um frio de rachar em Sampa. Cheguei e fui direto para o hotel. Trabalhei até a madrugada quando meu corpo deu sinal de alarme: “low battery”.
Nesse mesmo dia, eu havia acordado muito cedo e o decorrer das horas foram pesadas: trabalho no escritório, trabalho dentro do avião, isso sem contar com o cansaço da viagem em si e o deslocamento todo que ela engloba: táxi, aeroporto e hotel.
Naquela madrugada, sentei-me próximo à varanda do quarto de hotel e me deixei levar pela paisagem da garoa caindo sobre a Avenida Paulista. Enrolado no edredom, sem sono e sem sonhos, me permiti divagar. Pensei que não era só eu, naquele momento, a fitar aquele céu e que deveriam ser muitos os que estavam acordados fazendo o mesmo e desejando dias melhores.
Viajar me causa uma melancolia. Talvez porque eu já tenha rodado demais na vida... Negócios, projetos, parcerias, problemas com clientes, reuniões boas, reuniões ruins, reuniões azedas, reuniões e mais reuniões...
Viajar me causa uma melancolia. Talvez porque eu já tenha rodado demais na vida... Negócios, projetos, parcerias, problemas com clientes, reuniões boas, reuniões ruins, reuniões azedas, reuniões e mais reuniões...
Tanta coisa assim, começando pelo café da manhã e indo até o último gole de vinho, já na madrugada, me faz perder até as percepções mais naturais. Ao final do dia, nem sequer consigo lembrar com quem estive falando. Às vezes, acordo no meio da noite e não sei onde estou. Por isso sempre deixo a janela aberta, pois, olhando para o lado de fora, consigo me localizar melhor. “Tempos modernos”, diria Chaplin.
Táxi, aeroporto e hotel, eles nunca me largam. A noite avança geralmente fria, com os poucos carros que ainda circulam pelas ruas. Na minha cabeça passam mil coisas: “o que fazem as pessoas dentro desses carros? No que elas estarão pen-sando? Será que, como eu, estão no piloto automático — ao fim de mais um dia — na melancolia das horas, contando os minutos para o sono chegar e o “chip” ser desligado?”.
Mas, como de costume, no dia seguinte, começa tudo de novo! E na minha solidão vou seguindo atrás da agenda que nem carnavalesco na Quarta-Feira de Cinzas. Sorriso no rosto, terno impecável, sapato engraxado, mochila com notebook nas costas, iPhone a postos, cartão de visita no bolso, o kit de ataque completo que um executivo precisa ter para tentar fazer dinheiro.
Durante o dia, as máquinas funcionam impecavelmente, desde que haja “link”, mas o meu sorriso se
desfaz como sorvete à luz do sol. É que, para mim, alegria vem de dentro, não é plástica performática estampada no rosto como personagem de novela.
desfaz como sorvete à luz do sol. É que, para mim, alegria vem de dentro, não é plástica performática estampada no rosto como personagem de novela.
Mesmo que eu feche negócios aos milhões, ao final do dia estarei de novo sentado na janela, enroscado no edredom, olhando para o nada e pensando no que farei na manhã seguinte.
A rotina come as pessoas por dentro. Talvez por isso me sinta, por vezes, oco, vazio, um galpão enorme sem nada dentro.
Sei que Jesus fala para aprendermos a ser gratos. A gratidão é dádiva degustada por poucos. Sou grato pela rotina, ainda que não tenha conseguido lidar bem com ela nestes últimos 30 anos de trabalho.
Mas tenho esperança de que ainda conseguirei. Há dias singulares, mas são poucos... Tenho tentado ser agradecido por cada coisa, até mesmo pela solidão, que me faz querer ir atrás de sonhos que são impossíveis de realizar.
Há, todavia, uma esperança no final do túnel! Nas sextas, tudo volta ao normal. O retorno para casa: hotel, táxi, aeroporto, avião, viagem, planilha aberta no voo... E a velha cerveja no final de mais uma noite fria. Esse é o trajeto que me leva de volta, de Sampa para Recife – horas que parecem não acabar nunca...
O que me espera na chegada é apenas o taxista. Carrego minhas malas e as deposito no carro. Adentro a noite escura de minha cidade seguindo pela Mascarenhas de Moraes até em casa. Entro em silêncio, guardo as malas, tomo um banho quente, deito sem sono, fico olhando o teto e as luzes pela janela... Mais uma jornada cumprida.
Obrigado, Senhor, pela rotina nossa de cada dia. Ajuda-me a dar a ela algum outro significado. É que o atual não dá mais para o gasto. Semana que vem, tem tudo de novo: táxi, aeroporto e hotel.
Mas tenho esperança de que ainda conseguirei. Há dias singulares, mas são poucos... Tenho tentado ser agradecido por cada coisa, até mesmo pela solidão, que me faz querer ir atrás de sonhos que são impossíveis de realizar.
Há, todavia, uma esperança no final do túnel! Nas sextas, tudo volta ao normal. O retorno para casa: hotel, táxi, aeroporto, avião, viagem, planilha aberta no voo... E a velha cerveja no final de mais uma noite fria. Esse é o trajeto que me leva de volta, de Sampa para Recife – horas que parecem não acabar nunca...
O que me espera na chegada é apenas o taxista. Carrego minhas malas e as deposito no carro. Adentro a noite escura de minha cidade seguindo pela Mascarenhas de Moraes até em casa. Entro em silêncio, guardo as malas, tomo um banho quente, deito sem sono, fico olhando o teto e as luzes pela janela... Mais uma jornada cumprida.
Obrigado, Senhor, pela rotina nossa de cada dia. Ajuda-me a dar a ela algum outro significado. É que o atual não dá mais para o gasto. Semana que vem, tem tudo de novo: táxi, aeroporto e hotel.
Carlos Moreira