Se Deus me permitir viver a média dos brasileiros, morrerei com cerca de 72 anos. Isso significa que há apenas mais 1/3 da jornada a ser conquistado, boa parte do caminho já foi feita, o dia da chegada no meu lar se aproxima.
Sim, eu já tenho calos nos pés de tanto chão trilhado, contudo, ainda há estradas por onde não passei, lugares dentro de mim que são inabitados. Herman Hess diz que os passos dos homens são dados para dentro, a vida é simplesmente um seguir de rastros.
Mas eu também tenho calos no coração, pois o existir produz marcas, esculpe na tapeçaria dos dias tatuagens que se projetam no chão do ser. Aos quase 50 anos vejo o físico sofrendo os desgastes dos anos, não obstante me regozijo ao perceber que minha musculatura emocional aguenta sopapos, eu estou na meia-idade, mas minha alma é velha.
Hoje, ao ler a carta de Paulo ao seu filho Timóteo, deparei-me com a exortação do apóstolo que diz: “Ninguém despreze a tua juventude”. Timóteo estava em Éfeso, exercia o ministério pastoral, devia ter aproximadamente 30 anos, o que era considerado muito pouca idade para um homem que precisava aconselhar anciãos.
Naquele tempo, era sinal de respeito o possuir cabelos grisalhos, algo que, certamente, faltava ao jovem pastor. Foi por isso, certamente, que Paulo se viu estimulado a pedir aos irmãos da igreja que respeitassem o “garoto”, discernissem o dom do Espírito Santo em sua vida e relevassem sua pouca experiência.
Ah, se fosse possível o apóstolo escrever para mim, gostaria que dissesse: “Ninguém despreze a tua velhice”. Seria de muita serventia esse conselho para o tempo presente. É que envelhecer cansa, sobretudo num país onde os idosos são desprezados e a idade avançada é vista como um fardo, um atrapalho, onde os filhos estão dispostos a deixar seus pais em asilos, ou, pior ainda, exilados de tudo dentro de suas próprias casas.
O mesmo se dá na igreja...
O Velho é visto como empecilho, ele é resistente ao “novo”, parece ter sempre uma palavra que estraga-prazer. Mais saiba que, por certo, um homem velho carrega a experiência de toda uma jornada, acumula muitos sonhos que não puderam se realizar, tem muito mais certezas do que dúvidas e apesar da fragilidade da visão, pode enxergar muito longe onde certos caminhos nos levarão. Eu tenho respeito pela velhice, ela revela no rosto as dores da vida, as perdas inevitáveis, os fracassos incontornáveis, a resignação ante o impossível.
Eu sei, este pode até parece um texto melancólico, mas eu gosto de pensar que são apenas palavras lúcidas, de um homem que não teme envelhecer, ainda que saiba que essa estação outonal da existência guarda mais tristezas do que sorrisos...
Carlos Moreira