Hoje tomei conhecimento de algo que já era aguardado por muitos: a notícia de que o cristianismo faleceu. Ao contrário do que talvez se pense, não foi uma morte repentina, uma vez que sua falência múltipla já se arrastava por, pelo menos, meio século. Morreu de infecção generalizada!
Na verdade, a saúde do cristianismo nunca foi boa. Isso podia ser percebido já em seus primeiros anos. Sua origem está associada ao
movimento chamado “os do Caminho”, que remonta aos primeiros discípulos de Jesus, o
Cristo. No segundo século, este grupo havia crescido assustadoramente, tinha
seguidores em todas as camadas da sociedade e na maior parte do mundo habitado.
No terceiro século, todavia, o “movimento do Caminho” sofreu
um duro golpe: foi transformado pelo imperador romano Constantino na religião
oficial do império. Essa institucionalização, que se deu em 325 d.C., numa
reunião denominada de Concílio de Nicéia, estabeleceu a ruptura definitiva
entre os antigos seguidores de Jesus e os que passaram a organizar e normatizar
essa nova fé.
A idade média foi muito dura com o cristianismo. Já como
religião dominante do ocidente, ele viu-se em voltas com inúmeros problemas. Teve
de lidar, dentre outros, com a infiltração e o crescimento de falsas doutrinas,
além da grave corrupção do clero. Apesar de ter se estabelecido como um poder
terreno, tanto político quanto religioso, começava a apresentar os
primeiros sinais de doença grave.
O auge dessa crise, contanto, se deu na idade moderna, no século
XVI. Foi nesse período que o cristianismo enfrentou mais um sério problema: o
seu mais contundente cisma. Denominado de Reforma Protestante, foi liderado
por um monge alemão de nome Martinho Lutero, e refletiu o desejo de mudança que
já se podia sentir pelo menos 200 anos antes.
As intenções da Reforma eram boas, mas seus desdobramentos
mostraram que ela não se constituiu no remédio definitivo para a “cura do mal”.
Polarizado, tendo de um lado a igreja de Roma e do outro as centenas de denominações
Protestantes, o cristianismo começou a agonizar. Na idade contemporânea, estava
infectado por politicagem, corrupção, desvios, fragmentações, o que acelerou o
agravamento de sua situação.
O século XXI iniciou com o cristianismo já em estado de
coma. Os últimos anos do século XX foram decisivos para sua decadência final. Os
problemas generalizaram-se, em todas as esferas, e atingiram duramente seus líderes.
Escândalos sem precedentes marcaram sua derrocada. Entre os mais graves, casos
de pedofilia, de enriquecimento ilícito, prostituição no clero, lavagem de dinheiro
e os sucessivos e agora insustentáveis desvios doutrinários. A morte era só uma
questão de tempo. Enfim, chegou.
Quero aqui me solidarizar com mais de dois bilhões de fiéis que
ficaram órfãos de sua religião. Sinto a dor dos que foram manipulados,
espoliados, dos que foram iludidos com falsas esperanças. Sim, choro com você
que acreditou num deus feito pelos homens, numa fé calcada em magia, numa
proposta de mudanças epidérmicas, que alteram a aparência, mas que jamais chegam
aos escaninhos da alma e as câmaras do coração.
Querido amigo, sou reverente com sua dor. Sinto pelo engano
do qual você se tornou vítima. Apesar de sua mente ter passado por uma “lavagem”,
sua consciência nunca foi ressignifcada. Suas práticas não lhe levaram a nada
porque eram apenas ritos ocos, regras tolas, nunca se constituíram em mudança
profunda no caráter que produzisse furtos de justiça.
Estou certo que suas intenções eram boas. Mas, convenhamos, é
impossível que doutrinas judaizantes, simbiotizadas com religiões de mistérios
antigas e filosofias gregas, sobretudo a lógica aristotélica, pudesse fazer
alguém transcender e chegar ao Deus Eterno. Isso, creia-me, só é possível por
meio do Sangue de Jesus de Nazaré, uma vez quebrantado o coração por causa da
Graça e acesa a consciência para o arrependimento por meio da fé.
Notícias que chegam a todo instante dão conta de que o
sepultamento do cristianismo ainda não tem data certa. Neste momento, há
intensa discussão sobre o local, que poderá ser a Basílica de São Pedro, a
catedral de Westiminster ou a catedral de Canterbury, e também sobre quem deverá
ser o oficiante da cerimônia.
Em todo o mundo, grupos religiosos se preparam para receber
o “espólio” dos cristãos, não só os bens da igreja, que são numerosos, mas,
sobretudo, as pessoas. Acredita-se que a migração será fragmentada, com grupos
aderindo ao islamismo, outros retornando ao judaísmo, e ainda os que buscarão
religiões espiritualistas orientais.
A boa notícia, em meio a toda essa tragédia, é que ainda
sobrevive um pequeno remanescente dos que acreditam em Jesus de Nazaré. Em todo
o mundo, discípulos do profeta da Galiléia continuam a reunir-se em casas,
escolas, pequenos auditórios e igrejas para celebrar ao Deus Verdadeiro. Eles
se dizem oriundos do “movimento do Caminho”, o qual está associado aos
primeiros apóstolos e pais da igreja dos dois primeiros séculos.
Esse grupo permanece, até hoje, fiel a Escritura Sagrada, amando
a Deus sobre todas as coisas e sendo solidário com o próximo. Curiosamente, eles
sempre se fizeram presentes na história, ora coexistindo dentro do próprio cristianismo,
ora correndo paralelo a ele. Surpreendentemente, a fé destes discípulos de
Jesus sobreviveu há séculos de crendices e hoje parece ter se tornado madura e consistente.
Trata-se de gente carregada de uma singeleza no olhar, pois
eles são mansos, humildes, cheios de compaixão e misericórdia. Não será difícil
reconhecê-los. Estão sempre dispostos a ajudar, são coerentes com aquilo que
pregam e vivem, falam de esperança, amam com sinceridade, são desapegados.
Quais errantes, eles estão em todo lugar, e sempre anunciam o
que chamam de Evangelho. Essa mensagem milenar, que parecia totalmente esquecida,
apregoa que Deus se reconciliou com os homens por intermédio de Jesus, não mais
imputando aos mesmos os seus pecados, mas assegurando a todo o que crê a vida
eterna.
Quem desejar conferir que fique atento! Pode existir um
grupo destes bem próximo a você. Vale a pena visitá-los e conhecer a extraordinária
mensagem que eles carregam encarnada em si mesmos.
Carlos Moreira
Carlos Moreira