Em tempos de teologia da prosperidade, dos “mais que vencedores”, daqueles que decretam e “deus” faz, dos que não adoecem, não se deprimem, comem das “iguarias da terra” e desfrutam do “melhor” que lhes está “reservado”, eu confesso: sou um derrotado!
Provavelmente não há esperança para mim... Existo em meio a
contradições, minha alma está dividida, estou em “milhares de cacos, eu estou ao meio”. A grande maioria dos meus
sonhos nunca se cumpriu, boa parte dos projetos que idealizei deu em nada, já
trabalhei sem ter resultados, me senti por vezes como Sansão, rodando a grande
roda de moinho da vida sem sair do lugar.
Mesmo dizendo para mim mesmo que “tudo posso naquele que me fortalece”, continuo sentindo medo. Há
“fantasmas” percorrendo as ruas sombrias da minha alma, lembranças que me
atormentam, “vozes” que me assustam. Não raro sinto um aperto no coração, falta
de ar, falta de espaço, falta de chão! Eu bem que queria ser daqueles que nunca
retrocedem, que derrotam os “gigantes” e jamais caem na “batalha”, mas a
verdade é que sou frágil, me canso, me desmotivo, sou como um qualquer, sou genérico,
ainda que desejasse ser singular...
Como disse o Lulu Santos em sua canção, “já não tenho dedos pra contar de quantos
barrancos despenquei, e quantas pedras me atiraram, ou quantas atirei”. Já
me meti em muitas enrascadas, fiz escolhas desastrosas, perdi tempo, perdi
dinheiro, perdi amigos, perdi vida, essa coisa preciosa que não se pode
recuperar, vida que escorreu pelos meus dedos, seiva que se foi como um rio
pelo esgoto do cotidiano.
Na verdade, “eu não
sou um homem; sou um campo de batalhas” como afirmou Nietzsche. Dentro de
mim há fogo, dores, desencontros e paradoxos. Estou em “guerra” contra Deus,
contra o meu semelhante, contra mim mesmo. Luto para saber quem sou, por que sou,
de onde vim, para onde vou? Por vezes eu tenho as respostas, já em outros
momentos sinto-me suspenso, dependurado sob a navalha da verdade, encurralado
entre a razão e a fé, entre o real e o intangível.
Mais há uma fagulha em mim que teima em não apagar. Mesmo
reconhecendo que perdi muitas coisas, nunca se extinguiu a paixão que sinto por
Deus. Ainda que eu esteja neste atoleiro existencial, onde não se vai nem para
frente nem para trás, continuo crendo, pois existir é absurdo, é contra-fluxo,
é contra-mão.
Eis, então, surge a “dialética de Paulo”: “de todos os lados somos pressionados, mas
não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos,
mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos”. Talvez lhe pareça o
coro dos insensatos, mas não é. É paradoxo, é mistério, é, sem dúvida alguma,
incompreensível tentar compreender com as lentes da razão aquilo que só pode
ser discernido pelo coração.
Talvez seja por isso que eu continuo, insisto, não desisto.
Há dias que estou de pé e outros nos quais me arrasto pelo chão gelado do
inimaginável. Vou, como diz Che Guevara, “derrota
após derrota até a vitória final”. Faço como me ensina a Escritura, “diga o fraco: eu sou forte”.
E quem foi que disse que só se vence quando se ganha? Que nada!
Muito pelo contrário, há vitórias que só podem ser atingidas quando se é
“derrotado”, pois é “morrendo que se vive
para a vida eterna”! E aqui eu lhe afirmo: existe, sim, aqueles que só
vencem ao fracassar, os que abriram mão de ser qualquer coisa que não seja em
Deus.
Num mundo feito apenas para os “campeões”, prefiro ser
perdedor. E se você quiser saber o que é derrota, eu vou lhe dizer, nas
palavras de Martha Medeiros: “derrota é
quando a gente ganha dos outros, mas desiste de si mesmo”. A bem da
verdade, já desisti de mim muitas vezes, e só continuo por aqui porque “Ele”
jamais desistiu...
Carlos Moreira
Carlos Moreira