Dois
dos maiores ícones da filosofia e da psicanálise do século XIX foram grandes
inimigos da religião: Sigmund Freud e Friedrich Nietzsche.
Freud
via a religião como um sistema irracional, indemonstrável e de recusa à
realidade. Nietzsche, por sua vez, repudiou os valores cristãos como “humanos,
demasiadamente humanos” e chamou a moral cristã de “moral de escravos”.
Sigmund
Freud afirmava que em todas as épocas, a imoralidade não encontrou menos apoio
na religião do que na moralidade. Friedrich Nietzsche, bem mais enfático do que
Freud, disse certa vez: “sempre tive a necessidade de lavar as mãos ao entrar
em contato com as pessoas religiosas”.
A
essa altura você deve está perguntando por que estes homens tão inteligentes
nutriram tal repulsa pela religião e pela igreja? De onde vêm a indiferença de
Freud e o ódio de Nietzsche?
Como
pode um homem como Nietzsche, criado em lar protestante, filho de pastor,
tornar-se um inimigo declarado da religião e da igreja? Que fatores teriam
contribuído para essa aversão? Eu explico.
Para
entender os motivos dessa indisposição de Freud e Nietzsche quanto à religião é
preciso, logo de início, descartar certas explicações fantasiosas e infundadas
como, por exemplo, dizer que satanás “cegou” a ambos para que não enxergassem a
vontade de Deus. Deixe o diabo fora disso; desta vez ele não tem culpa nenhuma!
A
aversão de Freud e Nietzsche pela religião é coisa deste mundo, obra de homens
e não tem qualquer ligação com nenhum ser metafísico, habitante do inferno ou
não. A atitude de ambos foi uma reação a uma religião castradora, hipócrita e
mesquinha.
Nietzsche
via no cristianismo uma negação da vontade para a vida e na igreja um ambiente
propício ao florescimento das atitudes hipócritas e dissimuladas. “Se você quer
respirar um pouco de ar puro não vá a um templo”, disse certa vez ao referir-se
à igreja como coisa da gentalha.
Tanto
Freud como Nietzsche perceberam que a igreja não resolvia os dilemas humanos,
apenas ajudava a reprimir certos impulsos para o “pecado” que em pouco tempo
voltavam a aflorar de forma mais avassaladora ainda. A igreja, neste caso, agia
como uma empregada doméstica que ao invés de recolher a sujeira jogando-a no
lixo, apenas empurrava-a para debaixo do tapete.
Reprimir
impulsos não é o mesmo que controlá-los racionalmente. Um “cristão” produzido
nestes termos não demora muito para “adornar a casa e receber mais sete
demônios” com festa de boas vindas e de braços abertos.
Quem
nunca se deparou com um “crente afastado dos caminhos do senhor” e que
transgride dez vezes mais depois de descobrir que lhe ensinaram uma mentira e
ter rompido totalmente com a igreja? O erro da igreja é querer ser certa demais
quando não possui autoridade e nem moral para tanto!
O
diabo não está fora das igrejas, pelo contrário, ele freqüenta os cultos e
missas assiduamente e inspira certos bobalhões que não sabem o que estão
dizendo quando proferem baboseiras sem fim dos seus púlpitos alienantes e
desprezíveis!
Além
disso, há também o problema da corrupção política dentro da igreja. Uma reunião
de clérigos e uma de políticos sagazes e desonestos não tem muita diferença. A
instituição eclesiástica e Brasília não destoam muito uma da outra. O templo e
o plenário da câmara também não!
É
a igreja que afasta as pessoas da igreja, e não o coitado do diabo, como dizem
os clérigos muito “espirituais”. O cristianismo é como o mítico deus grego
kronos que se alimentava dos seus próprios filhos matando-os quando deveria
salvá-los!
No
segundo século da era cristã, os pais apostólicos discutiam entre si sobre a
possibilidade ou não de haver salvação dentro da igreja. Hoje a questão
inverteu-se e talvez seja mais correto perguntar se há possibilidade de alguém
salvar-se estando dentro da igreja. Nietzsche e Freud recomendariam: “por via
das dúvidas, é melhor ficar longe dos templos”!
André
Pessoa Via Século XXI