Sem dúvida alguma, um dos maiores fenômenos da tecnologia nos
últimos anos são as chamadas redes sociais. Elas nos oferecem interação em
tempo real com uma comunidade de pessoas, muitas das quais conhecemos
intimamente, outras nem tanto, além de permitir que fatos e circunstâncias de
nossas vidas possam ser vistos e comentados por terceiros.
Uma dessas redes sociais, que tem por objetivo promover diversão,
criou um produto que permite que residentes do universo online possam viver uma
vida paralela. Nele é possível trabalhar, estudar, passear, namorar, fazer
compras, vender, ter novos amigos, viajar, ou seja, experimentar quase todas as
dinâmicas de uma vida real.
Contudo, para os usuários do programa, a maior vantagem do
metaverso tridimensional é que você pode ser quem quiser, ter uma outra vida,
um alter ego, ser totalmente diferente de quem na verdade é! Nele você pode ser
famoso, rico, bonito, saudável, bem empregado, ou seja, ter ou ser tudo o que
você sempre quis, mas que, talvez, nunca tenha conseguido.
Sociologicamente falando, é curioso perceber esse fenômeno da
contemporaneidade que está presente nas redes sociais. Nelas é mesmo possível
ter uma vida dentro da própria vida, pois o ambiente virtual permite que
qualquer um seja e se apresente da forma como bem desejar! Na verdade, a grande
maioria das pessoas está ali se relacionando com outras tantas que nem sequer
lhe conhecem bem, ou mesmo que nunca lhe viram pessoalmente.
Eu sou usuário de uma dessas redes. Entro lá para divulgar
mensagens, artigos, reflexões, frases e pensamentos. Como não tenho tempo para
ficar analisando o que se posta, às vezes dou uma olhada rápida no feed de
notícias para ver o que aparece por lá... É como se você ficasse diante de um
grande mural onde as pessoas postam as mais diversas informações: textos,
músicas, imagens, vídeos, piadas, e tudo o que, eventualmente, lhes chama a
atenção.
Obviamente, o material publicado pelas pessoas muda de acordo com
os conteúdos interiores que em cada um existe, com sua matriz de valores. Como
somos uma geração com muita aparência e pouca consciência, tenho percebido que,
cada vez mais, encontro coisas inapropriadas e desagradáveis. Recentemente,
inclusive, cheguei a afirmar que esse “ambiente” estava parecendo um grande
lixão, onde é preciso um esforço hercúleo para encontrar algo que se aproveite.
Mas o que mais me impressiona nas redes sociais é o fato de que
boa parte das pessoas vive, na grande maioria do tempo, uma enorme mentira,
pois estão mergulhadas numa vida que não lhes pertence. É gente que está
despedaçada fazendo piada, casais em crise postando fotos de amor,
profissionais frustrados contando vantagens, pessoas solitárias compartilhando
experiências maravilhosas, pais descuidados em fotos belíssimas com os filhos,
gente flertando e contando lorota, etc.
Em resumo, é muita encenação e pouca verdade! O grande perigo de
tudo isso é descuidar nos exageros e cair no que bem citou o escritor Millôr
Fernandes: “Jamais diga uma mentira que não possa provar”.
Triste geração esta, onde ser o que se é tornou-se algo
insuportável. Por isso, precisamos tanto do disfarce, de algo que nos projete
da falsidade real para a realidade virtual. Tem toda a razão Erich Fromm,
psicanalista alemão, quando afirmou: “Somos uma sociedade de pessoas com
notória infelicidade: solidão, ansiedade, depressão, dependência; pessoas que
ficam felizes quando matam o tempo que foi tão difícil conquistar”. E me
responda, com total isenção e honestidade, em que lugar se “mata” mais o tempo
do que nas redes sociais?
Diante de tudo isso, alguém pode afirmar que sou contra a
tecnologia. Não, não sou. Mas, confesso: sou totalmente cético quanto ao fato
de que a tecnologia pode nos tornar pessoas melhores e dar à humanidade um
futuro mais tranquilo. E aqui lembro de George Carlim, escritor
norte-americano, que afirma: “Construímos mais computadores para armazenar mais
informação, produzir mais cópias do que nunca, mas nos comunicamos menos”.
Escrevi esse texto porque estive conversando com uma pessoa que
conheço há bastante tempo – alguém que não pode me esconder os contornos de sua
vida – e percebi que seu estado era preocupante. Sim, senti suas dores,
discerni sua angústia, “inalei” sua tristeza, “sorvi” sua solidão, “degustei”
sua ansiedade, seus medos, sua aflição . Foi um diálogo longo e difícil...
Todavia, na manhã posterior a essa nossa conversa, quando fui
divulgar algo nas tais redes sociais, percebi que o dito cujo havia postado
piadas e fotos engraçadas, contando vantagens e falando bobagens, como se nada
do que está “depositado” nas gavetas do armário de sua alma fosse real.
Diante do ridículo da situação, e com certo ar de decepção, não me
restou outra alternativa a não ser relacionar tudo aquilo com a velha canção do
Bee Gees – “ Jive Talking ” – cujo título, numa tradução livre, pode ser
compreendido como: “Papo Furado”. Sim, meu “mano”, tudo aquilo que foi
publicado não passou de conversa mole, dissimulação e mentira.
Por isso, tenha muito cuidado ao navegar pelas redes sociais,
pois, do outro lado da linha, tem gente de carne e osso – e não estátuas! Certo
mesmo estava cantor e compositor Renato Russo ao afirmar: “Mentir pra si mesmo
é sempre a pior mentira”. E viva o ciberespaço!Carlos Moreira