Na semana em que um cãozinho vira-lata foi brutalmente assassinado a golpes de barra de ferro, nas dependências de uma grande cadeia de supermercado, o que gerou, sobretudo nas redes sociais, uma enorme comoção, cabe perguntar: o que aconteceu conosco? Onde foi que nos perdemos de nós mesmos? Por que nos tornamos tão insensíveis, desumanizados? E mais... Por que certas cenas do cotidiano, muito mais violentas e dramáticas, envolvendo mulheres, crianças, velhinhos, policiais, mendigos de rua, não nos sensibilizam mais? Será que estamos esgotados de tantas cenas negativas? Será que a mesmice da rotina cegou a nossa retina? Ou terá sido a nossa psiquê que sofreu um apagão, que ficou leprosa, perdendo toda a capacidade de sentir e discernir o que está no nosso entorno? Nesse tempo onde tudo é “líquido”, passageiro e fugaz, nessa civilização da virtualização, onde o técnico se sobrepõe ao tátil, onde a imagem faz prescindir a presença, a vida dessignificou-se, banalizou-se, somos como zumbis, andando na direção insólita do futuro, mas ainda não percebemos que o futuro já chegou, é hoje, é agora. Sim, desgraçadamente, morremos enquanto íamos vivendo, nem isso fomos capazes de perceber, estamos sepultados na vala dos dias e cobertos com a terra que devora a alma, nosso túmulo, que ironia, tornou-se a nossa própria consciência. Ainda assim, cabe questionamentos: qual a fenomenologia por traz de tudo isso? Quais foram os acontecimentos que nos levaram a ruína, quais indícios tínhamos de que estávamos num caminho sem volta? Será que é possível parar o trem e pular do trilho, antes do encontro irremediável com o destino final? Diante de tudo isso, lembro das palavras de Jesus, quando ele afirma: "Bem aventurados os que choram, por que serão consolados". De fato, quem ainda tem lágrimas para derramar no chão duro do cotidiano, pode mesmo se achar verdadeiramente rico na existência. Assista a mensagem e faça sua própria reflexão!