“Eu tenho um
sonho. O sonho de ver meus filhos julgados por sua personalidade, não pela cor
de sua pele.” A frase
famosa foi proferida no dia 23 de agosto de 1963, à sombra do Memorial de
Lincoln em Washington, pelo rev. Martin Luther King, para uma multidão de mais
de 250 mil pessoas, que formavam a maior concentração até então vista no país a
favor dos Direitos Civis.
Luther King, líder negro pacifista e pastor norte-americano,
nasceu em Atlanta, na Georgia e formou-se em Teologia na Universidade de Boston.
Foi o principal líder do boicote nos transportes contra a discriminação racial
nos Estados Unidos que durou 381 dias.
Em 1960 ele conseguiu liberar aos negros acesso aos lugares públicos.
Suas lutas resultaram na promulgação da Lei dos Direitos Civis, em 1964, e na
Lei dos direitos de Voto, em 1965. Seu sonho de ver negros e brancos vivendo
unidos levou-o a ganhar, em 1968, o Prêmio Nobel da Paz. Talvez, até como já se
esperava, lamentavelmente, logo em seguida, foi assassinado a tiros em Memphis,
no dia 4 de abril de 1968, por um branco racista revoltado com suas idéias, que
havia saído da prisão.
Quais são os teus sonhos? O que é que te faz levantar todos
os dias para enfrentar a maratona cansativa que é a vida? Qual é o combustível
que te move e te faz existir? Do que é que você alimenta a tua alma nos dias
sombrios da existência? Mário da Silva Brito escreveu em 1916 “sonho, logo existo”. O filósofo e pensador, escritor do
livro de Eclesiastes, diz que Deus colocou a eternidade no coração do homem. Parafraseando-o,
eu diria: “Deus nos deu o maior
dos motivos para sonhar”.
Todos os progressos obtidos pela humanidade vieram através
de homens e mulheres que se dispuseram a sonhar. Thomas Edson estava cansado
das velas, sonhava com um tipo diferente de luz. Grahambell queria falar a
distância, Gutemberg pensava em livros em série, Pasteur queria aliviar as
dores das pessoas, e Santos Dumond achou que já havia andado muito sobre a
terra, agora queria voar como os pássaros. Jack Kerouac, falando deste espírito
impetuoso de algumas pessoas, afirmou: “Alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as
pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o
mudam.".
Viver sem sonhos é ser empurrado pela mesmice um dia após o
outro. Tenho visto uma coisa estarrecedora neste tempo: uma Igreja que não
possui sonhos! Onde estão os patriarcas dos nossos dias sonhando com a terra
prometida? Onde estão os profetas dos nossos dias sonhando com o messias? Onde
estão os apóstolos dos nossos dias sonhando com a construção da Igreja e a
evangelização do mundo? Deixe-me fazer uma confissão: estou farto de tanta
realidade, de tanto pragmatismo! Deixe-me,
portanto, sonhar, por favor!
Talvez alguém me responda: ah, pastor, os sonhos dos nossos
dias são outros... São sonhos de consumo, do Audi A4, do apartamento na Barra,
da viagem a Europa, do iate ancorado no píer da marina. São sonhos de sucesso,
de uma carreira bem sucedida de executivo de multinacional, de faturar milhões
num grande empreendimento, do emprego público bem remunerado. Pastor, os sonhos
de hoje são outros: é o desejo de cuidar da estética, é o dinheiro para a
lipoaspiração, que embeleza o corpo ou, quem sabe, para a plástica corretiva,
que modela o rosto. A verdade, é que se sonha com tudo, menos com os sonhos de
Deus! E Deus tem sonhos? Tem! Só não tem tido quem os semeie sobre a Terra.
Há um personagem no livro de Josué que me impressiona e me
inspira: Calebe. Com 40 anos de idade foi enviado a espiar a terra que Deus prometera
dar ao povo Hebreu, logo após a saída do Egito. Ele olhou para aquele lugar e
sonhou em possuí-lo. Olhou para a cidade de Hebron, a cidade alta, uma cidade
que ficava no cume de uma montanha e afirmou para si mesmo: “você será minha”. Mas a Terra prometida mais parecia com uma casa do
BNH, tinha sido dada, mas era preciso tirar o “invasor” que estava lá dentro. Calebe,
todavia, não se ateve aos obstáculos, não se amedrontou diante dos gigantes. Ao
contrário, desprezou as impossibilidades, desconsiderou que ali havia homens de
guerra, mas apenas creu que Deus poderia lhe dar aquela terra, como prometera,
e guardou aquele desejo.
Numa primeira leitura do livro de Josué, você pode,
equivocadamente, imaginar que a conquista daquela terra foi fácil, uma arrancada
avassaladora do povo Hebreu baseada em ações militares prodigiosas e
estratégicas. Entretanto, não foi assim. Na verdade, a conquista foi lenta, e
nem tudo foi conquistado. Em várias situações, houve a necessidade de se fazer
aliança com os povos que ali já estavam para que a sobrevivência pudesse ser
garantida.
Mais eu gostaria de resgatar alguns trechos da conversa de
Calebe com Josué, o homem que havia substituído Moisés no comando do povo, após
eles haverem entrado na terra prometida. Tratava-se de dois amigos de longa
data, companheiros de lutas e de batalhas. Alegorizando o texto, posso eleger
alguns elementos que transformam homens e mulheres comuns em pessoas que
semeiam sonhos no chão da vida.
Js. 14:7 “Quarenta
anos tinha eu quando Moisés, servo do Senhor, me enviou de Cades-Barnéia para
espiar a terra, e eu lhe trouxe resposta, como sentia no meu coração”. OS SONHOS DE DEUS NASCEM NO CORAÇÃO. Deus não faz surgir sonhos em
meio a metas pré-fixadas, a planejamentos elaborados, a estratégias e
estatísticas mensuradas. Não. O sonho nasce primeiro no coração, não importando
quão difícil seja para executá-lo. Aliás, normalmente, este tipo de sonho é
sempre impossível de tornar-se algo concreto. Apenas a ação de Deus é que
poderá trazê-lo a realidade, para que a glória seja sempre dEle, e de mais
ninguém. Sonhos nascem no coração porque precisam, em primeiro lugar, de paixão
para ser executados, não de estultícia ou sabedoria, eles precisam de um tipo
de devoção que só se encontra no coração dos apaixonados, dos que se acham comprometidos
com os propósitos de Deus.
Js. 14:8 “Meus
irmãos que subiram comigo fizeram derreter o coração o povo; mas eu perseverei
em seguir ao Senhor meu Deus”.
OS SONHOS DE DEUS SE ALCANÇAM PELA
PERSEVERANÇA. Calebe tinha uma visão construída em sua mente. Ele sonhava
com aquela montanha e iria possuí-la a qualquer custo. Ele não se impressionou
com o que as pessoas falavam, não se deixou influenciar pelas notícias, pelas
avaliações pessimistas, pelas análises catastróficas. Vejo as pessoas em nossos
dias... Elas pedem algo a Deus e já desistem na semana seguinte porque não
obtiveram o que desejavam. São incapazes de superar obstáculos, de não se ater
as circunstâncias, apavoraram-se com os “gigantes”, no seu conforto, na sua
letargia religiosa, jamais perseveram em prol de um objetivo maior. Não podem
orar nem cinco minutos por dia, a Bíblia lhes dá coceira nas mãos. E assim,
casamentos vão por água abaixo, filhos são perdidos para as drogas, empresas
vão à falência, ministérios são interrompidos, igrejas são fechadas.
Esquecem-se o que diz as Escrituras: “o que perseverar até a morte receberá a coroa da vida”. Sonhadores são pessoas
perseverantes!
Js. 14:9 “Naquele
dia Moisés jurou, dizendo: Certamente a terra em que pisou o teu pé te será por
herança a ti e a teus filhos para sempre, porque perseveraste em seguir ao
Senhor meu Deus”. OS SONHOS DE DEUS SÃO FIRMADOS POR
PROMESSAS. Calebe sabia que aquela montanha seria sua porque Deus havia
jurado em entregá-la a ele. Deus não é homem para mentir, nem filho do homem
para se arrepender. Se Ele prometeu, irá cumprir. Quais são as palavras que
influenciam a tua vida? As previsões da bolsa de valores? Os juros da economia?
O preço do ouro? Uma promessa feita por um político, por um amigo, por seu
patrão? Não acredito em cristãos que não conhecem as Escrituras, que não se
debruçam sobre a Palavra de Deus para discernir aquilo que Ele nos prometeu. Os
sonhos de Deus não se alcançam porque as circunstâncias são favoráveis, mas
porque Ele disse que assim seria. Em todas as promessas de Deus há um “sim”, e
o Seu justo viverá, sempre, pela fé, pois, se retroceder, o Espírito de
Deus não estará nele. Gosto da frase de Fernando Teixeira: “nós somos do tamanho dos nossos sonhos”. Por isso encontramos tantos
gigantes profissionais e, ao mesmo tempo, tantos pigmeus espirituais.
Js. 14:10,11 “E
agora eis que o Senhor, como falou, me conservou em vida estes quarenta e cinco
anos, desde o tempo em que o Senhor falou esta palavra a Moisés, andando Israel
ainda no deserto; e eis que hoje tenho já oitenta e cinco anos; ainda hoje me
acho tão forte como no dia em que Moisés me enviou; qual era a minha força
então, tal é agora a minha força, tanto para a guerra como para sair e entrar”. OS SONHOS DE DEUS GERAM PROPÓSITOS PARA A EXISTÊNCIA. O que se pode
esperar de um homem de 85 anos? Que ele queira subir uma montanha para
desalojar uma cidade estabelecida? Você sabia que quando Calebe disse estas
palavras os Anaquins – povo constituído por gigantes – habitavam a cidade de
Hebron? Mas nada era obstáculo para ele, pois sua vida perseguia aquele
objetivo, aquela meta, aquele alvo. Sim, aquele homem tinha um motivo para se
levantar todos os dias. Ouso afirmar: quem não tem sonhos para sonhar, não tem
motivos para viver. Vejo as pessoas sonhando com coisas fúteis e, quando as
conseguem, ficam sem referencial na vida. São sonhos de coisas passageiras,
coisa que a traça e a ferrugem consomem. De que vale ao homem ganhar o mundo
inteiro e perder a sua alma, disse Jesus. Por isso, Robert de Montesquiou afirmou:
“da-me, Senhor, o sonho meu de
cada dia”.
Js. 14:12-14 “Agora,
pois, dá-me este monte de que o Senhor falou naquele dia; porque tu ouviste,
naquele dia, que estavam ali os anaquins, bem como cidades grandes e
fortificadas. Porventura o Senhor será comigo para os expulsar, como ele disse.
Então Josué abençoou a Calebe, filho de Jefoné, e lhe deu Hebrom em herança.
Portanto Hebrom ficou sendo herança de Calebe, filho de Jefoné o quenezeu, até
o dia de hoje, porquanto perseverara em seguir ao Senhor Deus de Israel”. OS SONHOS DE DEUS TÊM A BENÇÃO DE DEUS. Quem poderia resistir a
Calebe, um homem com um sonho de Deus no coração? Quem poderia parar aquele
homem que aos 85 anos ia em busca do sonho de uma vida inteira? Ele não olhou para a
montanha, para os gigantes, para as circunstâncias, para as impossibilidades.
Apenas creu que poderia vencer e subiu a guerrear. Onde estão os Anaquins que
lutam contra você? Quais são as cidade fortificadas que precisam ser
destruídas? Quais adversários precisam ser subjugados. Eu profetizo, em nome de
Jesus, hoje, comece a sonhar e conquiste a Hebron da tua vida!
Albert Schweitzer escreveu: “A tragédia do homem é o que morre dentro dele enquanto ele ainda está
vivo”. Eu tenho vergonha de
pertencer a uma geração tão apática, tão conformada, tão anestesiada, que se
“enquartela” dentro de suas igrejolas e fica vendo o tempo passar. Uma igreja
que não sai às ruas, que não tem causas, que tem carismas, mas não tem caráter,
que tem sonhos mesquinhos, toscos, pálidos, pueris, fúteis. Vejo os jovens,
eles estão perdidos, sem líderes, sem referencial, sem sonhos! Onde estão os
Calebes dos nossos dias? É tempo de sonhar! Sonhemos antes que seja tarde
demais...
Carlos Moreira
Carlos Moreira