O estupro da adolescente no Rio de Janeiro, ainda sob a investigação da Polícia, revela o desprezo com que esse tema é tratado numa sociedade já acostumada em cometer, impunemente, violência contra as mulheres. Mas na verdade, olhando de forma mais abrangente, este ato hediondo nos mostra as vísceras de uma engrenagem social enferrujada por políticas públicas inconsistentes, desvios de verbas por corrupção política, exploração empresarial das classes pobres, desinteresse da população civil e uma total desatenção das organizações religiosas para os dramas dos excluídos. Sim, é grave a analgesia da igreja para questões tão prementes! Tristemente, e parafraseando o “Capitão Nascimento” no filme “Tropa de Elite”, “A igreja existe para resolver os problemas da igreja, não para se envolver e ajudar a resolver os problemas da sociedade”. Portanto, não espere, na esmagadora maioria dos casos, que a igreja, ou seus representantes, se manifeste publicamente contra abusos, estupros, preconceitos, violência contra minorias, racismo, homofobia, drogas, miséria, desemprego, epidemias, pois a igreja vive num mundo paralelo, onde apenas as coisas supostamente sagradas importam. A igreja está entretida com batalhas espirituais, não com causas reais, está lutando contra demônios, e não contra a possessão da mente e do coração, que dessensibiliza o indivíduo e o faz inerte diante da dor do outro. A máxima religiosa é buscar redimir o espírito do homem, desprezando, assim, os dramas e dores de sua alma, amparar o indivíduo com a doutrina da salvação, ainda que seja incapaz de fazer algo concreto para salvá-lo da miséria e do descaso no qual ele vive. A verdade é que o “deus” desta igreja é Platão, e não Jesus, o que eles vivem é a utopia do mundo das ideias, e não a verdade do Evangelho para o mundo concreto. Tenha coragem de assistir a esta contundente mensagem e discirna se este não é, também, um problema seu!