“O grande do homem é ele ser uma ponte e não uma meta”. Nietzsche, filósofo alemão.
Tenho refletido ultimamente que, quanto mais conectado se torna o mundo, mais isoladas ficam as pessoas. Não é à toa que o escritor francês André Malraux afirma que somos a “civilização da solidão”.
Não obstante, é bem provável que a grande maioria afirme justamente o contrário, pois é fato que estamos vivendo em meio ao fenômeno das grandes interações humanas que ocorrem nas redes sociais.
Ainda assim, penso diferente... Somos seres sociais, não virtuais. Precisamos de trocas que se deem para além do teclado e da tela do computador; necessitamos de abraço, toques, sensações.
Tenho observado as interações que os seres humanos travam em seu cotidiano. Raramente elas são pessoais, íntimas ou intensas. Na sua grande maioria, estão marcadas pelo formalismo, pela impessoalidade e até pela frieza.
Somos forçados a realizar tantas interações mecanizadas num único dia que já não nos preocupamos mais com o que as pessoas estão sentindo ou mesmo quem elas são! Por isso, não se assuste se você estiver numa reunião, tratando de negócios, enquanto alguém bem próximo está chorando. E isso ainda não será o pior... A grande tragédia será você nem sequer perceber!
Paralelamente, também é verdade que nós, dificilmente, somos percebidos em meio aos nossos sentimentos e necessidades. Não raro converso com pessoas que parecem me escutar, mas, de fato, es-tão apenas me ouvindo.
Em alguns segundos, o que eu expressei vai desaparecer, será deletado, expurgado da mente, não terá a chance de chegar nem perto do “coração”.
A questão é tão grave e profunda, e nós temos nos apercebido tão pouco, que já nem nos preocupamos mais com o fato de não termos com quem “nos abrir”; precisamos pagar um profissional para nos escutar!
Ninguém sabe o que se passa em nossas almas, frequentemente, nem mesmo nosso(a) companheiro(a). Estamos vivendo a “existência epidérmica”, onde tudo é superficial e rasteiro. Só o nosso travesseiro conhece nossos dilemas.
Na verdade, nossas trocas têm se tornado neurotizadas pela quantidade de opções que possuímos. Estamos diante do computador e, de repente, soa um apito: “plim!” – acaba de chegar um e-mail. Outro zunido vem em seguida: é alguém na rede social nos chamando. De repente, a conversa que era apenas com uma pessoa, já se desenrola com três ao mesmo tempo! Fica até difícil articular o pensamento.
Mais um toque sai da máquina: agora é alguém que seguimos postando algo no short mensage. Ah, e não esqueçamos dos avisos que chegam dos blogs que acompanhamos e da necessidade de dar uma olhadela no quadro de avisos para ver se alguém deixou algum recado.
“Eu sou o caminho a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai senão por mim”. A afirmação de Jesus expressa bem o seu propósito existencial: ser uma ponte! Ele quer nos reconectar não somente a Deus, mas a nós mesmos e ao nosso próximo.
Se você prestar atenção, verá que Jesus sempre agiu como ponte. Ele era a ponte entre a desgraça e a misericórdia, entre a calamidade e a libertação, entre a deformação e a integridade do ser, entre o caído e a redenção. Foi assim com a prostituta, com os dez leprosos, com o cego de Jericó, com o endemoniado gadareno, e tantos outros... Ser “ponte” entre gente, esse era o “negócio” de Jesus!
Parafraseando Lenine, essa “...ponte não é de concreto, não é de ferro, não é de cimento...”, a “ponte” que viabilizou tudo isso habitou entre nós em carne e sangue e, por causa dela, toda inimizade foi desfeita, eu e você podemos nos religar novamente à “Fonte”.
Sim, mesmo vivendo em meio à sociedade da in-formação, há certo tipo de “conexão” que nenhum cabo ou conector pode realizar, mas apenas a aceitação do sacrifício do Cordeiro mediante o arrependi-mento trazido à consciência pelo Espírito Eterno.
Carlos Moreira