Procusto, personagem da mitologia grega, vivia perto da estrada de Elêusis. Costumava atrair para sua casa, de forma hospitaleira, viajantes solitários oferecendo-lhes abrigo para passar a noite. Ali ele possuía duas camas de ferro, uma menor e outra maior que, “caridosamente”, cedia ao visitante. Entretanto, depois que a vítima adormecia, Procusto a dominava para tentar adequá-la da forma exata ao tamanho do leito. Se o sujeito era alto, e passava das medidas, ele cortava os pés com um machado; se era baixo, esticava os seus membros com cordas e uma roldana. Ao final, mesmo mutilada, a pessoa acabava conformando-se adequadamente ao tamanho da cama, satisfazendo assim o mimetismo e o transtorno obsessivo compulsivo de Procusto.
Olhe para as igrejas dos nossos dias! Veja se os bancos não se parecem com “camas de ferro”? Veja se a mensagem que atrai as pessoas não parece com o “maravilhoso” convite de Procusto aos incautos? Triste, mas o cristianismo de hoje está apenas produzindo bonecos autômatos, ou seja, seres caricaturados, estereotipados, gente de uma rigidez e frieza cadavérica inigualáveis.
Com tristeza percebo que a mensagem, ao invés de fomentar a vida, semeia a morte, ao invés de produzir quebrantamento e pacificação interior, gera presunção e julgamento, ao invés de construir o ser, desconfigura a alma, ao invés de atrair as pessoas, produz nelas repugnância...
Ser crente, nesta geração, é ser engessado, alguém que foi customizado pela igreja como um
produto em série, alguns até vêm com chip! É gente sem consciência, sem senso crítico, apenas um membro de uma confraria de escolhidos que pensa que o sagrado pode ser cartelizado e o Evangelho, normatizado como se fosse uma franquia do divino. Ah moçada, quão distante tudo isso está da mensagem de salvação de Jesus!
Que seja utopia, mas eu desejo um cristianismo que produza gente de barro e não bonecos mecânicos, pois o barro nas mãos do oleiro ganha forma e pode ser moldado novamente, caso o objeto quebre ou perca o seu valor.
Gente de barro é entretecida nas mãos do arte-são, daquEle que cria o “vaso” com vistas a dar-lhe um propósito e um significado. É obra da manufatura diária da vida, que pacientemente constrói coisas boas e belas. Chega de esticar e cortar as pessoas para torná-las iguais, um fiel padrão! Isso pode até fazer sentido na nossa cabeça, adoecida pela religião, mas jamais passou, nem de longe, pelo coração do Pai que está nos céus.
Carlos Moreira