Engana-se, profundamente, quem imagina que a virgindade feminina é sacramentada pelo hímen, aquela membrana mucosa presente na entrada da vagina das mulheres que ainda não tiveram relações sexuais.
Ah, quanta gente eu já vi que tem essa membrana íntegra, mas que rompeu as camadas da consciência e se deixou violar pela pornografia e pela promiscuidade, mal imensamente maior e capaz de produzir danos muito mais profundos.
Eu já conheci meninas virgens que tinham a mente mais suja que o esgoto do rio Tietê e outras que tiveram algumas relações, com namorados mesmo, contudo, permaneciam “virgens” na alma, com boa consciência e resguardando puro o coração.
Tristemente, admito, a igreja, quase na sua totalidade, trabalha tentando reprimir aquilo que é aparente, ignorando todavia o pecado que cresce com o adubo das pulsões da alma e que mata o indivíduo pela via da subjetividade. O cinto de castidade é um exemplo disso. Invenção que data do século XIX, foi um dos recursos da fé cristã para refrear os impulsos da carne. Na prática, nunca passou de bizarrice. Além de degradante, tinha pouca serventia, uma vez que o apetite sexual, muito antes de passar pela genitália, cresce e consuma-se na mente.
Eu confesso que me sinto meio ridículo quando ouço as sacanagens que acontecem nos porões das juventudes de igreja neste tempo. Fico pasmo como pastores ensinaram uma geração inteira a viver no simulacro, a reverenciar uma película vaginal em detrimento de todo tipo de elucubração erótica que se aloja na alma e de todo tipo de contato sexual que não exija penetração, isso sem falar na internet, que seria um capítulo a parte.
A verdade é que essa “meninada” me conta o que eles fazem porque sabem que eu os ouvirei sem reprimendas hipócritas, mas apenas com o olhar de um Pai que deseja ajudar. Em nome da ortodoxia, matamos o que havia de melhor neles, que era o desejo amoroso regado pelo tesão da primavera da vida. Com pudores e etiquetas religiosas, ensinamos que sexo é coisa para o "casamento" e, assim, os segregamos a viver 25, 30 anos envoltos em todo tipo de experimentação sexual.
E é justamente assim que muitas meninas “imaculadas” chegam às núpcias, tão ou mais rodadas que profissionais do sexo, a exceção da presença impoluta do hímen na vagina, uma espécie de “herói da resistência” que para nada aproveita, posto que quem não conseguiu guardar puro o coração, nada mais tem a proteger. E por favor: não venha me pedir para aqui legislar sobre nada. Cada uma tenha sua fé e a viva conforme a sua consciência.
Carlos Moreira