Houve um tempo, na Grécia antiga, em que um
grupo de professores viajantes obteve destaque e relevância. Eles eram chamados
de sofistas, mestres que, por determinado preço, vendiam ensinamentos de
filosofia.
Etimologicamente, o termo sofista significa
sábio, mas, historicamente, eles ficaram marcados, sobretudo pelas críticas de
Platão, como impostores. Para um sofista, não importava se um conhecimento era
verdadeiro ou falso, mas apenas a capacidade de argumentação. O discurso de um
sofista, apesar de primoroso, era esvaziado de conteúdos e significados, suas
vidas restringiam-se a transmissão do conhecimento, jamais a sua
encarnação.
Conta-se que, de certa feita, Sócrates,
argumentando sobre o embuste dos sofistas, afirmou: “os Sofistas buscam o sucesso e ensinam as pessoas como conseguí-lo;
Sócrates busca a verdade e incita seus discípulos a descobri-la”.
Você consegue ver semelhanças entre o
discurso dos sofistas e a pregação dos pós-pentecostais? Estou usando o termo
pós-pentecostais para acabar, definitivamente, com o uso do termo, ao meu ver
equivocado, neopentecostais.
O pentecostalismo é um ramo sério da
Igreja, que prega as verdades das Escrituras, os dons do Espírito Santo, a vida
simples e a propagação do Evangelho através de ações de misericórdia. Isto não
tem nada a ver com os pós-pentecostais, que enganam pessoas, falsificam
doutrinas, extorquem dinheiro do povo, vivem em busca do sucesso, da
prosperidade e da “benção”.
Pensando bem, o nome que melhor se
aplicaria a este grupo seria o de “sofistas modernos”. Para eles, não importa
se o que pregam é verdade ou não, mas apenas o fato de conseguirem, com
argumentações supostamente lógicas, ancorados numa hermenêutica fraudulenta,
convencer o povo a obedecer doutrinas de demônios. E a “massa”, muito mais
interessada nas “promessas” de Deus do que no caráter de Deus, naquilo que Ele
pode fazer, e não em quem Ele
é, vai sendo espoliada, “depenada” como ave que vai para o abatedouro.
Quando Paulo escreve sua carta aos Romanos,
faz uma citação de Isaías no capítulo 10 verso 14 “...como são belos os pés dos que anunciam boas novas”. Ora, eu sempre
pensei, em se tratando da proclamação do Evangelho, que o apóstolo deveria afirmar
“como é belo o discurso dos que anunciam
a salvação”. Mas ele é que estava certo...
A questão é que o discurso vazio,
desprovido de sentido, desacompanhado de boas obras, de nada aproveita para a
vida. É por isso que a fala precisa ser seguida de ações, ou seja, de pés que
se movam na direção do outro, pés que abandonem a zona de conforto, pés que
representem este estado de movimento, de não-fixidez, que simbolizem o
“espírito” do hebreu, na melhor acepção da palavra, um ser errante,
desenraizado, habitante de tendas, peregrino em terra estrangeira.
A pregação do Evangelho, em nossos dias,
precisa ser ressignificada. Ao invés de usarmos a boca, para a divulgação das
verdades do Reino – o discurso, os recursos homiléticos, a oratória – vamos passar
a usar os pés, membros do corpo que não possuem tanta beleza, que talvez não
recebam de nós tanto decoro, mas que podem nos levar pelo caminho da justiça e
da verdade revelando que, em nós, Cristo se constitui ação, e não meras
palavras, que os que nos vêem podem seguir-nos, pois fazemos o que falamos, a nossa fé tem se materializado através de atos de bondade e amor.
Desta forma, nunca se esqueça: a Palavra só se
tornou verbo porque, um dia, o Verbo se fez carne, e habitou entre nós.
Carlos Moreira
Carlos Moreira