A última moda agora é falar em sustentabilidade. Trata-se
de um “conceito sistêmico relacionado com
a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da
sociedade humana”.
A sustentabilidade, fundamentalmente, visa
preservar a biodiversidade e os ecossistemas. A tecnologia deve ser sustentável,
o desenvolvimento econômico precisar ser sustentável, as empresas buscam ser sustentáveis,
e por aí vai... Uma coisa, entretanto, não tenho ouvido falar nestes dias: famílias
sustentáveis.
Como pastor, tenho aconselhado em média 15
pessoas por semana. É uma rotina difícil e desgastante. Diferentemente dos
profissionais da saúde, que fazem escuta terapêutica e são treinados para ouvir
dramas e não se envolver com eles, pastores sofrem junto com as pessoas, choram
com os que choram.
Neste contexto, impressiona-me a quantidade
de gente que carrega problemas que foram se complexificando desde a infância. As
questões são as mais diversas, porém as mais freqüentes estão relacionadas à auto-imagem,
insegurança, baixa auto-estima, auto-sabotagem, além de transtornos ligados à
orientação sexual e a afetividade.
Em um “recorte” de recente artigo da revista
“Filosofia e Psicanálise” o psicanalista francês Charles Melman afirmou: “pela primeira vez na história, a instituição
familiar está desaparecendo, e as conseqüências são imprevisíveis. Impressiona
que antropólogos e sociólogos não se interessem por isso”.
Surge, então, a questão: como está a sua família? Você
acha que ela é sustentável? Sua casa é um ambiente saudável ou insalubre? Como
estão seus filhos? Eles estão crescendo de forma equilibrada: física, emocional
e espiritualmente?
Hoje é dia das crianças, mas, sinceramente,
muitas delas não têm o que comemorar. Seus pais são personagens ausentes, transeuntes
insensíveis e inafetivos que circulam pelos corredores das casas em que elas
habitam. Estão sempre sobrecarregados, suas agendas são intermináveis, não dispõem
de tempo para amá-las, orientá-las ou brincar com elas. Estes "afazeres" são delegados
as babás, a escola, a igreja e, pasmem, aos programas de TV!
“Por
que você honra seus filhos mais do que a mim...?”. 1 Sm. 2:29. Esta afirmação
contundente foi feita pelo próprio Deus enquanto arrazoava com o sacerdote Eli
pelo fato dele negligenciar a educação dos filhos. Apesar de ser um “homem do
sagrado”, Eli fez vista grossa para o que acontecia bem debaixo de seus olhos,
pois seus dois filhos, Hofni e Finéias, além de se prostituírem a porta da
tenda da congregação, ainda profanavam as ofertas e sacrifícios que eram
oferecidos ao Senhor tomando parte deles para consumo próprio.
A conseqüência de tamanha licenciosidade
foi desastrosa: “E isto te será por
sinal, a saber: o que acontecerá a teus dois filhos, a Hofni e a Finéias; ambos
morrerão no mesmo dia”.
As Escrituras afirmam que “os filhos são herança do Senhor”. Eles são
a melhor coisa que um homem ou uma mulher podem ter sobre a Terra. Podem trazer
muita alegria, ou nos fazer amargar de tristeza; tudo depende de como estão
sendo criados.
De uma coisa, todavia, estou convencido: “nossos”
filhos não são nossos, são do Senhor! Ele nos delegou a responsabilidade de cuidar
deles de tal forma a sermos referência em tudo em suas vidas. Se não os
educarmos e não lhes transmitirmos os valores do Evangelho, Deus certamente cobrará
de nós o destino que eles terão debaixo do sol.
O que aconteceu aos filhos de Eli foi trágico.
Desgraça ainda maior sucedeu a sua descendência: “eis que vêm dias em que cortarei o teu braço e o braço da casa de teu
pai, para que não haja mais ancião algum em tua casa. O homem, porém, a quem eu
não desarraigar do meu altar será para te consumir os olhos e para te
entristecer a alma; e toda a multidão da tua casa morrerá quando chegar à idade
varonil”.
O luto de Eli durou pelo resto de sua vida.
Ele fracassou na mais importante tarefa que um ser humano pode ter: edificar a
sua própria casa. Hoje, dia das crianças, quem brinca são elas, mas nós,
adultos, devemos refletir seriamente sobre como as estamos criando, pois chegará
o tempo em que a brincadeira se acabará, o que sobrará será apenas a vida real.
Por isso, lembre-se do que citou Pitágoras: “corrija as crianças e não será necessário castigar os homens”.
Carlos Moreira
Carlos Moreira