O ano termina hoje. Muda o calendário, mas segue a vida. Os problemas de 2013, garanto, estarão presentes em 2014. O que pode dar a cada um deles nova significação serão suas atitudes. Não há nenhum tipo de magia na virada de um ano.
No dia 31 de dezembro, é praxe de
algumas instituições e empresas fecharem para fazer balanço. Com muitas pessoas
também é assim... Elas tentam fazer um encontro de contas com a vida, analisam
a contabilidade dos dias, esmiúçam lucros e planos, perdas e danos, e chegam
assim ao resultado da operação. Por vezes, ele é positivo, mas, não raro, acaba-se
por perceber que o ano trouxe mais tristezas do que alegrias, deixando o saldo
da conta no vermelho.
Quando isso acontece, nossas
ambiências interiores são invadidas por aquele sentimento de fracasso, de
vazio. Olhamos para trás e verificamos que não valeu a pena. Gastamos tempo,
dinheiro, esforços, gastamos vida, e o retorno, simplesmente, não veio.
Plantamos e não colhemos, amamos sem ser correspondidos, trabalhamos muito para
pouco resultado, corremos e não conseguimos alcançar, choramos, mas não houve
quem nos consolasse.
Contudo, estou decidido: não vou
guardar nenhum tipo de sentimento ou alimentar qualquer tipo de pensamento que
não seja argamassa para construir escadas e não muros. Em 2014, farei ainda
melhor do que fiz em 2013! Trabalharei com mais paixão, servirei melhor as
pessoas, gastarei mais tempo com meus amigos, aprenderei a sorrir mais e a
reclamar menos, pois, que me importa se nem tudo saiu, exatamente, como eu
queria?
Que me importa se eu amei e não
fui correspondido? Amor é uma coisa que nunca se esgota, quanto mais agente dá,
mas ele em nós se renova. Além do que, o amor não faz balanço, nem acerto de
contas, se há desigualdades, ganha sempre quem deu mais de si ao outro. Se você
amou sem ser amado, se se doou e não foi compensado, se deixou-se gastar por quem
não lhe deu o devido valor, que importa?! Melhor foi amar do que represar as
fontes do coração e tornar árida a alma. Quem dá o melhor de si, sempre receberá
como paga da vida paz e bem para o ser.
Que me importa se o governo me frustrou
e deixou aquela sensação de que fui roubado? Creia, não será sua incompetência
que irá me fazer sonegar, ou deixar de agir com responsabilidade. Seu descaso
não me levará a burlar as leis ou desrespeitar a constituição. Pelo contrário,
minha revolta será a minha fome e sede de justiça, minha indignação se revelará
pela minha honradez, ainda que todos façam errado, e torçam para que dê errado,
eu permanecerei fiel aquilo em que acredito. Farei uma revolução primando pela
verdade, começando por mim mesmo, darei o exemplo de que agir de forma correta
não é diferencial, é obrigação!
Que me importa que eu não tenha
ganhado com minha profissão aquilo que entendo ser justo? É triste, mas eu sei
que muitos estão terminando o ano mais pobres e endividados. Num mundo em que
as pessoas são julgadas pelo que possuem e não pelo que são, é de desanimar.
Mas fazer o quê? Mudar de atividade? Tentar a ilicitude? Não. É certo que eu
ganhei menos do que merecia, mas com minha atividade ajudei a tornar a sociedade
um pouco melhor. Não fiz das circunstâncias um trampolim para o oportunismo, nem
esmaguei aqueles que estavam sob minha gestão. Não maximizei lucros
economizando com a justa remuneração de outros, nem fiz intrigas ou me submeti
a jogos de poder. De uma coisa, todavia, estou absolutamente certo: busquei
fazer o melhor que pude com os dons e habilidades que recebi. Nem sempre o
resultado daquilo que fazemos é financeiro, por vezes, ele se traduz por um
simples sentimento de dever cumprido.
Que me importa que eu não tenha
sido o mais esperto, ou o que tirou mais vantagens das oportunidades? Ora, se
para tal era preciso negar valores, barganhar princípios, lotear o coração por
preço e tornar a consciência venal, melhor que tenha sido assim mesmo. Estou
orgulhoso de ceder a posição para alguém mais velho, ou de dar oportunidade
para o outro me passar no trânsito, ou ainda de não ter feito negócios que não
reconheçam os direitos da propriedade e autoria. É provável que o mundo não
tenha ficado melhor com minhas pequenas iniciativas, mas eu certamente fiquei! A
esperteza, por vezes, é inimiga da destreza, e eu prefiro saber fazer, do que já
levar feito.
Que me importa se eu me dei, se fui
amigo, se agi com lisura, e não fui compensado ou mesmo compreendido? Eu sei
que a ingratidão é coisa doída, que fere o ser com a aspereza do metal que
rasga a carne, mas eu aprendi que é melhor dar do que receber. Como dizia a
velha canção de Dominguinhos: “amigos a gente encontra...”. Eu sei que dá medo
abrir a casa e o coração, e mais medo dá quando tornamos alguém íntimo do nosso
ser e ele nos rouba a privacidade de existir entre cortinas de seda. Há os que
te apunhalaram com o punhal da língua afiada, e os que te desprezaram em meio
ao aguaceiro que caiu na escuridão da noite. Não te deixes abater pelo amor que
te foi negado, segue resignado que o amanhã trará novamente o sol.
Que me importa se a minha fé
parece utopia e as minhas crenças me levam a andar na contramão? Ora, não há
prêmio sem lágrimas, nem vitória sem luta! Em meio a uma sociedade baseada na
imagem, eu quero ser real, em meio a uma geração que deseja apenas ser feliz, eu
quero ser perfeito, as voltas com um tempo onde consumir é a marca de existir,
eu quero continuar repartindo. O Deus em quem acredito é diferente dos demais, ele
chora, sorri e sangra. Abriu mão da sua glória para tornar-se homem comum. Não
se parece com um super-herói, pois não sabe lutar, não tem uma armadura e sua
única arma é o amor. O símbolo da minha fé não é uma espada, ou uma estrela,
mas uma cruz. Eu sei: estou mesmo indo no contra-fluxo, mas a fé é mesmo
absurdo...
E por tudo isso, e muito mais, que eu conto outro dia, feliz
2014 para você. Se 2013 não foi como você pensava, ou gostaria, na verdade, foi
como deu para ser, foi como podia...
Carlos Moreira
Carlos Moreira