Desde sempre, as dimensões do sagrado e do sobrenatural habitam o inconsciente coletivo da humanidade. De fato, nos sentimos atraídos por aquilo que não explicamos, pelo transcendente, pela metafísica e pela fenomenologia das aparições e interações de entes espirituais com homens de carne e osso. Cícero, o famoso orador romano, afirma com propriedade: “Não há povo tão bárbaro, tão primitivo, que não admita a existência de Deus ou um deus ou vários deuses, ainda que se engane sobre sua natureza”. Sim, desde o Egito antigo, passando pela saga dos Hebreus na palestina, analisando o decurso da história de Babilônicos, Persas e Gregos, não há como negar a influência das divindades na modelagem de culturas e nações. Mas onde há religião, há também intermediação, pois a premissa inamovível de toda religião é patrocinar reconexões, intermediar o encontro entre o eterno e o passageiro, entre o absoluto e o relativo. Assim, laçam-se nesta tarefa sacerdotes, profetas, magos, feiticeiros, sensitivos, médiuns, paranormais, místicos, todos cônscios do papel de falar e agir em nome de uma determinada entidade ou deus. E no exercício deste chamado, há homens bons e maus, há gente séria e apóstatas, há os puros de coração e os possuídos de malícia. No Brasil, sobretudo nos últimos 20 anos, assistimos aterrorizados o crescente aumento de gente totalmente desqualificada para lidar com as coisas de Deus. Vemos, com imensa tristeza, pastores, padres, bispos, evangelistas e pseudo-apóstolos se extraviarem de maneira irrecuperável. Os problemas são incontáveis: alquimia da mensagem, manipulação, chantagem, charlatanismo, demonização da vida, extorsão financeira, estupro espiritual, esmagamento emocional, bruxaria, sincretismo, estelionato, a lista é infindável, assim como também são infindáveis as vítimas. Nestes meus 35 anos de caminhada, o que mais tenho encontrado é gente aviltada, iludida, machucada, joguetes nas mãos de lobos vorazes, pessoas simples e ingênuas sendo devoradas por abutres argutos, indivíduos cheios de ambição e maldade.