Recife é uma cidade cortada por
rios e cercada de manguezais. Como está abaixo do nível do mar, quando chove é
uma tragédia, pois, com galerias entupidas e lixo nos canais a água não tem por
onde escoar e, assim, tudo fica inundado.
Eu viajo por todo o Brasil, mas
acho que minha cidade é a recordista em buracos no asfalto. Quando chove, isto se
transforma numa verdadeira desgraça, pois, sem ver o dito cujo, que está coberto
pela água, pessoas, motos e carros acabam acidentando-se.
É curioso, mas aqui existe uma
coisa que eu chamo de “o ciclo do buraco”. Funciona da seguinte forma: em vez
da prefeitura fazer o recapeamento das ruas antes do período de inverno, ela
faz depois, e isto segue uma lógica...
No inverno, as ruas ficam todas
esburacadas, não só por causa da chuva, mas porque o asfalto é de má qualidade.
Esse evento faz com que toda uma “cadeia alimentar” funcione: lojas de autopeças,
oficinas mecânicas, empresas de reboque, e até mesmo a “molecada”, que fica de
plantão para desatolar os carros enguiçados e descolar “algum”.
Depois que a época das chuvas termina,
a prefeitura, então, faz uma licitação para concertar as ruas. A empresa ganhadora
vai fazer um serviço de quinta categoria, e isto com vistas a que, no ano que
vem, o ciclo recomece novamente. Prevenir, de forma séria, seria o correto, mas
em nosso país, o correto quase nunca se torna concreto.
Pois bem, de tanto aconselhar
pessoas, descobri que muitas delas vivem um certo tipo de “ciclo do buraco”. Grande
parte de seus problemas são questões que, facilmente se revolveriam e a maioria
sabe, inclusive, o que tem de ser feito para resolver. Contudo e
contraditoriamente, elas preferem enfrentar as conseqüências de “cair no
buraco” ao invés de trabalhar preventivamente – tomar decisões, afastar-se do
mau e cindir com situações que esgotam a alma, machucam o coração e convulsionam
a consciência.
Outra coisa que eu observei é que
“o ciclo do buraco” na vida das pessoas possui também sua própria “cadeia
alimentar”. Ela é formada de psicoterapeutas, ansiolíticos, cd’s de “dor de
cotovelo”, amigos de bar, livros de auto-ajuda, lenços de papel, garrafas de
vinho e muita, muita autocomiseração. Como diria o Tom, “é o fundo do poço,
é o fim do caminho, no rosto o desgosto, é um pouco sozinho...”.
Analisando
tudo isto, lembrei de algo curioso. Nos últimos anos, a igreja tem convivido
com uma prática chamada: “descansar no Espírito”. Trata-se do fato das pessoas
caírem ao receber orações através da imposição de mãos. Eu não tenho nada
contra isso. De fato, não vejo a prática nas Escrituras, mas não condeno quem faz. Acho, todavia, que é melhor “andar no Espírito”, conforme nos ensina o apóstolo
Paulo e, de preferência, sem cair em “buracos”.
“Andar
no Espírito” significa deixar-se guiar pelas Escrituras, fugindo assim de
fábulas, modismos e ventos de doutrina, ter uma consciência sensível a “voz de
Deus”, o que nos leva a desviar daquilo que não nos trará paz ou fará bem e,
sobretudo, estar sempre em oração, pois eu e você somos tentados pelas nossas
ambições e cobiças.
Por
isso, se você está vivendo num período de “inverno” em sua vida – solidão,
depressão, ansiedade ou medo – preste atenção ao que vou lhe dizer agora: se
você não está vendo o “buraco”, ande com cautela; se o está vendo, desvie; se
caiu dentro dele, procure sair; se saiu, não volte mais; se voltar, não pense
que é o fim do mundo, pois você já saiu uma vez. Faça isso, desta forma simples
como estou lhe falando, e você verá que boa parte dos seus problemas irá
desaparecer, e “a paz de Deus, que excede
todo entendimento, guardará a vossa mente e o vosso coração em Jesus”.
Agora,
se tudo isto não funcionar, ligue para mim, escreva-me ou marque um aconselhamento
pastoral. Você, provavelmente, está entre os 10% que, de fato, necessitam de
uma orientação espiritual. E lembre-se do que disse o "sábio": “tudo ao redor de um buraco é beira”. Portanto, não chegue muito perto, você pode cair!
Carlos Moreira
Carlos Moreira