Quem me vê sorrindo, não conhece os meus dramas; quem me vê sonhando, não discerne as minhas limitações; quem me vê chorando, não entende os meus motivos; quem me vê sofrendo, não compreende as minhas razões.
Hoje estou me sentindo como Sansão, vencido
pelos dilemas, soterrado por contradições. Estou girando em torno
da roda de moinho da existência. Já dei várias voltas ao redor do mundo sem
sequer sair do lugar. Sim, eu sei que há dias nublados, cinzentos, há dias de
dor e solidão, “tempo de chorar e tempo
de sorrir”...
Descobri, já faz algum tempo, que eu sou de
osso, não de aço. Não faço parte desta geração que não sente dor, que não sente
medo, que não fica doente, que não peca, que não se contradiz. Fui formado em
uma “forma” diferente, sou o mais comum dos comuns, ainda permaneço como
substância informe, meu interior é coberto de sombras e silêncios, sou ser por
fazer-se, incompleto, inconstante, imperfeito.
Estou com fome de vida, preciso de um gole
de esperança. Sinto dores por fora, calafrios por dentro. Talvez você não
entenda o que é isso, pois provavelmente você foi feito numa outra “linha de
produção”. Você é mais maduro, mais moderno. Eu não. Eu sou ser da terra, feito
do barro, criado do pó. O Espírito Eterno soprou em minhas narinas e eu ganhei
um pequeno fôlego de vida, coisa passageira, tênue. Logo, logo, eu sei, ele se extinguirá.
Já andei pelos lugares altos, e sei também o
que é se arrastar com a cara no chão. Aprendi a viver mais com o não do que com
o sim. De tanto apanhar da vida, acabei aprendendo a dar significados as minhas
derrotas. Eu vivo de restos; aquilo que outros desprezam eu colho como frutos
de misericórdia. Tenho semeado com lágrimas, por isso ainda espero um dia colher
algo com um pouco de alegria...
Há momentos em que eu me sinto como alguém que caminha pelo deserto, um beduíno, um andarilho sem destino. Eu não sei qual foi a porta que eu abri mas, quando dei por mim, já estava aqui. Curioso, também, é que eu não sei como sair; as portas daqui só possuem maçanetas pelo lado de fora! Aqui é todo canto e lugar nenhum...
Deus é a minha esperança, e isso é tudo o
que a minha alma sabe. Enquanto o pó da existência se acumula nos meus pés
cansados de tanto caminho, lembro-me das palavras do “pequeno príncipe” – não o
de Exupery – e faço a minha prece: “prepares
para mim uma mesa na presença dos meus adversários, uma mesa no deserto, e
então derrame óleo sobre a minha cabeça para que o meu cálice transborde”.
Ensina-me, eu te peço, a viver com retidão,
a não desprezar a correção, a meditar em tua palavra e a guardar puro o meu
coração. Eu sei que se isso eu fizer, certamente “bondade e misericórdia me acompanharão todos os dias da minha vida, e
habitarei na casa do Senhor para todo o sempre”.
Quem puder entender, então que entenda... Quem não puder, apenas leia... Quem não ler, melhor fará...
Carlos Moreira
Quem puder entender, então que entenda... Quem não puder, apenas leia... Quem não ler, melhor fará...
Carlos Moreira