A sabedoria popular afirma que "é melhor viver só do que mal acompanhado", mas a realidade existencial, por vezes, revela o contrário, ou seja, é melhor viver mal acompanhado do que só. Aliás, Vinícius, o poetinha, afirmou certa feita, despudoradamente: “É melhor o amor que não compensa do que a solidão”.
Como pastor, estou acostumado a ouvir os dramas relacionais das pessoas, separações e crises conjugais fazem parte do meu cardápio cotidiano, além, obviamente, de novas relações que se estabelecem após estações outonais. Me parece, todavia, que a partir dos 40 anos fica mais difícil construir relações duradouras e qualitativas, a esmagadora maioria das pessoas chega a esta etapa da vida com, no mínimo, uma separação e um filho, o que, convenhamos, é uma dificuldade extra.
Recorrentemente, confesso, tenho me deparado com reclamações de que o “mercado” de solteiros é escasso e de baixa qualidade, os homens não querem nada sério e as mulheres preferem investir na profissão do que num novo casamento. A verdade é que vivemos no tempo dos “líquidos”, como afirmou Bauman, somos a sociedade da impermanência, nada sólido ou duradouro sobrevive aos nossos dias.
Diante deste contexto complexo, observo, também, que muita gente partiu para o que expõe, mais uma vez, a sabedoria popular, ou seja, “se não tem tu, vai tu mesmo!”. E assim, relacionamentos de alto risco se estabelecem, pessoas se juntam para aplacar suas carências, sejam elas sexuais, emocionais, e, não raro, financeiras. Ficar só não parece para estes uma boa opção, portanto, é melhor viver pela metade, do que amargar um final de semana de televisão e edredom.
Na verdade, o que percebo em tais arranjos é que, na esmagadora maioria dos casos, eles se revelam desastrosos em pouquíssimo tempo. A pessoa desarruma a vida inteira, às vezes desaloja filhos, muda de apartamento, realiza adaptações profissionais, tudo para tentar fazer caber o new love no espaço apertado que a alma dispõe. Todavia, como esse “Romeu” está mais para “Romero”, ou seja, não era bem isso o que eu desejava, em curto espaço de tempo os problemas se revelam maiores que a capacidade de administrá-los e aí, o desfecho final já está traçado, é só questão de oportunidade...
São muitos, portanto, os casos de pessoas que se entregaram a novas relações que acabaram por se constituir mais adoecedoras do que a que elas possuíam no passado. A tirania da solidão, um mal deste tempo, acaba obrigando o indivíduo a estar acompanhado a todo custo, ainda que essa companhia produza o que poetizou Cazuza – solidão a dois.
Estar só, imagino, é uma merda, pois não há nada melhor do que ter alguém para amar e dividir alegrias e tristezas da vida. Estar acompanhado de alguém que não lhe completa, contudo, parece-me algo ainda pior, pois além de impedir que alguém bacana chegue na antessala do coração, e nos arrebate o ser, faz-nos viver na melancolia do “quase”, ou seja, não é o que eu queria, mas é o que tem para hoje! Como bem disse Chico Buarque, em 1979, na canção “Sob Medida”: “Meu amigo, se ajeite comigo e dê graças a Deus”. Só que não...
Carlos Moreira