“Amanhã; amanhã eu faço.”. Mas amanhã já começou! E mais: daqui a pouco, já terminou, pois amanhã já acontece no hoje, e o hoje começou desde ontem... Tudo está em constate mudança, conectado, faz parte do crochê que emoldura a grande “teia” que é a vida. A única coisa que temos por completo é o agora, o momento, o instante! O mais são partes: restos do ontem, porções do hoje, fragmentos do amanhã.
Vejo as pessoas. Elas pensam que o dia tem 24 horas. Que
ilusão, o dia só tem o agora. Você não sabe se no minuto seguinte estará vivo
ou morto, portanto, toda cogitação é suposição infrutífera. O futuro ainda está
por ser escrito, e ele poderá ser construído de tantas formas diferentes que
não adianta lançar-se a pensar sobre nada, isso trará apenas ansiedades e
inquietações. Talvez por isso Einstein tenha dito: “nunca penso no futuro, ele chega rápido demais”.
A vida me ensinou a fazer as coisas agora, neste momento.
Não deixo para amanhã o que já deveria ter sido feito ontem, pois, na verdade,
estou atrasado! Mas nós temos medo do agora porque o agora não espera, não
permite hesitação, inseguranças, ele não tolera planos, simulações, o agora tem
ser “degustado” neste momento, no tempo em que as coisas estão acontecendo, ou
então haveremos de nos conformar com o fato de que ele, nunca, jamais voltará
novamente.
“Os dias talvez sejam
iguais para um relógio, mas não para um homem”. Marcel Proust. Há coisas
que você precisa realizar agora e, normalmente, estas coisas não fazem parte de
sua rotina. A rotina escraviza, torna-nos peças de uma engrenagem. Mas
creia-me, você precisa quebrar as “regras”, tem de executar aquilo que não está
programado, algo que surgiu na sua frente, de repente, motivou o impulso, produziu
sensações, gerou o insight, criou o
novo.
Há telefonemas que têm que ser dados agora, sentimentos que
precisam ser expressos agora, beijos que precisam ser trocados agora, decisões
que precisam ser tomadas agora, planos que precisam ser executados agora, nãos que precisam ser ditos agora. Sim,
há coisas que não podem esperar, que precisam ser feitas agora, ou então se
“calcificam”, tornam-se parte inerte da história, perdem-se entre o quase e o
foi-se, entre o talvez e o nada.
Você conhece a história de Zaqueu, o publicano. As
Escrituras não apresentam os detalhes da visita de Jesus à sua casa, apenas
narram o fato incomum de um profeta judeu visitar um homem tido como impuro.
Eu não sei o que eles conversaram, apenas os
resultados...
Fato é que, após aquele encontro, de forma inusitada,
inesperada e mesmo surpreendente, Zaqueu, que era um homem desonesto, que
extorquia os habitantes de sua cidade com ágio sobre o imposto cobrado pelos
romanos, tomou a decisão de repor quatro vezes aquilo que havia ganhado
ilicitamente. Era uma decisão difícil, sobretudo em se tratando de questões
financeiras. Some-se a isto o fato de que ele era um homem de “negócios”, devia
ser hábil em fazer contas, não realizava nada sem ponderar cuidadosamente,
pois, como se diz, “o dinheiro nunca
dorme”.
Mas naquela manhã, exposto às verdades e valores do Reino de
Deus, tendo sua alma compungida pelas palavras do Nazareno, sentindo seu íntimo
invadido por uma luz que lhe desnudou as entranhas do ser e sua consciência despertada
frente aos agravos dos próprios atos, desvendados seus olhos para torná-lo
capaz de enxergar sua indignidade, ele não pestanejou, não racionalizou, não
pediu para pensar, fazer contas ou conjecturas, agiu conforme lhe pedia o
coração, apossou-se do agora e não deixou passar aquele momento, o qual, `num único instante, mudou toda sua eternidade, pois disse Jesus: “hoje entrou salvação nesta casa!”.
Sim, Zaqueu não se perdeu nas horas do relógio, não deixou
escapar a oportunidade, não permitiu que o “trem” passasse na estação sem que
ele embarcasse na grande aventura de viver a vida a partir dos pressupostos do
Evangelho, tendo a misericórdia como companheira de jornada e a esperança como
alimento que constrói o novo ser.
O que sei é que a vida não espera por ninguém, segue seu
curso, faz seus próprios planos, ruma inexorável na direção que lhe está
proposta. No fundo, como disse Chaplin, ela “... é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante,
chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça
termine sem aplausos”. Carpe Diem!
Carlos Moreira
Carlos Moreira