Quando
eu fiz 40 anos, um amigo me ligou e disse: “meus
parabéns! Agora começarão os bons anos de sua vida!”. Eu fiquei animado,
pois estava com aquela sensação de envelhecimento, começando a famosa "crise da
meia idade". Aí, em seguida, ele arrematou “é
meu amigo, aproveite os bons anos que virão, pois, os extraordinários, já se
foram...”.
Na
verdade, ninguém quer envelhecer. Por outro lado, na “sociedade da imagem”,
desde que se tenham recursos financeiros, só envelhece quem quer. A medicina avançou
tanto nesta área da estética que é difícil hoje você encontrar alguém que não
tenha feito algum tipo de cirurgia. É implante de cabelo, lipoaspiração,
restauração dentária, botox, silicone, depilação a laser, e um sem número de
mimos disponíveis tanto para as mulheres quanto para os homens.
De
fato, é mesmo possível retardar o envelhecimento. Mas
há um fenômeno que eu tenho observado na sociedade contemporânea: a
desproporcionalidade entre o avanço da idade cronológica e o crescimento da
maturidade existencial. A impressão que tenho é que quanto mais velhas as
pessoas vão se tornando, mais imaturas vão ficando. E não é só isso... O problema
parece ser bem mais freqüente em pessoas do sexo masculino do que nas do sexo
feminino.
Sinto-me
confortável para afirmar isto, pois, como profissional de mercado, interajo com
uma grande quantidade de pessoas, sobretudo em viagens. Fico
abismado com o nível das conversas que travo em encontros dos mais diversos. Percebo
nelas a existência de um profundo esvaziamento emocional, intelectual,
cultural, social, político e religioso. É o que chamo de desidratação da alma. Praticamente
todas as conversas giram em torno da seguinte "vala comum": dinheiro, status, mulher,
balada, futebol e cachaça.
A
prova dos nove, todavia, acontece no gabinete pastoral. Sistematicamente, por
exemplo, ouço as mulheres se queixando da falta de conteúdos nos homens. Elas afirmam
que eles estão sem perspectivas na vida, gravitam em torno de grandes
futilidades, possuem uma vaidade exacerbada, além do total desconhecimento de
questões elementares para se construir uma relação afetiva com um mínimo de
propósito. Lembrei da Paula Toller, do Kid Abelha, quando em sua canção diz: “garotos perdem
tempo pensando em brinquedos e proteção...”. Do lado das mulheres, o
problema se repete, mas numa freqüência menor, eu diria.
“Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria
como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino...
agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.” 1ª
Co. 13:11-12.
Observe o que Paulo está
afirmando: ele está nos ensinando que o conhecimento de Deus e a maturidade
existencial – holisticamente falando – são coisas que caminham de forma paralela.
À medida que minha consciência vai sendo transformada pelos conteúdos do Reino
de Deus, vou deixando para trás as “coisas de menino”, ou seja, as futilidades,
vaidades e tolices próprias de quem ainda não chegou a tornar-se adulto, e
passo a materializar outro tipo de comportamento. Preste atenção: pessoas que
possuem um “centro de gravidade” mais adensado são justamente aquelas que, concomitantemente,
desenvolveram uma espiritualidade sustentável.
Num
mundo feito apenas para os vencedores, nesta sociedade dos campeões, ter é a grande
prioridade para o ser, pois é melhor vencer no mundo do que vencer o mundo! E
assim, alienados pelo zeitgeist, presos
a uma espiral umbigocêntrica que por fim nos leva a uma total incapacidade de nos
enxergarmos, nos auto-discernirmos, vamos envelhecendo, mas, curiosamente,
nunca chegamos a nos tornar adultos. Sobre isso, Hermann Hesse afirma: “Ninguém pode ver nem compreender nos outros o
que ele próprio não tiver vivido”.
Tenho encontrado muito poucas
pessoas que tem idade cronológica compatível com a maturidade existencial. Quando
isto acontece, todavia, percebo que há algo em comum entre elas: o fato de estarem
sendo capaz de evoluir no discernimento de Deus, de si mesmas e dos seus
semelhantes.
Carlos Moreira