Eu já acreditei na amizade como um bem
inalienável, como o encontro de corações que se completam, como sentimento que
permeia a vida, transpassa a alma, vai no âmago do ser.
Eu já acreditei na solidariedade como manifestação humana aos caídos da terra, na sensibilização do ser ante a miséria alheia, na dor que dói em mim porque dói também no outro.
Eu já acreditei na fidelidade como bem para a vida, como marca do caráter, como prova de amor, como dádiva de Deus.
Eu já acreditei na “Igreja” como instituição mediadora da fé, como meio de propagação do Evangelho, como local de acolhimento de perdidos e excluídos da sociedade.
Eu já acreditei no “Evangelho” como doutrina de ressignificação da consciência humana, como matriz de valores para a vida, como mensagem de reconciliação entre o Eterno e o finito.
Eu já acreditei no amor como encontro de corpo, de alma, de espírito, como encontro de olhares, de tatos, de afetos, de afagos, como síntese do que se pode viver de melhor na existência.
Eu já acreditei na verdade como princípio, como tônica máxima na expressão do ser, como valor a ser buscado e cultivado por aqueles que cansaram da mesmice e da mediocridade.
Eu já acreditei no espírito empreendedor humano, nas realizações, na criação, na execução de obras, na criação de produtos, no desenvolvimento de sistemas.
Eu já acreditei na razão, na lógica, na argumentação bem fundamentada, na conversa olho-no-olho, na ética.
Eu já acreditei na ciência, no empirismo, na capacidade humana de manipular a natureza, domá-la, transformá-la, convertê-la em “produto” a favor da vida e do bem.
Eu já acreditei em sonhos, em fazer mapas, em sair da vulgaridade, da rotina, da linha de produção em série, do pensamento commoditizado, da unanimidade burra.
Eu já acreditei que era importante acreditar, acreditei que acreditando seria capaz de acreditar ainda mais e que acreditar era algo indispensável a vivência do ser humano.
Mas como tenho dito, eu já acreditei... Hoje, não acredito mais. Acordei. Perdi o romantismo, perdi a sensibilidade, perdi a esperança, perdi as convicções, perdi o entusiasmo, perdi o sorriso, perdi o medo.
Resta-me, ainda, um resquício de fé. Resta-me, ainda, uma fagulha de Deus. Talvez, então, algum dia, ainda volte a acreditar...
Carlos Moreira