“Trocam-se lâmpadas novas por lâmpadas velhas!”. Você já ouviu esta frase? Ela faz parte do conto Aladim e a Lâmpada Maravilhosa, que está contido na coletânea de livros e estórias das Mil e uma Noites, preservadas na tradição oral dos povos da Pérsia e da Índia.
Aladim, um jovem chinês, órfão de pai, pobre, vivia a vagabundear pelas
ruas. Um dia, um mago africano chegou de um distante reino e passou a
observá-lo. Com uma estória falsa, ele foi solicitado a apanhar uma lâmpada
velha, abandonada em um jardim, sob o pretexto de ficar rico e poderoso.
Entusiasmado com a idéia, cumpriu a missão, mas foi abandonado na caverna
escura porque se negou a entregar a lâmpada ao mágico antes de ser puxado para fora.
Desesperado, durante dias procurou sem sucesso uma saída. Entretanto,
acidentalmente, acabou esfregando a lâmpada e, surpreendentemente, um gênio lhe
apareceu. Ele era capaz de realizar todo e qualquer desejo para o seu
possuidor. E foi assim que Aladim tornou-se um homem poderoso, rico, casou-se
com a filha do sultão e passou a morar no palácio.
Após algum tempo, sabedor do sucesso de Aladim, o mágico retornou a
China. As portas do palácio, disfarçado de vendedor ambulante, começou a
anunciar em alta voz: “trocam-se lâmpadas
novas por lâmpadas velhas!”. A princesa, que desconhecia o segredo, achou
aquela uma ótima oportunidade. Assim, trocou a lâmpada mágica por uma lâmpada
nova, mas que não tinha poder algum. Imediatamente o mago acionou o gênio e
ordenou-lhe que levasse o palácio com a princesa para terras distantes,
deixando Aladim atônito, desesperado e sem absolutamente nada!
Tenho observado os dias em que vivemos, esta sociedade consumista,
materialista que, cada vez mais, alimenta-se através da troca de coisas.
Troca-se um casamento velho por um novo; uma profissão velha por uma mais
rentável; um amigo velho por um outro que “abra” um novo network. É uma questão de oportunidade! No fundo, tudo que nos
cerca perdeu o seu valor absoluto. O que importa agora é o que é relativo e
como este relativismo pode nos atender.
Por isso é possível trocar caráter por jeitinho, amor por estabilidade,
fidelidade por prazer, honestidade por comodidades, compromisso por omissão,
troca-se tudo por qualquer coisa desde que se possa ganhar algo com isto. Até
mesmo porque, quem pode prever o que uma boa negociação trará de benefícios? Não
seria absurdo trocar um Deus antiquado, com princípios e valores “superados”,
por outro moderno, tipo “gênio da lâmpada”, que nos assegurasse benefícios e
vantagens aqui, agora, e isso sem precisarmos esperar pela eternidade, se é que
ela existe? Como assim? Você já trocou?!
“Alguma nação já trocou os seus
deuses? E eles nem sequer são deuses! Mas o meu povo trocou a sua Glória por
deuses inúteis. O meu povo cometeu dois crimes: eles me abandonaram, a mim, a
fonte de água viva; e cavaram as suas próprias cisternas, cisternas rachadas
que não retêm água”. Jr 2:11 e 13. Pois é, já dizia George Courteline: “É mais fácil trocar de religião do que de
café”.
A denúncia do profeta Jeremias poderia estar estampada no jornal de
qualquer denominação cristã: das Histórias e Reformadas, as Pentecostais e
Neopentecostais, passando, até mesmo, pela Igreja Católica; qualquer uma!
Abandonamos a Deus, seus valores, seus princípios, sua ética, e trocamos tudo
isto por um “prato de lentilhas”, por um estilo de vida mais “adequado” ao
século XXI, mas adaptável às nossas necessidades e demandas. Assim,
sincretizamo-nos com práticas das mais perversas, destruímos, em benefício
próprio, a sã doutrina, agimos de forma reprovável e, cinicamente, fazemos como
fez o povo de Israel dizendo: “por que
nos ameaça o Senhor com todo este grande mal? Qual é a nossa iniqüidade, qual é
o nosso pecado, que cometemos contra o nosso Deus?” Jr. 16:10
Abandonamos a fonte de água viva, que é Jesus – “vinde a mim e bebei” – a sua Palavra, o seu Espírito, o seu
Evangelho, e passamos a beber água suja, armazenada em cisternas construídas
por mãos humanas, cisternas que não podem reter o que trás a paz e faz o bem
porque rompem-se, deixam vazar seu conteúdo, pois suas águas estão apodrecidas.
Por isso sucede-nos o que também se sucedeu ao povo de Israel: “agora, por que você vai ao Egito para beber
água do Nilo? E por que vai à Assíria para beber água do Eufrates?”. Jr.
2:18. Temos de beber a água do “Egito”, que simboliza o mundo e seu sistema
perverso, bebemos de seus valores distorcidos e nem nos apercebemos que eles
estão nos matando, destruindo nossas famílias, vamos a “Assíria”, beber das
fontes do paganismo, e assim nos apropriamos de “fogo estranho”, porque as
fontes da vida que nos supriam secaram-se, esvaziaram-se, tornaram-se
indisponíveis.
Nunca foi tão fácil, em termos da sociedade humana, realizar trocas como
em nossos dias. Podemos trocar tudo! O ferro de engomar quebrou, troca-se; o
mouse do computador quebrou, troca-se; o carro está quebrado, troca-se; não
está feliz no apartamento atual, troca-se; a faculdade é distante, troca-se;
não está realizado no emprego, troca-se; o casamento está monótono, troca-se; a
igreja não tem programas que te agradam, troca-se; o pastor é muito firme,
troca-se; Deus não te atende, troca-se. O importante é você estar feliz! Por
isso, vá trocando tudo até encontrar algo que lhe agrade!
É a cultura do descartável. Começa-se trocando coisas; depois, trocam-se
valores; em seguida, princípios e, por fim, pessoas. Aí instaura-se em nossa
consciência um mecanismos perverso que nos leva a amarmos as coisas e usarmos
as pessoas. Saímos trocando, como se a vida tivesse se tornado um grande mercado
público e tudo pudesse ser “comercializado”, não há limites nem restrições, não
há regras, nem ética, nem nada, apenas a necessidade de se saciar o apetite da
alma e de suas paixões.
Às vezes fico imaginando se Deus nos tratasse na mesma moeda. Já pensou se
houvesse um jornal no céu, “A Tribuna Divina”?!. Como sereia abrir de manhã
cedo a seção dos classificados e encontrar, com letras garrafais, o seguinte
anúncio: Deus Troca! E abaixo, as ofertas...
"Troca-se um fulano que quer fazer por um outro que queira ser; a fulana
maldizente por uma que seja adoradora; a cicrana fofoqueira por uma
apaziguadora; um marido infiel por um que seja leal; um colaborador esporádico
por um dizimista responsável; um atarefado por um comprometido; um legalista
por alguém cheio da graça; uma boca suja pela língua de um salmista; ativistas
por gente que ora; uma igreja com donos por uma em que Eu possa mandar;
“apóstolos”, “bispos”, “patriarcas”, “evangelistas”, “missionários” e outras
“entidades metafísicas” por gente humilde, simples, comprometida apenas com o
ensino, o pastoreio e a profecia".
Apenas uma pergunta: Você trocaria?...
Carlos Moreira
Apenas uma pergunta: Você trocaria?...
Carlos Moreira