Nestes últimos dias estamos vivendo a
“febre das paradas”. É parada pela legalização da maconha, parada dos Bombeiros
do Rio, parada pela liberdade de expressão, parada gay, parada dos
“evangélicos” – marcha para Jesus? – e ainda tem a parada de 7 de Setembro pela
independência do Brasil. Haja parada!
Algumas destas manifestações eu até entendo...
A legalização da maconha, por exemplo, não é só um problema de saúde pública ou de polícia, o
“buraco” é muito mais embaixo... As ramificações do tráfico são tantas, e tão
complexas, que discutir se libera ou não, para mim, é como coar o mosquito e
engolir o camelo.
A questão dos Bombeiros é legítima; são
profissionais que se arriscam, estão sempre de prontidão, prestam um valoroso
serviço a sociedade e ganham salários pífios. Acho que o governador do Rio
excedeu-se, extrapolou seu poder e autoridade.
Quanto à questão da liberdade de expressão,
num país que viveu durante décadas debaixo de uma ditadura militar, nunca é
demais fazer uma passeata para avivar em certas mentes velhos preceitos.
A democracia é o estado de direito que permite ao povo manifestar-se, ser
ouvido.
Já a parada gay, há muito tempo deixou de
ser uma manifestação deste grupo da sociedade exigindo respeito e dignidade,
para tornar-se um desfile anárquico, com exageros dos mais diversos,
hostilidades, baixarias, pois os gays, tentando combater a homofobia, tornaram-se
heterofóbicos, criaram a ditadura da homossexualidade.
O desfile de 7 de setembro celebra a
independência do Brasil. Tem sua importância do ponto de vista do fato
histórico, mas não reflete a realidade sócio-econômica do país pois, num mundo
globalizado, todo mundo depende de todo mundo e nós, do 3º mundo, dependemos
ainda mais.
Agora, a tal da marcha para Jesus, do meu
ponto de vista, é de amargar! Apesar de nunca ter ido a uma, pois sempre achei
o evento bizarro, acompanho a cada ano as notícias sobre a dita cuja nos meios
de comunicação. Assim como a parada gay, que perdeu seu propósito, esta marcha,
se um dia já teve algum, há muito ele desvaneceu-se.
Hoje, esse corso de “carnaval
evangélico”, com trio-elétrico e tudo, essa passeata de políticos "crentes" – espertalhões,
falsários e corruptos – essa grande massa amorfa de gente caminhando pelas
ruas, só me faz lembrar da música de Zé Ramalho que afirma em um de seus
versos: “...e ver que toda essa
engrenagem, já sente a ferrugem lhe comer... Êeeeeh! Oh! Oh! Vida de gado. Povo
marcado, êh! Povo feliz!...”. Que o povo é marcado, eu tenho certeza, mas será que o povo é feliz?
Meu amigo, minha amiga, se você
ainda tem algum juízo em sua cabeça, se você ainda tem algum sopro de Deus em
sua consciência, se você é capaz de, ao menos, ouvir o sussurrar do Espírito
Santo, não se junte a este trágico desfile! Eu lhe aconselho, no nome do
Senhor, fique em sua casa, junte sua família, alguns irmãos, e ore por esta
“igreja” que, nem de longe, é um Corpo, mas apenas uma massa desconjuntada de
membros esquartejados!
Essa marcha nem é nem nunca foi para
Jesus e isso qualquer tolo pode ver... Quem foi que disse que Jesus quer um
bando de gente “marchando” por ele nas ruas? Quem foi que disse que Jesus está
atrás de ser notícia no Jornal Nacional ou na Veja? Quem foi que disse que o
Senhor de toda a Terra está em busca deste tipo de publicidade? Será que você é tão ingenuo que não percebe que tem um grande business por trás de tudo isto!?...
Alguma vez você viu nas Escrituras Jesus
incitando algo deste tipo? Você já o imaginou dizendo aos discípulos: “vamos juntar uma moçada lá em Cafarnaum e
fazer um grande desfile para que se saiba, até em Roma, que eu sou o Rei dos
Reis!”. Você imagina Paulo entrando em Atenas, em cima de um carro de boi,
vociferando as verdades do Reino, seguido de um bando de “crente” com cornetas
e apitos, com seus rostos pintados e carregando faixas com os seguintes dizeres:
“aceitem Jesus!”?
Acorda rapaziada! Não é com passeata de 2,0 milhões de “evangélicos” que, não raro, nem sabem pelo que estão marchando, pessoas que nunca leram nem os 4 Evangelhos, gente que nunca foi discipulada, um “exército” de “soldados” com carisma, mas sem nenhum caráter, que a nossa sociedade vai perceber que o caminho é Cristo! Ah, isso nunca!
O Reino de Deus é subversão
silenciosa, discreta, pacata, vida sendo gerada na vida de outras pessoas
através dos encontros humanos, de casa em casa, nas esquinas da existência,
tudo de forma simples. Precisamos é de gente que acolha o necessitado, que
visite o preso, que solidariza-se com o faminto, que ore pelo enfermo, que ande
pelos “antros” da terra anunciando com ações a Boa Nova de que “Deus estava em Cristo reconciliando consigo
mesmo o mundo, não imputando aos homens os seus pecados”.
E digo-lhe mais... Para fazer isto,
não precisamos de passeata, publicidade, carro de som, trio-elétrico, multidão,
mas apenas de um punhado de gente que teve o coração pacificado pela graça que
acolhe os caídos do mundo. O mais, meu mano, é fanfarra de “crente”, micareta
“evangélica”, corso de “figueiras cheias de folhas”, mas sem qualquer fruto de
justiça ou misericórdia.
Não gostou? Então coloque a sua
“fantasia” e vá para a rua! Não tem fantasia? Então vá disfarçado de você
mesmo... Um a mais, um a menos, que diferença fará? Se existem exceções? É óbvio!
São os que estão, a cada ano, deixando de participar desta prosopopéia! Sabe o que significa o termo? Trata-se de uma figura de linguagem que dá vida e sentimentos aos seres inanimados... Não cai como uma luva?
Carlos Moreira