Meu pai faleceu em 2006, vítima de um câncer no fígado. Durante 13 anos pagou religiosamente em dia um determinado plano de saúde para que, quando viesse a precisar, pudesse usufruir de seus benefícios. Certo dia ele me ligou e, com voz cansada, disse: “filho, eu não estou bem, leve-me ao hospital”. Em alguns instantes estávamos diante de um diagnóstico desalentador: peritonite aguda, uma infecção generalizada no abdômen.
Quando
meu pai estava entrando no elevador para se dirigir ao quarto, o hospital impediu-o
de subir, pois o plano de saúde havia negado a internação. Eu sabia que aquele era um caso de vida ou morte. Não tive dúvidas, levei-o ao hospital público
mais próximo e internei-o para que pudesse ser atendido.
Paralelamente,
entrei com um mandato de segurança para poder removê-lo de volta ao outro hospital
ao qual ele tinha direito pelo plano. Foi uma luta imensa, mas lembro-me quando
cheguei à enfermaria na qual ele estava com o despacho do juiz nas mãos para
dizer-lhe, com lágrimas nos olhos: “está feito”.
Em
dias como o de hoje, fico imaginando o sofrimento de Jesus em seus últimos
momentos. Mas também imagino o sofrimento do Pai, pois Ele sofria não só por
aquele Filho dependurado entre o Céu e a Terra, mas por todos os outros
pendurados nos madeiros da vida, crucificados pelas injustiças dos homens,
trucidados pelo poder destrutivo do pecado, privados da luz pelas trevas,
chicoteados pela miséria, pela dor, pelo abandono, coroados com coroas adornadas
de espinhos de rejeição e de preconceito.
Sim, naquela tarde sombria do Gólgota, um Deus agonizava na Terra e os outros dois agonizavam nos Céus. Mas após aquelas três horas de intenso sofrimento, a frase que ecoava desde a eternidade – pois “o Cordeiro foi sacrificado antes da criação do mundo” – materializou-se historicamente na voz frágil do Profeta de Nazaré: TETELESTAI! “Consumatum Est”. Está Feito! Está Consumado!
Sim, naquela tarde sombria do Gólgota, um Deus agonizava na Terra e os outros dois agonizavam nos Céus. Mas após aquelas três horas de intenso sofrimento, a frase que ecoava desde a eternidade – pois “o Cordeiro foi sacrificado antes da criação do mundo” – materializou-se historicamente na voz frágil do Profeta de Nazaré: TETELESTAI! “Consumatum Est”. Está Feito! Está Consumado!
Tetelestai
é uma palavra grega que era bastante utilizada nos dias de Jesus, pois estava
presente em alguns fatos da vida cotidiana das pessoas. Outra peculiaridade, além
desta, é que ela podia assumir mais de um significado, conforme a ocasião
requeria.
Tetelestai
era usada como expressão quando um artista ou escritor concluía a sua obra. Caio
Fábio afirma que antes de Deus dizer “haja luz!”, Ele disse: “haja cruz!”. No
derradeiro momento do calvário, Deus concluiu o plano de salvação escrito na
eternidade, Ele terminou a obra que vinha “pintando” desde o paraíso, finalizou,
finalmente, o “quadro”, e assim devolveu ao homem a chance de se reconciliar com
Seu criador.
Tetelestai
era utilizada também quando o servo terminava um trabalho e o comunicava ao seu
Senhor. Jesus sempre foi categórico em dizer que não estava a serviço próprio,
mas fazia apenas aquilo que era da vontade do Pai. Até na hora da morte, quando
pediu: “se possível passa de Mim este cálice”,
declarou resignado logo em seguida: “mas
não se faça a minha vontade, mas a Tua”. Ele foi tentado em todas as coisas
e em nada caiu, cumpriu a Lei, fez o que lhe foi requerido e, no tempo e na
hora exatos, terminou o trabalho que lhe fora confiado.
Outra
aplicação para Tetelestai, dita em seu correlato aramaico ou hebraico pelos
sacerdotes do templo, era quando um animal era oferecido em sacrifício. Após um
exame minucioso, não sendo achado qualquer defeito ou mácula, o sacerdote
declarava: Tetelestai. Naquela cruz estava o cordeiro pascal – “eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo” – sem mancha, sem mácula, sem defeito, pois, como ovelha muda, foi
conduzido até os Seus tosquiadores, ofereceu-se em sacrifício uma vez por todas
e, “por meio de Suas pisaduras nós fomos
sarados”.
Finalmente,
Tetelestai ainda significava o resgate final de uma dívida. Era um termo usado
pelos mercadores para designar que o débito fora totalmente pago. Por isso o apóstolo
Paulo afirma aos Colossenses: “Ele cancelou a escrita de dívida, que
consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na
cruz”,
Eu
não sei se a data de hoje coincide com a sexta-feira da paixão. Isso para mim é
totalmente irrelevante. O que me importa é que houve na história da humanidade uma
sexta-feira em que o Filho de Deus esteve pendurado numa cruz, derramando Seu
sangue para que o Pai pudesse perdoar aos homens os seus pecados e não imputar-lhes
as suas transgressões. Por isso, neste dia de hoje, a coisa mais importante que
eu posso lhe dizer neste artigo é: TETELESTAI!
Carlos Moreira
Carlos Moreira