Na sociedade da imagem, o que importa é causar impacto logo na partida, pois o senso comum afirma que “a primeira impressão é a que fica”. Mesmo que tudo seja uma farsa, é melhor parecer sem ser do que ser e não aparecer.
Esse também é um tempo de busca por resultados: acionistas
esperam resultados, clientes desejam resultados, o mercado projeta resultados. As
pessoas não pensam, apenas executam. Ninguém se pergunta: “por que isso está
sendo feito?”. Ao contrário, afirmam: “tem que ser feito, está na programação!”.
Essa dinâmica produziu um fenômeno ligado à fé: o evangelho
burocrático. Ele transformou a igreja numa fábrica e os discípulos em trabalhadores.
No evangelho burocrático a mudança da vida não é algo imprescindível, pois é
possível viver apenas uma projeção. O que se requer é tão somente o engajamento
do indivíduo na linha de produção da igreja-fábrica, de tal forma que ele siga
as rotinas da religião, e isso sem questionar nada. É o “fordismo”
cristão!
Esse “trabalhador”, então, passa a se envolver em campanhas,
obras sociais, ministérios para-eclesiásticos e na evangelização, todas tarefas
que movem a “engrenagem”. A grande maioria, todavia, produz ações inócuas, pois
as realizam sem as motivações corretas para fazê-las. É que mudar a agenda não implica
em mudar a consciência! De que adianta cumprir a grade da programação e, fora dela,
a vida continuar seguindo insólita?
Essa neurose obsessiva em realizar se faz acompanhar por
aquilo que chamo de “síndrome do camaleão”. Trata-se de uma metamorfose
epidérmica, calcada na imagem. As mudanças são condicionadas, estão associadas
a contextos, ambientes, etc. É a fé teatralizada, que se adéqua as demandas
sociais, que “posa para a foto”, porém, fora dessa ambiência, a vida agoniza em
meio a desencontros pessoais, desarranjos familiares e desvios
profissionais.
Ora, a proposta do Evangelho tem a ver com a ressignificação
da vida, não com a realização de um trabalho! Deus não está atrás de
trabalhadores, mas de adoradores. E adoração não é algo associado a nenhuma
arquetipia estética, ou a geografias do sagrado – “nem neste monte nem em
Jerusalém” – mas ao que acontece “em espírito e em verdade”, no chão da Terra,
em qualquer lugar e em todo tempo, pois o altar é o coração e o culto é a vida!
Além disso, tem que ser expressa em absoluta verdade, pois toda performance que
se constitui estelionato do ser é abominação a Deus.
Alguém já afirmou que o caminho de todo discípulo é uma
maratona, não uma corrida de cem metros. Mais importante do que começar bem, é
terminar bem. Muitos começam bem, mas terminam mal! Talvez por isso o sábio do
Eclesiastes afirme: “o fim das coisas é melhor do que o seu início...”.
Ec. 7:8. Nas palavras de Paulo, seria como dizer: “combati o bom combate,
completei a carreira e guardei a fé”. Assim, mais importante do que
contabilizar “o que você fez”, é saber “por que você fez”.
“O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a
caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher...”. Cora Coralina.
Estou certo de que, ao final da jornada, quando o Senhor me chamar, tudo o que
me tornei será registrado em uma “lousa de bronze”. Nela constará aquilo que,
em Deus, eu conquistei, o que o Espírito produziu em mim. Essa será a minha
glória, representará o mais perto que eu consegui chegar da estatura de Jesus,
o meu Senhor.
E assim, olhando desta perspectiva e pensando na eternidade
como a fronteira mais avançada, a última impressão é a que fica, e não a
primeira, pois o mais relevante na soma das ambiguidades da vida é quem você se
tornou e não o que você fez.
Carlos Moreira
Carlos Moreira