Hoje, 18 de junho, foi o dia da “Marcha do Orgulho LGBT” em São Paulo. Exatamente há uma semana atrás, Evangélicos ocuparam as ruas da cidade, só que na zona norte, na “Marcha para Jesus”, igual em magnitude, mas oposta em propósito e proposta. Será?
LGBT e Evangélicos representam, nos dias atuais, expressivas fatias da sociedade brasileira, cada qual com suas idiossincrasias, mas ambos lutando contra preconceitos atrozes e discriminações ferrenhas. Os Evangélicos, historicamente, são perseguidos pela mídia; os LGBT, por sua vez, pela religião institucional. Cada um, ao seu jeito, tenta abrir espaço na multidão para ter vez e voz, obter respeito e ser reconhecido.
As semelhanças, contudo, não param por aí... A Marcha LGBT é marcada pelo excesso, não só na extravagância das fantasias, mas em atitudes extremadas, gestos histriônicos e, não raro, ofensas theofóbicas, ou seja, desrespeito a símbolos e crenças da religião cristã. Os Evangélicos, por sua vez, homofóbicos em sua maioria esmagadora, representados mais expressivamente na marcha por pentecostais e neopentecostais, extravasam uma “alegria” esfuziante, regada a cânticos, danças, pulos e malabarismos, atitudes que só cabem na rua, pois seriam, sem dúvidas, rechaçadas no espaço do “templo” e reprimidas pela ortodoxia doutrinal.
Outra coisa que, incrivelmente, aproxima os grupos tão antagônicos é o fundamentalismo ideológico. Sim, homossexualismo e cristianismo são, por assim dizer, duas religiões, com suas regras e costumes, seus objetivos político-sociais e suas propostas de hegemonia colonizadora. Um apregoa a doutrina da libertação da “moral” careta, o outro defende a plástica comportamental baseada nos valores da tradição judaico-cristã. No fundo, os “apóstolos” das duas crenças não passam de "gayzistas" e "crentinos", ambos defendem suas convicções a ferro e fogo, desejam ser maioria de forma irremediável, donos do status quo, estão dispostos a ultrapassar até mesmo os limites da razão e do bom senso para defender posturas, muitas vezes, irreconciliáveis com a bondade e a justiça.
E seguem as coincidências... LGBT e Evangélicos também desfilam em praça pública com o objetivo claro de demonstrar para a sociedade a força que possuem. Sim, no primeiro caso, o manifesto é uma ovação a frase histórica do Zagalo, algo como: “nós estamos aqui, reconheçam, pois vocês vão ter que nos engolir!”. Marginalizados, excluídos e discriminados, gays, lésbicas, bisexuais e transexuais vão as ruas, antes de tudo, para protestar, exigir o respeito que merecem e buscar a dignidade que vem pela aceitação da massa. Evangélicos, por sua vez, estão numa “batalha espiritual” contra o “mundo”, querem mostrar um Jesus romano, belicista, conquistador, dominador, que é cabeça, não cauda! Esse deus, contudo, parece mais com Thor, uma divindade nórdica, do que com o Deus hebreu que se revela na figura do Carpinteiro de Nazaré, o Deus que deixou o trono da majestade celeste e veio servir aos homens, lavando-lhes os pés e os pecados.
Quer mais? LGBT e Evangélicos patrocinaram, cada um a seu modo, um evento que movimentou milhões de reais. A Causa da liberdade sexual despertou não só a atenção do mercado corporativo, promoveu seu total envolvimento com o business. Marcas como Boticário, AMBEV e Uber se tornaram patrocinadoras do evento, todos de olho no “Pink Money”. Mas o negócio não para por aí, ainda tem artistas renomados, políticos inflamados, heróis de ocasião e muita, muita grana sendo gerada no movimento que atiça o comércio local. Já os Evangélicos, por outro lado, não ficam atrás. Eles também tem seus políticos, seus artistas gospel, seus trios elétricos e muito merchan no share do mercado religioso. Subir nesses palcos preparados pela Marcha para Jesus, seja para discursar ou cantar, custa caro, vale tempo de rádio, de TV, percentual de grana do patrocínio público e não falta quem queria pagar para fazer sua propaganda pessoal. Aliás, o dono da Marcha para Jesus, Estevan Hernandes, foi durante anos profissional de marketing de empresas como Xeroz e Itautec, sabe fazer a “roda girar”, Jesus, para ele, é apenas mais uma commodity na prateleira. Isso sem falar nas propagandas de outros produtos, como a BemPrev, a previdência privada para evangélicos que foi anunciada durante a micareta dos crentes.
Até naquilo que é trágico os grupos se assemelham. A violência sofrida injustamente pelo movimento LGBT, que coloca o Brasil hoje como destaque mundial de assassinatos contra adeptos das práticas, pode também ser comparada a violência histórica sofrida pelos Evangélicos no final do século XIX e primeira metade do século XX, onde igrejas foram incendiadas, missionários assassinados e participantes de cultos apedrejados. A coisa era tão absurda que o aparato militar e policial, usado na defesa da lei e do cidadão, foi usado como instrumento de coerção e intimidação, o que pode ser comprovado com uma pequena pesquisa histórica.
Bem, quem sabe como esses jogos são jogados, não tem ilusões sobre os objetivos destas marchas... Tenho respeito pela homossexualidade humana e por outras expressões de sexualidade não convencional, mas desprezo pelo movimento ideológico. Possuo gays como amigos pessoais e, em minha comunidade, eles são tratados sem discriminação ou preconceito, podem exercer funções e viver sua fé sem ser molestados, mas jamais me convidem para me aliar a esses que fazem da ideologia sexual sua bandeira existencial.
Quanto aos Evangélicos, tenho amor pela esmagadora maioria das pessoas que ali estão. Sei que, em grande parte, trata-se de gente alienada, que ainda não percebeu que não passa de massa de manobra nas mãos de lobos vorazes. Sim, há muita gente boa e ingênua na “Marcha para Jesus”, achando que O Galileu está vibrando com o mega-evento da fé. Tolice. O Reino de Deus não se estabelece com fanfarras e demonstrações de poder terreno, mas em manifestações de paz, amor e justiça, sobretudo, no serviço aos pobres e desamparados. A Marcha da igreja não é nas ruas da cidade, com ufanismo e catarse emocional, mas nas favelas e cracolândias do Brasil, nos presídios e nos hospitais, visitando órfãos e viúvas, cuidando de indefesos e invisíveis sociais, tudo no anonimato, pois o sal salga e dá sabor ao alimento sem ser, sequer, percebido...
Portanto, concluo reconhecendo que o grupo LGTB realizou, de fato, um estrondoso evento hoje! Gays, lésbicas, transexuais e bisexuais conscientes, contudo, sóbrios e cônscios de seu papel social e da responsabilidade que carregam em se assumir como são, sabem que o que estou falando é coerente com a Verdade. Aos Evangélicos, por outro lado, credito todo o "sucesso" do mega-evento realizado, ainda que isso não tenha nada a ver com o Evangelho é, sem dúvida, uma demonstração de força diante de uma sociedade hipócrita e de um país que se intitula cristão e é o campeão da corrupção e da desigualdade social.
Para ambos os grupos, todavia, deixo um chamado a reflexão. Vocês são tão diferentes e tão parecidos, tão antagônicos e tão próximos, tão distintos e tão iguais. Na verdade, quando olho para vocês não consigo ver esta distância abissal que muitos apregoam, vocês são, sim, os dois lados da mesma moeda...
Carlos Moreira