Há homens que nascem para marcar o chão em que pisam. Eles são singulares, irrepetitíveis. Gente desta envergadura não se satisfaz em passar pela vida como turista. Eles desejam imprimir algo na história da humanidade, saciar o apetite de ir além do trivial.
Pensando nisso, lembrei que a indústria do entretenimento, motivada em reverenciar e imortalizar seus ídolos criou a famosa Calçada da Fama, em Hollywood. O seu longo passeio, de forma inusitada, está “eternizado” com as marcas das mãos e pés de centenas de celebridades do showbiz.
Mas para entrar nesse seleto hall é preciso atingir o “sucesso”, tornar-se midiático, e, não raro, extravagante. As marcas daquela calçada mais parecem “pegadas” que descortinam a história de cada um, todas escritas num chão comum. Mas foi a “poeira da existência”, acumulada pelos anos, o que acabou por esculpir na lousa da vida o que veio a se constituir narrativa pessoal.
O que tenho observado na “sociedade da imagem” é que só aqueles que escreveram seus nomes nas “Calçadas da Fama” se notabilizaram. Ninguém se atém às “pegadas” comuns daqueles que se levantam às cinco da manhã para realizar coisas corriqueiras. Gente que tem de caminhar pelo solo pedregoso da favela para apanhar a condução lotada e ir para o serviço. Eles entram nas fábricas, cumprem suas jornadas e recebem pelo que fazem. Mas, sem perceber, acabaram se tornando apenas peças da grande engrenagem que engole pessoas e devora o ser.
Pelas “calçadas da vida” há pegadas de muita gente boa, quase todas sobrepostas, o que nos mostra que, independentemente da direção, o caminho de todos os homens é sempre o mesmo. As marcas que produziram ficam apenas “impressas” no diário daquele dia, na rotina anônima de cada um. E assim, ao final da empreitada, todas desaparecem, sobra apenas a fadiga da alma e o cansaço do corpo.
Analisando tudo isso, ocorreu-me a figura de Moisés, o hebreu que conduziu o povo de Israel do Egito até a Terra Prometida. Sempre acreditei que o fato dele não entrar no lugar que fora prometido aos Patriarcas produziu uma imensa frustração, pois diz o Texto Sagrado que ele apenas viu a terra de longe e faleceu em seguida.
Como sabemos, Moisés caminhou 40 anos pelo deserto. Certamente neste tempo produziu muitas pegadas, mas todas foram apagadas pelo tempo e pela areia do solo da Palestina. Elas não ficaram esculpidas senão na sua alma, pois caminhar no deserto faz as pessoas enrijecerem a pele e abrandarem o coração. O “deserto” não é local para empreender uma carreira de sucesso, é lugar para forjar homens de valor.
A história de Moisés, de certa forma, é semelhante à minha, quem sabe, à sua. Eu já andei muito pelo chão da Terra, mas todas as minhas pegadas foram apagadas pelo tempo, delas nada restou a não ser a lembrança dos caminhos que fiz, tanto os que me conduziram à paz e ao bem quantos os que se constituíram veredas de sombra da morte.
Por isso, ao lançar o seu olhar sobre alguém, não busque apenas discernir se ele conseguiu ou não escrever seu nome no hall de galerias célebres, como a Calçada da Fama. Pois, como disse certa vez Clarice Lispector: “Antes de julgar a minha vida ou o meu caráter... calce os meus sapatos e percorra o caminho que eu percorri, viva as minhas tristezas, as minhas dúvidas e as minhas alegrias. Percorra os anos que eu percorri, tropece onde eu tropecei e levante-se assim como eu fiz. E então, só aí poderás julgar...”.
Às vezes, os grandes passos que damos não serão sequer percebidos, passarão incólumes da “plateia”. Eles não serão transmitidos em cadeia nacional de televisão, como foram os de Neil Amstrong, que pisou no solo lunar. Contudo, tais pegadas, feitas sob a poeira que se esvai, ao final de um dia comum, no solo sagrado da vida, revelam o caminho que um homem escolheu fazer, qual direção desejou seguir e que tipo de “frutos” colherá enquanto caminha.
Carlos Moreira
A história de Moisés, de certa forma, é semelhante à minha, quem sabe, à sua. Eu já andei muito pelo chão da Terra, mas todas as minhas pegadas foram apagadas pelo tempo, delas nada restou a não ser a lembrança dos caminhos que fiz, tanto os que me conduziram à paz e ao bem quantos os que se constituíram veredas de sombra da morte.
Por isso, ao lançar o seu olhar sobre alguém, não busque apenas discernir se ele conseguiu ou não escrever seu nome no hall de galerias célebres, como a Calçada da Fama. Pois, como disse certa vez Clarice Lispector: “Antes de julgar a minha vida ou o meu caráter... calce os meus sapatos e percorra o caminho que eu percorri, viva as minhas tristezas, as minhas dúvidas e as minhas alegrias. Percorra os anos que eu percorri, tropece onde eu tropecei e levante-se assim como eu fiz. E então, só aí poderás julgar...”.
Às vezes, os grandes passos que damos não serão sequer percebidos, passarão incólumes da “plateia”. Eles não serão transmitidos em cadeia nacional de televisão, como foram os de Neil Amstrong, que pisou no solo lunar. Contudo, tais pegadas, feitas sob a poeira que se esvai, ao final de um dia comum, no solo sagrado da vida, revelam o caminho que um homem escolheu fazer, qual direção desejou seguir e que tipo de “frutos” colherá enquanto caminha.
Carlos Moreira