Desculpe, Marcelo, mas o otário aqui sou eu! Sim, por que eu não fiquei bilionário corrompendo ninguém, nem criei uma empresa paralela para fazer subvenção de políticos movidos à propina, nem estuprei o Estado Brasileiro com obras superfaturadas pagas com o dinheiro do contribuinte, parte dele formada por aquele indivíduo que morre no corredor do hospital, que não tem escola para os filhos nem saneamento básico para viver com um pouco de decência.
Desculpe, Marcelo, mas o otário aqui sou eu, por que eu não usei da influência de governantes desonestos para entrar em outros países e fazer negociatas, nem dispus do caixa dois da minha empresa para financiar campanhas, além do que, não tenho na folha de pagamento metade do Congresso Nacional, gente venal que vendeu a consciência ao dinheiro e a alma ao demônio.
Você não deve saber, mas eu pago imposto, sr. Marcelo, e pago muito caro, tenho que votar no candidato político menos ruim e ainda preciso esperar quatro anos para ele fazer alguma coisa, pois o que ele deveria fazer, não faz, uma vez que você o comprou para realizar lobby em prol da Odebretch.
Eu sou otário pois tive, desde cedo, que trabalhar para pagar meus estudos, não herdei nenhum império da minha família. Sabe, Marcelo, eu saía todos os dias às 10:00 horas da noite da faculdade e ia trabalhar no frio de 15 graus do Centro de Processamento de Dados do Banorte, largando às 6:00 da manhã, cansado, com fome, mas com o senso de dever cumprido.
Me desculpe, mas não divido com você meu título de otário, pois as licitações públicas que ganhei foram na base da competência técnica, nunca precisei dar propina para realizar meus serviços. Você talvez não saiba, Marcelo, mas dos otários do Brasil, estou entre os melhores, são mais de 20 anos como empresário, sobrevivendo as custas do mérito, do estudo, do tratamento correto com clientes, funcionários e parceiros.
Ora, com uma conduta como essa, não enriqueci, é verdade, e continuo apenas tendo grana para pagar as contas, tenho um carro velho, ano 1998, e um apartamento com 30 anos de construção. Não possuo moeda estrangeira em banco, nem poupança, não tenho ações na bolsa, minha mulher não tem joias e não sou titular de contas em paraíso fiscal.
Mas tem uma coisa, sr. Marcelo, que eu tenho e o sr. não tem: vergonha na cara! Sim, meu pai não me deixou patrimônio, mas me legou sua honradez, eu deito a noite, sem tranquilizantes, e durmo, e ainda posso andar pela rua com a cabeça erguida, olhando todo mundo nos olhos. Eu sei que esses valores não lhe interessam, Marcelo, pois sucesso para você é outra coisa, mas quero, definitivamente, lhe dizer algo: você já me roubou o suficiente, pois como cidadão paguei parte da conta da sua ganância, mas uma coisa você não vai tirar de mim: o título de otário!
Carlos Moreira
Carlos Moreira