A tirania de Deus foi nos dar a liberdade de ser. Sim, toda tentativa de aprisionar a alma humana não vem de Deus, fosse esse seu desejo, nos teria feito anjos, sujeitos a sua vontade, e não humanos livres, capazes de fazer nossas próprias escolhas.
Ora, Jesus nos ensina que a proposta do Evangelho mantém esta premissa quando afirma: “Eu Sou a porta. Qualquer pessoa que entrar por mim, será salva. Entrará e sairá; e encontrará pastagem”. Jo. 10:9.
Mas a religião não suporta a liberdade, precisa de controles e regras, precisa supervisionar o que sucede na vida, esquadrinhar o pensamento, cercear impulsos, castrar o inusitado, amputar a inspiração. Sim, a religião é como uma máquina industrial produzindo pessoas em série, todas com suas mentes padronizadas, Robocops da fé, gente que perdeu a singularidade porque perdeu a identidade.
Quem pode dizer ser livre no meio religioso? Se o indivíduo precisa, logo de cara, aceitar uma cartilha inteira de regras ligadas aos usos e costumes da denominação? Se são livres, porque me perguntam se podem beber, fumar, jogar, dançar, transar, frequentar determinados ambientes, fazer piercing, tatoo, pintar o cabelo, usar essa ou aquela roupa, namorar com alguém de outra crença, comer certo tipo de comida, assistir um filme “censurado”, ir a motel, só para descrever algumas das questões que, para seres humanos normais, não são questões, uma vez que todas essas coisas fazem parte do cotidiano e deveriam ser tratadas como escolhas simples do modo de viver. Quem pode ser livre numa igreja que recrimina a opção sexual? Quem pode ser livre sofrendo bulling por não se adaptar a alta costura religiosa, que determina o padrão do que pode ou não ser usado como vestuário? Quem pode ser livre não tendo a opção de frequentar um ambiente qualquer por que ele está repleto de “pecadores”? Quem pode ser livre sem ter a prerrogativa de fazer o que bem entender com seu corpo, ainda que isso seja para o seu próprio mal?
Nessa perspectivas, quanto Paulo escreve sua carta aos Coríntios, ele cita: “O Senhor é o Espírito; e onde quer que o Espírito esteja, ali há liberdade”. 2ª. Co. 3:17. Esta frase está num contexto onde o apóstolo faz uma comparação entre o ministério da Lei de Moisés e o ministério da Lei do Espírito da Vida, conforme o Evangelho. É nesse mesmo capítulo onde ele diz que o “código” – a letra – mata, mas o “Espírito” – a liberdade – vivifica.
Ora, Corinto era a cidade mais promíscua e com as maiores manifestações de devassidão dos dias de Paulo. E foi justamente nesse contexto, que aparentemente poderia demandar "controles", que o apóstolo trata da necessidade de sermos livres. Mas que tipo de liberdade pode promover isso sem ser libertinagem? A liberdade do Evangelho, aquela que me permite ser livre para poder dizer sim ou não sem a obrigação de ter que cumprir códigos humanos e etiquetas religiosas!
No texto que citei acima, a palavra grega que designa liberdade é ἐλευθερία – eleutheria. Ela também é encontrada em outra passagem, na carta aos Gálatas 5:1, como segue: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão”. Ora, de que jugo Paulo estava falando? Das leis do judaísmo, dos códigos acéticos, das liturgias sagradas, das tradições dos fariseus, das regras comportamentais, das prescrições sociais, e de tudo que tornasse a vida uma prisão.
Portanto, afirmo, não pode haver fé sadia em um ambiente de punição e medo, de controle e cerceamento. Por isso muitas igrejas se tornaram usinas de neuróticos, sanatórios religiosos, casas de entorpecimento da mente e do coração. Assim, não se esqueça jamais: O Evangelho te dá identidade; a religião, dupla personalidade. Um te faz ser normal, o outro, um ser patológico...
Carlos Moreira