Nós vivemos na sociedade da fuga. Foge-se de tudo e, não raro, de todos. As pessoas desviam da realidade, vivem entorpecidas por psicotrópicos, não suportam o mundo como ele se apresenta. Em reportagem no jornal Folha de São Paulo, constatou-se que o ansiolítico Rivotril vende mais no Brasil do que Paracetamol e Hipoglós. Pode?
Pessoas fugindo... Elas se evadem de situações difíceis, inventam uma “mentirinha branca”, aquela que não traz prejuízos... Evitamos o gerente do banco, pois a conta está estourada, o síndico do prédio, pois o condomínio está atrasado, o cliente, pois a entrega está fora do prazo acordado, até os filhos, pois eles demandam tempo, e tempo, definitivamente, é algo que nós não temos.
Há os que têm medo do confronto, são eternas crianças, desviam da palavra mais firme, do olho-no olho, da verdade nua e crua. Evitam a todo custo uma conversa sincera, por isso, criam desculpas esfarrapadas, marcam e não comparecem, prometem e não cumprem, têm medo do enfrentamento porque sabem que agiram erradamente, preferem o jogo de esconde-esconde, arrastam a situação por anos, se possível for. Já afirmava Charles Ferdinand Ramuz, escritor e poeta suíço: “Não basta fugir, é necessário fugir-se para o lado mais conveniente”.
Tenho visto algo alarmante: pessoas que evitam qualquer tipo de situação incômoda ou de desprazer. É a existência idealizada sobre a égide do hedonismo epicureu, a busca apenas pelo prazer, tudo o mais deve ser rejeitado: hospitais, funerais, doentes terminais, estações outonais, as pessoas não querem nada que as remeta às dinâmicas pertencentes ao real: a dor, a perda, o sofrimento e a solidão.
Quero tentar trazê-lo à realidade! O sábio do Eclesiastes afirma que é melhor o enfrentamento com a tristeza do que a fuga dela. É a tristeza, e não o riso, que produz um ser mais robusto, uma espiritualidade sustentável, uma fé consequente.
É girando o moinho da dor que as pessoas se transformam em gente, aprendem a solidarizar-se, a perceber o outro, tornam-se generosas, humildes, contritas e mansas. Somos todos seres singulares, mas bem poetizou Frejat na sua canção “todo mundo é parecido quando sente dor”.
Não fuja da tristeza, ela pode ser de grande valia na vida! É por isso que o apóstolo Paulo dizia que “regozijava-se nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições e angústias”, pois sabia que esses matizes eram capazes de transformar suas fragilidades em fortalezas.
Que me venha, então, a tristeza, pois eu sei, conforme o salmista, que os que “semeiam com lágrimas, com alegria ceifarão”.
Quem na vida sai andando e chorando enquanto semeia, quem entendeu que lágrimas são sementes que germinam a felicidade e que a terra regada com o sofrimento é capaz de produzir frutos de justiça jamais deixará que qualquer tipo de dor passe em sua vida sem que produza paz e bem para o ser.
Carlos Moreira