“Ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo’. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”. Mt. 5:43-44
Nas palavras de Jesus, amar o inimigo parece, à primeira vista, um convite ao masoquismo, mas não é.
Para entender o texto do Sermão do Monte, sobre o qual há muita confusão, quero fazer breves ponderações. Sim, porque do ponto de vista da ortodoxia religiosa, a proposta é inalcançável, ninguém pode nutrir bons sentimentos por quem lhe faz mal.
O problema, contudo, está na forma de interpretar a proposta do Galileu que, acreditem, é um convite para o exercício da profilaxia que produz saúde ao ser. Ora, não há dúvidas sobre o que Jesus disse: o verbo ἀγαπᾶτε – amai – no grego, está no imperativo ativo, é uma ordem, não uma opção.
Mas, para entendermos qual é verdadeiramente a proposta, precisamos analisar o contexto da frase, e não apenas um conjunto de palavras. Perceba que, ao fazer a afirmação, Jesus está usando como contrapartida o que havia sido dito pelos antigos – “... Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”.
Nessa passagem existem duas questões importantes: a primeira é que a bíblia não diz: “Ouvistes o que está escrito...”, e sim: “Ouvistes o que foi dito...” – “Ἠκούσατε ὅτι ἐρρέθη”, ou seja, Jesus explicita que há um grave problema na interpretação da Lei, pois em nenhum lugar das Escrituras encontramos a afirmação de que devemos amar ao próximo e odiar o inimigo. A segunda questão é que essa crença baseava-se na “tradição dos antigos”, algo que estava perfeitamente alinhado com a “Lei de Talião”, a lei escrita mais remota já registrada e que tratava da reciprocidade entre o crime e a pena – “Olho por olho e dente por dente”.
Desta forma, o que de fato Jesus queira dizer? Ora, nós sabemos que amar não é um sentimento, mas uma decisão, e temos esse entendimento quando compreendemos o amor de Deus por nós. Assim, o que Jesus estava querendo dizer sobre “... amai os vossos inimigos”, é que é possível fazermos a escolha de não “odiarmos os nossos inimigos”, conforme a “tradição antiga”, ainda que isso não tenha nada a ver em nutrir por eles sentimentos de afeição.
Eu não devo odiar, nem desejar o mal, nem guardar rancor, nem cultivar amarguras, mas também não estou obrigado a sentar a mesa com ele para tomar uma breja, nem muito menos me subjugar a manter uma relação que se tornou insalubre, faz profundo mal a alma e ao coração. Eu posso amar, sem querer bem, eu posso amar, sem manter contato, eu posso amar, sem alimentar a ira, eu posso amar até mesmo sem ser amado, o que eu não posso, nem Deus me pede isso, é querer bem a quem me faz mal.
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Carlos Moreira