A
semana passada estava em São
Paulo a trabalho. Num dos compromissos que tive, visitei o
diretor de uma grande multinacional da área de telecomunicações.
Depois de uma rápida espera, fui recebido. “Tenho pouco tempo”, disse-me logo na partida. Conversamos rapidamente. Falei sobre o que havia programado e, de súbito, minha abordagem foi interrompida – “esta semana demiti 14 pessoas. Disseram-me que não vai haver reposição, pois trata-se de redução de custos. Tenho de fazer mais com menos. Não estou dormindo bem nem me alimentando adequadamente...”.
Depois de uma rápida espera, fui recebido. “Tenho pouco tempo”, disse-me logo na partida. Conversamos rapidamente. Falei sobre o que havia programado e, de súbito, minha abordagem foi interrompida – “esta semana demiti 14 pessoas. Disseram-me que não vai haver reposição, pois trata-se de redução de custos. Tenho de fazer mais com menos. Não estou dormindo bem nem me alimentando adequadamente...”.
Após
um silêncio desconfortável, voltamos à tratativa original... Terminei a
abordagem. Ele agradeceu, disse que ia analisar e retornaria. Eu, contudo, saí
daquele lugar com duas certezas: (1) aquele homem não vai comprar o que eu fui
vender; (2) estive por alguns minutos diante de uma das pessoas mais
angustiadas de toda a minha vida.
Sob
pressão. As pessoas estão sob forte pressão. Lembrei da famosa música da banda
inglesa Queen “Under Pressure”. Ela
foi composta em 1981, no auge da guerra fria entre Estados Unidos e União
Soviética. Naquela década, o “conflito camuflado” ganhou contornos mais fortes
por causa do aumento da corrida armamentista, motivada, sobretudo, pelo projeto
“guerra nas estrelas” do Presidente Reagan.
A tensão daqueles dias era enorme. Numa
das frases da canção podia-se ouvir: “É o
terror de saber a que ponto chegou o mundo. Observo alguns bons amigos que
estão gritando: "deixe-me sair!”. Pensei comigo mesmo: era este o
sentimento daquele homem com quem estive a pouco. Ele estava tentando me dizer:
“deixe-me sair”.
Também tenho vivido dias difíceis...
Às vezes acho que não vou suportar. É pressão de todos os lados. Em qualquer
direção para onde me viro, há algo me “comprimindo”. O apóstolo João dizia em
seu tempo: “os dias são maus”.
Talvez, se vivesse hoje, diria: “os dias
são insuportáveis”.
Questão: o que fazer para lidar com isto?
Pressão de todos os lados. Pressão de ter de ser o melhor, o mais rápido, o que
vende mais, o que chega primeiro, o que tem as melhores idéias, o que bate
primeiro as metas, o que consegue mais clientes, o que gera mais resultados, o
que tem a melhor formação, o que é mais competente... Me diga, com sinceridade,
dá para suportar?
O
que sei é que eu já vivi o suficiente para saber o que a pressão gera nas
pessoas. Além de gastrite, insônia, ansiedade, desconforto torácico, dores
abdominais, boca seca, dor de cabeça, dentre outros sintomas, a pressão gera
dois problemas perigosíssimos para a fé: a auto-suficiência e a alienação. O
primeiro trata da ilusão de acharmos que nós é que fazemos tudo acontecer, que
os resultados são fruto apenas de nosso esforço. O segundo nos leva a crer que
a existência é uma corrida de cem metros, que o importante é como você começa,
e não como você termina, que as coisas são como são, que tudo se restringe ao
aqui, ao agora, a este mundo, as realidades tangíveis, mensuráveis e concretas.
Tudo engano... Tudo falácia...
Em sua carta aos Filipenses,
Paulo nos apresenta dois remédios para estes males. “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em
tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a
Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os seus
corações e as suas mentes em
Cristo Jesus ”. Fp.
4:6-7.
Para destruir
nossa auto-suficiência ele nos recomenda orar. Na verdade, fala de orar
intensamente, suplicar. A oração é o reflexo de um coração que aprendeu a
depender de Deus, que sabe que a vida não é ganha no “muck”, no braço, no talento ou na inteligência. Lembrei de Bill
Hybel e o seu livro “Ocupado Demais para Deixar de Orar”. Sim, quem está no meio de uma grande luta, debaixo de intensa
tribulação, como bem disse Rick Warren, não se dará ao luxo de ficar
relaxado, despercebido, anestesiado. Não. Ele vai dobrar os joelhos e buscar a
Deus com o mais íntimo de sua alma, ele vai derramar toda ansiedade e toda
inquietação sobre aquele que pode apaziguar suas guerras e lhe dar quietude no
ser.
A outra coisa que Paulo nos ensina é sobre
viver em paz. Ele
fala da paz que vence o entendimento. Trata-se, na verdade, do desafio de viver
de forma diferente, baseado em princípios mais elevados. Veja o verso 8: “tudo
o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que
for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama...”. São estes valores que nos ajudam a suplantar as sistematizações e racionalizações
as quais estamos expostos, pois eles nos alçam para além das circunstâncias,
nos dão tranqüilidade mesmo em meio aos fatos mais negativos e perversos do
cotidiano.
Quando saí daquela empresa e entrei no taxi
para voltar ao escritório, fiquei pensando que certamente o que aquele homem
precisava naquela tarde não era ouvir o discurso de um executivo de tecnologia,
mas escutar uma palavra acalentadora de um discípulo de Jesus Cristo. E eu às
vezes ainda penso que meu ministério não é de tempo integral...
Carlos Moreira
Carlos Moreira