Jugo desigual não é um evangélico casado com uma católica. Ora, por favor! Conheço crentes casados, que frequentam a mesma igreja, que leem a mesma bíblia, que cantam as mesmas músicas gospel e estão em jugo totalmente desigual, pois não há entre eles uma ligação de alma, de entendimento da vida, de percepção do mundo.
Na verdade, que adianta sentar no mesmo banco no templo e viver separado na cama? Que adianta andar de mãos dadas no pátio da igreja e com consciências separadas no chão da vida? Conjugalidade é, antes de qualquer coisa, um habitar a alma do outro e não apenas o viver junto debaixo do mesmo teto.
Ora, jugo desigual é alguém ter olhos para ver o bem, enquanto o outro só consegue discernir o mal, é a alegria de um sendo sufocada pela moralidade castrante do outro, é um querer inovar na cama e o outro, cheio de pudores e não me toques, gostar de um sexo broxante. Jugo desigual é um apreciar o teatro e o outro se privar da diversão por questões doutrinárias, é um desejar dançar e o outro vê pecado numa "sala de reboco", é um adorar um bom vinho e o outro fazer a gestão da felicidade por causa da legislação da igrejola.
Conheço casais de diferentes crenças que são harmônicos e perfeitamente enlaçados em amor, enquanto aconselho a centenas de outros, de mesma confissão religiosa, se matando na frente dos filhos e pedindo que Deus “leve” o parceiro para sua Glória.
Sendo honesto, acredito em jugo desigual, na perspectiva do que disse acima, mas acredito também em jogo desigual, que é o que acontece com muita gente que não teme fazer do casamento um remendo mal feito, desde que ele se adeque ao manequim da religião.
Portanto, ao invés de procurar uma mulher calvinista, procure uma que goste de conversar e contar piada, ao invés de procurar um marido pré-milenista, arrume um que leia Fernando Pessoa com você no banco do parque, ao invés de buscar uma mulher de oração, busque uma que tenha coração!
Acredite, é impossível gente que ama e se sente amado não ter graça no ser e música que embala os pés no caminhar do caminho. Um ateu com boa vontade é melhor que um crente amargurado, se você quer alguém que lhe complete, procure afinidades em sua alma, não em sua estante de livros teológicos.
Carlos Moreira
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