"Que grande inutilidade!", diz o mestre. "Que grande inutilidade! Nada faz sentido!" Eclesiastes 1:2
Carpe Diem, aproveite o dia! A palavra de ordem de nossos dias é viver intensamente. A lógica do McDonalds – super size, fast food – tomou conta do mundo da vida. As pessoas desejam que tudo seja imediato, e ao máximo possível. Assim é a trajetória do autor de Eclesiastes: de tudo ele experimentou em intensidade, do bem e do mal, do útil e do fútil. E o resultado foi: enfado.
O Sábio descreve que a existência humana não se converte em vida se não encontrarmos um significado para existir. Na sua observação e experiência, apesar de todos os empreendimentos e realizações, foi incapaz de encontrar esse significado, e tudo veio a ser monotonia e cansaço.
De fato, ele buscou arduamente este sentido. O livro de Eclesiastes bem poderia ser a biografia de um bon vivan, de um boêmio, presente em todas as festas e eventos sociais, ou de uma celebridade. Poderia ser ainda o curriculum vitae de alguém extremamente empreendedor, que de tudo fez, e fez com excelência. Ao final de sua vida, todos imaginariam encontrar um homem realizado – alguém que alcançou um sentido para existir. Ao invés disso, o que o Sábio diz é que tudo não passou de enfado. Apenas canseira para o corpo e para a mente, sem sentido para o espírito.
Assim como o autor de Eclesiastes, as pessoas do nosso tempo também têm se cansado da vida. Estão famintas, embora comam e bebam em abundância. Sentem-se incompletas, embora possuam muitas coisas. Eclesiastes mostra que não é possível encontrar o significado para esta vida porque ele está além da vida. Este livro está repleto de exemplos em que a experiência não proporciona completude à pessoa, antes, evidencia sua incompletude.
“Vaidade de vaidades – diz o sábio – tudo é vaidade”. O que o autor chama de vaidade é um sentimento irracional de desconexão entre causa e efeito, o qual resulta em indiferença. De tudo o homem experimenta, esperando encontrar um significado para a vida. Quando a capacidade de prever os resultados é contestada, o que sobra é uma indiferença para com as circunstâncias mundanas. Uma frustração que - ao extremo - resulta em completa apatia.
O autor de Eclesiastes verifica que é impossível ao conhecimento do homem descobrir um sentido para a existência. "Fiquei pensando: Eu me tornei famoso e ultrapassei em sabedoria todos os que governaram Jerusalém antes de mim; de fato adquiri muita sabedoria e conhecimento. Por isso me esforcei para compreender a sabedoria, bem como a loucura e a insensatez, mas aprendi que isso também é correr atrás do vento. Pois quanto maior a sabedoria, maior o sofrimento; e quanto maior o conhecimento, maior o desgosto.” (Ec 1:16-18).
“De que serve?”. Quando o significado da vida, que liga o ser humano ao mundo, se quebra, esse ponto de ruptura é a vaidade. O Sábio, no ponto de ruptura com a vaidade da vida, passa a observar tudo a partir de um ponto distante. Ele se aliena do mundo e de si mesmo. A partir da distância, deste olhar imparcial, surge a possibilidade de rever a identidade do ser humano. Nesse ponto, em que nada mais faz sentido, a pessoa se encontra na disposição correta para dar o salto no vazio. É esse o momento em que a pessoa se abre para o não-conhecível, para o impossível.
Assim como é impossível à mente humana conhecer o sentido para a vida – pois ele está além da capacidade do conhecimento humano – também é impossível conhecer a Deus. Não é possível conhecer a Deus, a não ser pelo que Ele mesmo revela de si e se deixa conhecer. Deus é pessoal. Ela busca se relacionar conosco. A experiência com Deus se dá na relação que firmarmos com Ele, e é na relação com Deus que a completude pessoal se materializa. De nada nos serve conhecermos a nós mesmos ou procurar conhecer a Deus – como objeto de estudo. É inútil querer saber tudo sobre Deus, analisá-lo, dissecá-lo, pois é a relação que nos dá significado.
Quando nos relacionamos com Ele, sua revelação de si mesmo nos completa, como essência além do conhecimento humano. Uma experiência pessoal com Deus vai além do possível. Se considerarmos que o possível é aquilo que podemos experimentar estando com os dois pés no chão, somente poderemos conhecer a Deus quando tirarmos os pés do chão: impossível.
Ao se jogar no impossível, o Sábio compreendeu que o significado da vida não está na vida, mas em Deus. Nele, tudo ganha sentido, até mesmo o enfado da vida. Nesta existência, vazia em si mesma, Deus deve ser o absoluto. "De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos: porque isto é o dever de todo homem. Porque Deus há de trazer o juízo todas as obras até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más." (Ec 12:13,14)
Quando a vida não passa de futilidade – vaidade, nas palavras do sábio de Eclesiastes – o sentido está além do impossível, para além do vazio. A completude do coração, o significado à existência, o sentido para as relações interpessoais, o sabor da comida, o prazer das realizações, a razão para continuar existindo – todo o valor da vida somente pode ser encontrado em Deus. Para isso, precisamos deixar que Ele nos encontre.
E para que Deus nos encontre, só há um caminho, e este é Jesus: “Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta. Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (Jo 14:8,9)
Emanoel Querette