Eu atendo homossexuais e afins há, pelo menos, 10 anos, alguns dos quais, pastores.
Neste tempo, nunca recebi um caso de alguém que queria mudar sua sexualidade para ser hétero, não obstante, imagino que deva existir os tais. Quando um gay procura um pastor, ou um profissional da psicologia/psicanálise, via de regra, ele quer ajuda, sim, mas não para deixar de ser gay, mas para ser aceito assim como é.
É certo que, num primeiro momento, em muitos casos, nem ele mesmo percebe isso, pois a angústia é tal e o sofrimento acumulado é tanto, que melhor seria se livrar deste “mal” amputando algo, como se fosse possível cortar a carne e extirpar o “aleijão”.
Mas numa conversa honesta, sem manipulação, sem imputação de culpa religiosa, sem chantagem existencial, o indivíduo logo percebe que seu problema não é a sua orientação sexual, que na maioria dos casos é nata do sujeito, ou seja, já nasceu com ele, mas seu desejo de aceitação, de ser amado e reconhecido pelo que é e pelo que faz, não pela forma como usa sua genitália no íntimo de suas relações afetivas.
Creia, as “chagas” que esta gente carrega são incontáveis e, não raro, incontornáveis: rejeição familiar, profissional, religiosa, social, agressões de todo tipo – verbais, físicas, emocionais, são tantas as questões que, dificilmente, uma alma alvejada assim não se desconfigure para a vida.
Eu tento entender o drama... Percebo as origens do fenômeno, sua complexidade, ajo com reverência pela vida daquele que está diante de mim, em frangalhos, vestido de lágrimas e suspiros profundos que revelam um deserto sombrio no ser.
Seria fácil, confesso, indicar uma solução simplista, receitar uma bula medicamentosa composta de oração, jejum, cultos de libertação e seções de descarrego, mas não seria correto, não seria ético, eu sei que nada disso vai libertar o sujeito, ao contrário, construirá nele um ódio insuperável contra Deus, pois, pare ele, nem mesmo o Todo Poderoso foi capaz de livrá-lo de tamanho mal.
A solução, é óbvio, não poderia ser outra que não fosse o amor. Sim, amar é acolher, é respeitar, é compreender é suportar, é dar ao outro a chance dele existir mesmo que não tenha abraçado o meu ideal de vida, que não siga o meu script, que não reze na minha cartilha nem compartilhe daquilo que julgo ser a verdade.
Se eu creio em “Cura Gay”? Não, não creio, creio, sim, em “Surra Gay”, em gente que foi agredida e esfolada pelo preconceito e pela insensatez de quem diz que Ama a Deus, mas é incapaz de amar o outro, pois o outro insiste em ser diferente dele mesmo, o que, para ele, é insuportável.
Se Deus pode mudar a natureza de um gay e torna-lo hétero? Claro que pode! Mas essa não é a questão, a questão é: por que Deus faria isso? Você quer que eu responda? Bem, eu não tenho respostas para tudo...
Carlos Moreira