“Ao ser homenageado na noite desta terça-feira em Pernambuco, estado onde nasceu, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou de mais uma despedida do cargo e afirmou que continuará ajudando a "resolver os problemas do Brasil". Fonte: O Globo.
Lula é um fenômeno, e eu o respeito por isso. Aliás, respeito-o como meu presidente, pois, ao menos uma vez, votei nele. Reconheço seus feitos, suas realizações, coisas concretas, mensuráveis, admiro o seu carisma incontestável, testifico como positivo o rumo que ele deu ao Brasil nestes últimos 8 anos.
De fato, tivemos um bom governo. Muito foi realizado, nem tudo o que era necessário, é claro, mas, sem utopias ou partidarismos, o que dava para ser feito. A pobreza diminuiu, o emprego aumentou, a visibilidade do país cresceu, os setores da economia melhoraram, alguns serviços básicos também.
Mas não vamos nos perder em ufanismos, deslumbres ou politicagem. Não vivemos no Haiti, é verdade, mas ainda estamos longe de ser o Havaí... Nossos juros são os mais altos do mundo, saneamento ainda é o sonho de consumo da maioria da população e tanto o Senado quanto o Congresso, nossas instituições democráticas mais expressivas, são “casas de horrores”. A violência urbana impera e, para tentar controlá-la, precisamos de uma overdose bélica que reuniu Exército, Marinha, as Polícias e o BOPE! A saúde anda mal das pernas, a educação é sofrível, a infra-estrutura ainda está bastante sucateada, e isto para não aprofundarmos muito...
Mas, com tudo isto, ainda impressiona-me o Lula. Dizer que não teve competência e não dar-lhe crédito é idiotice de uma oposição burra. Por outro lado, não afirmar que colheu onde não plantou é negar o óbvio e o irrefutável. Se Fernando Henrique Cardoso tivesse “navegado” aos “ventos” e “marés” que teve o Lula, tanto internamente, quanto no campo internacional, talvez tivesse feito o mesmo ou, quem sabe, até mais.
Sei que esta é uma análise simplista, mas aqui está um empresário que conhece um pouco como a “máquina” funciona. Faço-a com isenção, pois apesar de me constituir ser político, não sou politiqueiro nem militante. Não sou filiado a nenhum partido, não defendo nenhuma bandeira, a não ser a bandeira do Reino de Deus, não carrego no peito nenhuma estrela a não ser a Estrela da Manhã, aquela que simboliza a Jesus, o meu Senhor.
Ontem saí tarde do escritório, como de costume. As ruas do Recife Antigo estavam apinhadas de gente. Todos queriam ouvir o presidente. Ao fundo, escutei gritos e ovações, mas o cansaço e mesmo o descaso me fizeram rumar passos largos até o estacionamento para pegar o carro e ir para casa. Mas hoje, depois de ler as matérias publicadas nos jornais, analisando o último discurso de Lula, cheguei a uma importante conclusão: Lula é um novo Messias! Você não acredita? Então, vejamos...
Lula “encarnou” como presidente após sucessivas derrotas em campanhas políticas. Todavia, sua persistência e a de seu partido o levaram, enfim, aos píncaros da glória, ao Palácio da Alvorada. Saiu do interior de Pernambuco, da fome, da miséria, da seca, da boléia do caminhão, do pau-de-arara, para ser operário na cidade de São Paulo, líder sindicalista, e, por fim, presidente da República. Invejável...
Depois de “encarnado” passou, então, a ser considerado a salvação do país. Em seus discursos e em todos os pronunciamentos, dentro e fora do Brasil, exibia-se a si mesmo como o único capaz de trazer a solução para os problemas da nação. Asseverava ter encontrado um Brasil espoliado, destruído, incapacitado e debilitado. Ao seu antecessor restaram apenas críticas, chacotas e desdém. Contudo, no “tempo oportuno”, "Deus", tendo misericórdia de tão sofrido povo, revelou Lula, o “salvador da pátria”.
Em seguida, acompanhado por um competente gabinete de ministros – poderíamos até parafrasear como seus “apóstolos” – começou a por ordem na casa. Cuidou dos pobres, quebrou protocolos, investiu em favor dos menos favorecidos, manteve programas assistenciais importantes, criou outros, fez de um tudo para ajudar os excluídos e os despossuídos. Fato.
Num determinado momento, quando acusado de ser o diabo em pessoa, quando lhe atiraram pedras, quando pensaram em crucificá-lo e o responsabilizaram pelo maior escândalo da República – “O Mensalão” – calou-se. Numa atitude de “humildade”, preferiu retroceder. “Nunca soube de nada”, foi seu parecer. E mais, mesmo sendo acusado de todos os lados, perdoou os seus agressores e "deu salvo conduto" àqueles que lhe ofenderam e destrataram.
Finalmente, já na reta final, no último lampejo de seu governo, Lula consegue o feito inédito de eleger presidente a primeira mulher na história da nossa nação, Dilma Rousseff. Sai então de cena o homem; entra na história o mito. Lula “morre” para Dilma poder nascer! Enfim, “tudo está consumado”.
Mas no discurso de ontem, diante de uma platéia ensandecida, gritos emocionados, o nosso “messias” não resistiu e veio as lágrimas. E assim, de forma quase que profética, anunciou em alta voz: “eu voltarei”!
Carlos Moreira