Por que as coisas mais incríveis da vida foram
aquelas que passaram diante de nós e a gente quase não se apercebeu delas, foi
como brisa de final de tarde num dia ensolarado de verão?
Por que a gente só dá valor a pai e mãe
depois que a gente os perde na vida, depois que amargamos experimentar o fato
de que os túmulos não falam, nem afagam, apenas calam?
Por que só aprendemos a reconhecer o valor
da amizade quando perdemos nossos amigos, sofremos sozinhos, choramos
escondidos, disfarçamos na mesa do bar as ausências reveladas pelas cadeiras
vazias?
Por que a gente só se sente seguro depois
que o corpo não corresponde mais aos nossos anseios, quando braços e pernas
teimam em não mais nos obedecer?
Por que a gente só se sente maduro quando não
dá mais para fazer coisas que só os garotos fariam, e por que a gente quando é
garoto não consegue agir como gente grande?
Por que depois dos 40 a velhice se aproxima tão velozmente:
a vista cansa, as costas doem, o sono é conturbado, a paciência diminui, tudo
parece apenas mesmice?
Por que o amor com o tempo vai se apagando,
como vela em fim de festa, e o seu brilho vai se ofuscando, como o orvalho da
manhã que encobre o vidro da janela do quarto?
Por que a vaidade nos deixa a certa idade,
os sonhos se esfarelam, os planos se desfazem, as prioridades deixam de
existir, tudo, absolutamente tudo, passa a ser algo dramaticamente real?
Por que os filhos crescem tão rápido e nós,
pais, sem que façamos absolutamente nada, passamos de mocinhos a bandidos, de
heróis a vilões; por que eles deixam de nos beijar, abraçar, de dizer que nos
amam e precisam de nós?
Por que a certa altura da vida, o exercício
de qualquer que seja a profissão trás consigo um grande enfado, pois quando este tempo chega, até ganhar dinheiro se torna coisa penosa?
Por que antes que venhamos a experimentar
todas estas coisas, e os nossos dias tornem-se sem propósitos, não nos rendemos
a Deus, que pode ressignificar hoje nossa existência, dar a ela outro destino, colorir
o acinzentado que se acumulou em nossos olhos encharcados de tanto asfalto e concreto, por sabor em nossa comida, prazer em nossas relações, sonhos em nossa
rotina, música em nossa alma, paz e bem em nossa vida?
Sim, por quê? Por quê? E por que não?
Carlos Moreira
Carlos Moreira