Uma das coisas que eu mais
queria fazer em Paris era ir ao Museu do Louvre. Mesmo sem poder ficar o tempo
necessário, uma vez que não dá para ver 35 mil obras numa manhã, ao menos,
algumas das mais famosas, como “La Gioconda”, a “Vênus de Milo” e “A Pietà”, eu
veria.
Portanto, no primeiro dia na
Cidade Luz, caminhei do hotel até o Louvre, cerca de 20 minutos, para usufruir
de um banho de cultura e história. E o museu não decepcionou! Foram horas de
encantamento e estupefação. A cada corredor, esculturas, quadros, objetos, fragmentos
da capacidade de criação do homem no decorrer dos séculos. Ali estavam culturas
entrelaçadas – grega, romana, egípcia, persa – era uma overdose de sensações e
sentimentos.
Pois bem, depois de certo
tempo andando, subindo e descendo escadas, me deu vontade de fazer xixi. Segui acompanhando
as placas informativas e cheguei a um lugar onde se podia fazer necessidades
fisiológicas, mas era pago. Confesso: aquele foi o xixi mais caro da minha
vida, € 2,50, ou seja, cerca de R$ 9,00. Como se diz: "A necessidade tem cara de herege".
Quando entrei no toilette, entretanto, algo inusitado aconteceu! Enquanto estava concentrado, fazendo aquele xixi que, diga-se de passagem, era o xixi da minha vida, não só pelo preço, mas, sobretudo, pelo Louvre, comecei a ouvir ao fundo uma certa canção, sim, aquela que traz em sua “poesia” a estrofe: “Ai, se eu te pego, ai, ai, se eu te pego”. Acredite: eu estava no museu mais famoso do mundo, na cidade de Paris, fazendo xixi e ouvindo Michel Teló com sua música: “Ai Se eu Te Pego”.
Quando entrei no toilette, entretanto, algo inusitado aconteceu! Enquanto estava concentrado, fazendo aquele xixi que, diga-se de passagem, era o xixi da minha vida, não só pelo preço, mas, sobretudo, pelo Louvre, comecei a ouvir ao fundo uma certa canção, sim, aquela que traz em sua “poesia” a estrofe: “Ai, se eu te pego, ai, ai, se eu te pego”. Acredite: eu estava no museu mais famoso do mundo, na cidade de Paris, fazendo xixi e ouvindo Michel Teló com sua música: “Ai Se eu Te Pego”.
Como bom roqueiro, o choque
foi imediato. Pensei comigo: “Meu Deus! Saí do Brasil e vim ao Louvre para
ouvir Michel Teló?!”. Mas não havia como negar, era o próprio. Na melodia pobre,
ele sussurrava com voz de deboche: “Assim você me mata”. E eu? Bem, eu resmungava
baixinho comigo mesmo: “sim, assim você me mata!”.
Terminei o que estava
fazendo, lavei as mãos e o Michel cantarolando: “Ai, ai, se eu te pego”. Enquanto
ruminava a situação, lembrei de George Orwell, escritor inglês, que afirmou: “A
massa mantém a marca, a marca mantém a mídia e a mídia controla a massa”. Sim,
era inevitável a contestação de que, com a globalização, a mídia, mais do que
nunca, passou a moldar a cultura, definindo aquilo que as massas vão consumir.
Como se sabe, no capitalismo
de mercado, o que importa não é se o que vai ser vendido é bom ou ruim, mas
apenas, se vai ter escala, ou seja, pode ser uma merda, contanto que venda! É
assim que funciona a indústria da música, dos cosméticos, da alta costura,
enfim, o mercado gira em torno daquilo que é consumido e é a mídia quem faz a
engrenagem girar.
Eu, pessoalmente, detesto
massificação. Eu sou aquele cara que, certa vez, curtiu o fato de meu Pai me
levar a um alfaiate, na rua da Imperatriz, para ele me fazer duas calças de
gabardine sob medida. Na verdade, a industrialização, como fenômeno de
transformação do século XVIII, mudou não só a forma de fazer as coisas, mas,
concomitantemente, moldou a forma de como essas coisas seriam consumidas. Daí por
diante, o paradigma contemporâneo passou a ser: se todo mundo usa, eu tenho que
usar também, mesmo que isso seja a mais pura idiotice.
Por fim, paguei a conta do
xixi e fui andando pelos corredores do Louvre, com o Michel Teló na “cabeça”...
Findo o tempo de que dispunha, saí do museu e me dirigi à estação do metrô para
o próximo compromisso. Enquanto descia as escadas rolantes, comecei a ouvir
algo... Era uma harmonia robusta, com cordas ao fundo, um som cativante.
Avancei ansioso pelo corredor e, finalmente, deparei-me com uma violinista
solitária, tocando as “Quatro Estações” do compositor italiano Vivaldi, a troco
de algumas poucas moedas.
Segui meu caminho, peguei o trem, sempre
pontual e permaneci pensando: “Como é possível ouvir, na rádio francesa, Michel Teló,
que, indubitavelmente, é um sucesso mundial, enquanto, no corredor do metrô,
Vivaldi ressoa de forma tão desprestigiada? A resposta, caro amigo, foi muito óbvia e simples:
“Tempos Modernos!”, como diria o Chaplin. Eu, contudo, segui conjecturando: "Assim vocês me matam"...
© 2015 Carlos Moreira
Outros textos podem ser lidos em http://anovacristandade.blogspot.com
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