Há homens
que querem ser Rei; sobrepujar-se, engrandecer-se, ter poder e riquezas. Eles
possuem esse desejo incontido de chegar ao topo, de ir além das fronteiras,
acima do último limite. Desejam ser servidos, reconhecidos, ser, inclusive,
reverenciados. Um Rei pode fazer qualquer coisa! Ele não precisa perguntar nada
a ninguém. É ele quem manda e, no final das contas, quem decide. Um Rei
senta-se no trono, coloca sobre a cabeça sua coroa, na mão um cetro de ouro e
no dedo o anel de majestade.
Há homens que
querem ser Deus. Para estes, ser Rei não é o bastante, é preciso ir além, na
direção do inalcançável, quem sabe, transcender! Isto foi muito comum na
história dos povos, onde a deificação de homens comuns os transformou em
deuses. Assim foi entre os egípcios, com seus Faraós, entre os gregos, com seus
deuses do Olimpo e também entre os romanos, com seus Césars. Entre os Hebreus,
conforme o relato da Torre de Babel, vemos homens comuns que alimentaram o
desejo de chegar aos céus, ultrapassar a última fronteira, ser como Deus.
A verdade é
que há no espírito humano este desejo de tornar-se divindade, de não ser
contido por qualquer limite, de inventar, moldar coisas novas. Criamos a
imprensa, o telefone, a energia, máquinas das mais diversas, carros, navios e,
por fim, quisemos voar. Em pouco tempo, o globo tornou-se pequeno, com aviões
indo e vindo de um lado para o outro. Aí pensamos: “por que não sair dele?”.
Então, fomos à Lua! Hoje, nossos foguetes vão ainda mais longe. Um dia, quem
sabe, poderemos viajar por todo o universo.
Mas não
ficamos por aí. Manipulando a natureza criamos combustíveis, aproveitamos o ar,
o sol e o curso dos rios para produzir energia, extraímos das plantas
medicamentos e desenvolvemos a tal nível a medicina que já podemos curar
doenças e transplantar órgãos. Desenvolvemos os computadores, inventamos o
celular, criamos satélites, estamos desvendando os segredos do DNA e avançamos
no mapeamento do Genoma. Fosse tudo isto pouco, agora queremos clonar a nós
mesmos! O homem criando o homem e dando-lhe vida. Chegamos a ser como Deus?
"Todo
homem quer ser rei; todo rei quer ser deus; mas só Deus quis ser homem”. Galilleu
Gallilei. Frase intrigante... Mas Deus não quis só ser homem, quis ser homem
comum, sem beleza, sem realeza, homem de carne e osso, com sangue e suor. Questiono-me:
por que Ele fez isto? Para que? Se já era Deus, por que tornar-se homem? Já não
tinha tudo! Faltava-lhe algo? Onipotente, onipresente, onisciente! Por
que Deus quis ser homem?
Eu lhes
digo, utilizando Isaías capítulo 9 que, em primeiro lugar, Deus quis ser homem
para poder identificar-se comigo e com você. “povo que andava em trevas viu
grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte resplandeceu-lhes a
luz”. v.2.
O Deus que
encarna é o Filho. Ele veio para mostrar-nos como é o Pai. Havia entre nós
profunda separação, enorme abismo, mas Ele, por Sua morte e ressurreição,
pacificou nossos corações e nos abriu um caminho para nos reconciliar com o
Criador.
Deus quis
ser homem para experimentar nossas dores, limitações, medos, contradições,
angústias e dilemas. Esvaziou-se a Si mesmo, perdeu Sua divindade, sofreu como
homem, morreu como Deus! Era desprezado e dEle fizeram caso. Foi ultrajado,
amaldiçoado, caluniado, incompreendido. Sua existência foi dedicada a
compadecer-se dos caídos, salvar os oprimidos, libertar os cativos, “apregoar o
ano aceitável do Senhor”. Não sei você, mas eu jamais poderia acreditar num
Deus que não sangra... O meu, sangrou até a morte, e morte de cruz.
Em segundo
lugar, Deus quis ser homem para que fosse possível realizar-se o Plano da
Salvação. “porque um menino nos nasceu, um filho se nos deus; o governo está
sob os seus ombros e o seu nome será: maravilhoso, conselheiro, Deus forte, pai
da eternidade, príncipe da paz”. v.6.
Há algo
extraordinário no Plano da Salvação: “o Cordeiro foi sacrificado antes da
criação do mundo”. A salvação não é um remendo que Deus fez para recuperar as
rédeas do jogo, para colocar o homem de volta no trilho original. Não! O Plano
de Salvação não foi uma estratégia corretiva traçada por um ser absorto que,
despercebido de sua criação, foi surpreendido pela sua queda. Nunca! O Filho
sacrificou-se na “eternidade anterior’, antes de haver mundo e homens sobre a
Terra e, só depois disto, Deus o criou, homem livre, leve, solto. Deu-Lhe ainda
o poder de fazer suas próprias escolhas, mesmo que elas fossem às piores
possíveis.
Mas, no
“tempo oportuno”, no momento em que houve a convergência do propósito eterno,
Deus encarnou e materializou-se historicamente na figura de Jesus de Nazaré
para cumprir o que, antes de todas as coisas já havia sido feito, o sacrifício
pelo pecado. A cruz não foi apenas fincada em Jerusalém, na Palestina, mas
continua fincada na eternidade, no cosmos, e, por meio dela, reconcilia-se com
Deus toda criatura vivente em todos os universos possíveis. “O castigo que nos
trás a paz estava sobre Ele e por suas pisaduras fomos sarados”. O grito que
ecoou na crucificação, ainda ecoa hoje, em todo o coração que se rende a graça
de Deus: “Tetelestai” – Está pago! Está consumado!
Em terceiro
e último lugar, Deus quis ser homem para que o homem acreditasse que ele é
Deus. “... o zêlo do Senhor dos exércitos fará isto”. v.7. Disse Jesus:
“ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus
amigos”. Tudo começou com amor, e tudo terminará com o amor. Deus é amor!
Aquele que ama discerne a Deus, é nascido de Deus, Deus está nele e ele está em
Deus.
Reconheço
que na humanidade tivemos muitos homens sábios, que se sobrepujaram em sua
espiritualidade, que se doaram em prol da humanidade, que fizeram sacrifícios
extremos e foram exemplo de vida e de perseverança. Mas, tenho também de
admitir, ainda que devotando-lhes respeito e admiração, que nenhum deles é o
Filho unigênito de Deus! Nenhum deles veio dos Céus a Terra! Nenhum deles
encarnou, sendo antes de todas as coisas, Deus! Nenhum disse que era um com o
Pai, nem afirmou ser o caminho, a verdade e a vida! Nenhum deles ressuscitou
dentre os mortos, e sentou-se a destra de Deus, donde há de vir a julgar vivos
e mortos! Nenhum tem poder para perdoar pecados e salvar o pecador. Estou
convencido, só mesmo Deus para querer ser homem...
Eu quero
lhe desejar um Feliz Natal! Um Natal que te projete para além do Papai Noel, da
árvore enfeitada, dos presentes e do peru. Um Natal com consciência, com
entendimento e que, sobretudo, produza desdobramentos em sua vida e na vida de
todos que te cercam. Eu quero lhe desejar Feliz Natal porque Jesus quis estar
entre nós, identificar-se conosco. Quero lhe desejar Feliz Natal porque o nosso
Senhor nasceu em Belém, não como Rei, mas como servo, não no palácio, mas na
manjedoura. Ele não tinha anel no dedo, mas tinha autoridade nas mãos, não
tinha um cetro de ouro, mas um cajado para nos trazer paz, saúde e bem.
Eu quero
lhe desejar Feliz Natal porque tenho a convicção de que você, mais do que
nunca, compreende que toda festa só faz sentido porque houve cruz, que toda alegria
só tem significado porque houve morte, que a vida de todos nós está
compreendida entre a manjedoura e o Gólgota, pois todo presente recebido é nada
junto do que o Pai nos enviou, e, porque Ele vive, podemos crer no amanhã... Feliz
Natal!
Carlos Moreira
Carlos Moreira
3 comentários:
Parabéns pelo conteúdo deste post...
Att.,
http://wwwteologiavivaeeficaz.blogspot.com/
Profº Netto, F.A
Paz
Poderia tecer um comentário,cheio de argumentos teológicos,e falar da encarnação.
Poderia também acrescentar mais palavras ao belo texto,como quem indiretamente quer dizer:'Faltou você falar isso'.
Mas o que tenho a dizer é somente Obrigado.
Talvez nunca saberá da dimensão que tais palavras alcançam,em corações escuros como o meu.
Me conforta lembrar que a estrela maior decidiu vir ao meu mundo,pisar minha pisada,chorar a minha lágrima,e fazer ainda mais,carregando uma cruz que eu não suportaria em meus ombros.
Em tempos onde os homens que se dizem espirituais também adotaram para si a identidade de deuses,fica a boa lembrança de quando Deus decidiu ser homem.
Um ano de derrotas financeiras,de crise no relacionamento e de um forte abalo na saúde,eu não consegui 'determinar'muito bem o meu 2010.
Mas uma certeza ficou junto com as palavras do belo texto:O verbo se fez carne e habitou entre nós,e ainda continua sendo o Emanuel em minhas crises.
Deus conosco sempre,pois o rei veio a ser servo e o Criador como criatura.
Um Feliz Natal!
Daniel Dantas
Muito bom o texto... publiquei no meu blog com fonte e link para cá.
Deus lhe abençoe.
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