Não sei se você já prestou atenção, contudo, que nesta composição não há nenhuma referência a Deus, a Jesus, ao advento, ou a qualquer coisa que lembre o verdadeiro significado do Natal. A impressão que me dá quando a ouço é que ela está celebrando algo, mas isto não tem qualquer ligação com o título que a canção trás.
Você conhece o significado da expressão “zeitgeist”. Trata-se de um termo alemão que quer dizer “espírito do tempo” ou “espírito da época”. Na prática, “zeitgeist” é a síntese do pensamento intelectual e cultural do mundo num determinado momento, as características de um período da história da humanidade. Sua conceituação filosófica está construída, essencialmente, sobre a obra “Filosofia da História” de Friedrich Hegel.
Estou usando este conceito apenas para sedimentar o meu pensamento sobre um fenômeno que percebo acontecer em nossos dias: a paganização do Natal. Ouso afirmar que, para a grande maioria das pessoas, comemorar o Natal é festejar a paz, a felicidade, a harmonia, o perdão e a generosidade, assim como está dito na canção de Lennon. Tudo isto tem extraordinário valor e significado, mas não tem qualquer relação com o que, de fato, é intrínseco, imanente a esta celebração.
Natal tornou-se a época das confraternizações, de irmanarmo-nos com nossos semelhantes, de tornarmo-nos mais sensíveis, abertos a “percepções” espirituais. Natal é a festa do Papai Noel, da árvore enfeitada, da ceia com cardápio refinado, guloseimas das mais diversas, vinhos e espumantes. Natal é o momento de trocar presentes, de iluminar as casas, a cidade, de mandar cartões e enviar mensagens de otimismo, de amor e esperança.
Observando o processo, tenho a impressão de que, no mês de dezembro de cada ano, todos nós ficamos como que “possuídos” pelo “Espírito do Natal”. Na prática, é como se algo invadisse o inconsciente coletivo das pessoas, um fenômeno quase “materializável”, como um “ente” metafísico que ganha vida própria. A partir daí, esse “ente” passa, então, a influenciar e conduzir nossos sentimentos, pensamentos e ações. Em suma, esse tipo de “natal” transformou-se em algo como “zeitgeist”.
“Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus... esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens... Humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!". Fp. 2:5-8
Eis, de forma clara, o que significa Natal! Natal é a celebração da encarnação de Deus entre os homens na figura histórica de Jesus de Nazaré! Natal é a manifestação concreta de um amor indescritível, imensurável e incompreensível, da ação unilateral de um Deus apaixonado que, num ato de sacrifício extremo, resolve tornar-se um de nós, e isto com vistas a pacificar a nossa existência através da nossa reconciliação com o Criador.
Tristemente, tanto o Natal quanto a Páscoa, as duas mais importantes celebrações cristãs, esvaziam-se a cada ano em propósitos e significados, perdem sucessivamente, mesmo entre o povo dito de Deus, seus desdobramentos mais profundos. Fomos entorpecidos pelo “zeitgeist”; deixamo-nos “encantar” com presentes, comes e bebes, pirotecnia, luzes e festas, e esquecemo-nos de que, um dia, sob o céu estrelado da Palestina, na cidade de Belém, dentro de uma estrebaria, Deus tornava-se homem e constituía-se na única alternativa de reconduzir o homem até Deus.
Carlos Moreira
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